O Pontífice à Federação dos organismos cristãos de serviço internacional e voluntário

A fadiga de sair para encontrar e ajudar os outros

 A fadiga de sair  para encontrar e ajudar os outros  POR-047
24 novembro 2022

«O voluntariado é a fadiga de sair para ajudar os outros. Não há trabalho voluntário de escritório e nem um voluntariado televisivo. O voluntariado é sempre em saída, o coração aberto, a mão estendida, as pernas prontas para ir», disse o Papa Francisco, improvisando algumas palavras aos representantes da Federação dos organismos cristãos de serviço internacional e voluntário (Focsiv) recebidos em audiência a 14 de novembro, na Sala do Consistório.

Muito obrigado por esta visita, muito obrigado à Senhora pelas suas palavras. Este é o discurso que devo ler agora, mas é melhor que o leiais em casa, e que neste momento vos diga algo que me venha do coração, estais de acordo? Entrego-o à Presidente, ela encarrega-se de o dar a conhecer.

O voluntariado é uma das três coisas que encontrei na Itália como uma caraterística vossa, não o encontrei assim noutros lugares. As outras são os oratórios paroquiais, especialmente no norte, e as associações de ajuda económica, bancária, para que as pessoas tenham empréstimos e vão em frente, uma ajuda económica. Três coisas tipicamente italianas.

Começo pelo primeiro: o voluntariado. É uma das coisas mais belas. Porque cada um com a própria liberdade escolhe este caminho, que é um caminho de saída rumo aos outros, saída com a mão estendida, um caminho de saída para se ocupar dos outros. Deve-se fazer uma ação. Posso permanecer sentado, tranquilo, assistindo televisão ou a fazer outras coisas... Não, assumo esta fadiga de sair. O voluntariado é a fadiga de sair para ajudar os outros, é assim. Não há voluntariado de escritório e nem um voluntariado televisivo, não. O voluntariado é sempre em saída, o coração aberto, a mão estendida, as pernas prontas para sair. Sair para encontrar e sair para dar. Estas são as duas expressões que quero retomar.

Sair para encontrar. Vivemos numa civilização de confronto. As guerras são um grande confronto, e hoje ninguém duvida que vivemos a terceira guerra mundial: num século, um conflito atrás do outro, um atrás do outro... E nunca aprendemos, a nível mundial, mas também a nível pessoal. Com que frequência tomamos decisões baseadas no confronto: “Quem és tu?” — “Não, não sei quem sou, mas sou contra isto e contra aquilo”. A identidade de uma pessoa é ser contra, confrontar-se. Ao contrário, o caminho que propondes, que viveis, e que é uma verdadeira proposta cristã, é o encontro para resolver, para curar o confronto. Vivemos a civilização do conflito. É mais fácil dizer “sou contra isto, contra aquilo, contra o outro”, do que dizer “estou com”. Isso custa-nos mais fadiga. E vós saís para encontrar pessoas, para encontrar homens e mulheres que precisam de ajuda, que precisam de uma mão estendida, para caminharem juntos, com, e não contra.

Isto é o vosso voluntariado, e realizado sem retribuição; sim, talvez vos deem algo para o autocarro, o bilhete, mas nada mais. Sem salário, não para ganhar a vida, mas por vocação. E é um investimento do vosso tempo que torna fecunda a vida dos outros. Continuai neste caminho de voluntariado, é uma das riquezas da vossa cultura italiana.

Se há problemas — haverá sempre problemas, em todo o lado — os problemas não devem ser resolvidos como a avestruz que coloca a cabeça debaixo da terra, os problemas são resolvidos caminhando, indo, discutindo... Sim, discutir, faz bem! Por vezes uma boa discussão faz bem... E compreender-se bem, mas como irmãos, discutindo como irmãos, os bons irmãos sabem discutir bem. Lembro-me de uma vez — uma coisa de família — éramos cinco e o meu irmão, o segundo, zangou-se com o terceiro, ambos já casados, adultos, e disseram o pior um ao outro! Eu lá a ouvi-los, pensei: “Meu Deus, estes dois dizem-se tudo na cara!”. “Fizeste… és imbecil… tu és isto e aquilo…”. Tudo. Depois pararam. E o meu irmão disse: “Vou-me embora porque tenho que fazer... Até à vista, querida!” Um beijo e acabou. Os irmãos sabem discutir mas sem chegar ao ponto de destruir o essencial, que é o vínculo fraterno. Devemos agir assim, procurar a verdade, existem pontos de vista diferentes, discutimos, tudo bem, mas o que não pode ser tocado, permanece sempre, é a fraternidade. E o voluntariado é um hino à fraternidade, é um hino para ir em frente. Por isso continuai assim, para ajudar neste sentido, para ajudar dando uma mão às pessoas.

Era isto que vos queria dizer antes de conceder a bênção e saudar. Estou muito satisfeito com o que fazeis. Continuai, e que outras pessoas se unam a vós para realizar esta bonita obra de humanidade.

Obrigado!