Angelus — Com um clique o Papa Francisco inscreveu-se para a próxima JMJ

A oração é a força para a paz na Etiópia, Ucrânia
e em todo o mundo

 A oração é a força para a paz na Etiópia, Ucrânia e em todo o mundo  POR-043
27 outubro 2022

Com um clique no tablet trazido por alguns estudantes portugueses, o Papa Francisco inscreveu-se para a próxima Jornada mundial da juventude agendada para agosto em Lisboa. O gesto simbólico do Pontífice teve lugar na janela do Palácio apostólico do Vaticano, no final do Angelus recitado ao meio-dia de domingo, 23 de outubro, com os fiéis presentes na praça de São Pedro e com quantos o acompanhavam através dos meios de comunicação social. Na circunstância o Pontífice falou também do conflito em curso na Etiópia, fazendo votos por «um caminho concreto de reconciliação». Precedentemente, como de costume, o bispo de Roma introduziu a recitação da oração mariana com os fiéis presentes, oferecendo uma meditação sobre o Evangelho dominical (Lc 18, 9-14) — centrado nas figuras do fariseu e do publicano — e exortando a vigiar «sobre o narcisismo e o exibicionismo, fundados na vanglória».

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia de hoje apresenta-nos uma parábola que tem dois protagonistas, um fariseu e um publicano (cf. Lc 18, 9-14), ou seja, um homem religioso e um pecador confesso. Ambos sobem ao templo para rezar, mas só o publicano se eleva verdadeiramente a Deus, porque humildemente desce à verdade de si mesmo e se apresenta como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Poderíamos então dizer que a parábola se situa entre dois movimentos, expressos por dois verbos: subir e descer.

O primeiro movimento é subir. Na verdade, o texto começa dizendo: «Dois homens subiram ao templo para rezar» (v. 10). Este aspeto recorda muitos episódios da Bíblia, nos quais para encontrar o Senhor se sobe à montanha da sua presença: Abraão sobe a montanha para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe à montanha, onde é transfigurado. Portanto, subir exprime a necessidade do coração de se desligar de uma vida monótona para ir ao encontro do Senhor; de se erguer das planícies do nosso ego para ascender até Deus — livrar-se do próprio eu; de recolher o que vivemos no vale para o levar perante o Senhor. Isto é “subir”, e quando rezamos, ascendemos.

Mas para vivermos o encontro com Ele e sermos transformados pela oração, para nos elevarmos a Deus, precisamos do segundo movimento: descer. Porquê? O que significa isto? Para ascender até Ele devemos descer dentro de nós: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e as nossas pobrezas interiores. Com efeito, na humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimento, o que realmente somos, as limitações e feridas, os pecados, as misérias que pesam sobre o nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure, nos sare, nos levante. É Ele quem nos ergue, não nós. Quanto mais descermos com humildade, mais Deus nos elevará.

De facto, o publicano na parábola pára humildemente à distância (cf. v. 13) — não se aproxima, envergonha-se — pede perdão, e o Senhor eleva-o. Ao contrário, o fariseu exalta-se, seguro de si, convencido de que está bem: ali parado, começa a falar apenas de si mesmo ao Senhor, elogiando-se, enumerando todas as boas obras religiosas que pratica, e despreza os outros: “Não sou como aquele ali...”. Porque a soberba espiritual faz isso — “Mas padre, por que nos fala de soberba espiritual?”. Porque todos nós corremos o risco de cair nisto. Ela leva-nos a pensar que somos bons e a julgar os outros. Esta é a soberba espiritual: “Estou bem, sou melhor que os outros: isto é a tal coisa, aquele é a outra...”. E assim, sem nos darmos conta, adoramos o nosso eu e cancelamos o nosso Deus. É rodar em volta de si mesmo. É a oração sem humildade.

Irmãos, irmãs, o fariseu e o publicano dizem-nos respeito de perto. Pensando neles, olhemos para nós mesmos: verifiquemos se em nós, como o fariseu, existe «a íntima presunção de ser justo» (v. 9) que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando procuramos elogios e enumeramos sempre os nossos méritos e boas obras, quando nos preocupamos em aparecer em vez de ser, quando nos deixamos apanhar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos sobre o narcisismo e o exibicionismo, fundados na vanglória, que também nos leva a nós cristãos, a nós sacerdotes, a nós bispos, a ter sempre uma palavra nos lábios, qual palavra? “Eu”: “eu fiz isto, eu escrevi aquilo, eu disse, eu compreendi-o antes de vós”, e assim por diante. Onde há muito eu, há pouco Deus. Na minha terra estas pessoas são chamadas “eu-comigo para-mim só-eu”, este é o nome dessas pessoas. E uma vez falava-se de um sacerdote que era assim, centrado em si mesmo, e as pessoas brincavam, dizendo: “Ele quando faz a incensação, fá-la em volta de si, incensa-se”. Assim, faz com que caias até no ridículo.

Peçamos a intercessão de Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor, imagem viva do que o Senhor gosta de realizar, derrubando os poderosos dos tronos e elevando os humildes (cf. Lc 1, 52).

No final do Angelus, o Papa referiu-se ao Dia missionário mundial, celebrado no dia anterior, e recordou a beatificação em Madrid de mártires redentoristas assassinados por ódio à fé em 1936. Concluindo, saudou os presentes e, no início da experiência do novo governo na Itália, invocou unidade e paz para o país.

Prezados irmãos e irmãs!

Hoje celebramos o Dia Mundial das Missões, que tem como tema «Sereis minhas testemunhas». É uma ocasião importante para reavivar em todos os batizados o desejo de participar na missão universal da Igreja, através do testemunho e do anúncio do Evangelho. Encorajo todos a apoiar os missionários com a oração e a solidariedade concreta, para que possam continuar a obra de evangelização e de promoção humana em todo o mundo.

Abrem-se hoje as inscrições para a Jornada mundial da juventude que terá lugar em Lisboa, em agosto de 2023. Convidei dois jovens portugueses a estar aqui comigo enquanto me registo como peregrino. Fá-lo-ei agora... (clicou no tablet). Pronto, inscrevi-me. Tu, já te inscreveste? Fá-lo... E tu, já o fizeste? Fá-lo... Permanecei aqui. Queridos jovens, convido-vos a inscrever-vos neste encontro no qual, após um longo período de distância, redescobriremos a alegria do abraço fraterno entre os povos e entre as gerações, de que tanto precisamos!

Ontem, em Madrid, foram beatificados Vincenzo Nicasio Renuncio Toribio e onze companheiros da Congregação do Santíssimo Redentor, assassinados por ódio à fé em 1936, na Espanha. Que o exemplo destas testemunhas de Cristo, até ao derramamento de sangue, nos estimule a ser coerentes e corajosos; que a sua intercessão sustente quantos lutam hoje para semear o Evangelho no mundo. Um aplauso aos novos Beatos!

Com trepidação, acompanho a situação de conflito contínuo na Etiópia. Mais uma vez, repito com sincera preocupação que a violência não resolve a discórdia, mas apenas aumenta as suas trágicas consequências. Apelo aos responsáveis políticos para que ponham fim ao sofrimento da população indefesa e encontrem soluções equitativas para uma paz duradoura em todo o país. Que os esforços das partes para o diálogo e a busca do bem comum conduzam a um caminho concreto de reconciliação. Que as nossas orações, a nossa solidariedade e a ajuda humanitária necessária não faltem aos nossos irmãos etíopes, tão duramente provados.

Entristecem-me as inundações que estão a atingir vários países em África e que causaram morte e destruição. Rezo pelas vítimas e estou próximo dos milhões de deslocados, e espero que haja um maior esforço comum para prevenir estas calamidades.

E saúdo-vos a todos, romanos e peregrinos de vários países. Em particular, saúdo os clérigos e religiosos indonésios residentes em Roma; a comunidade peruana que celebra a festa do Señor de los Milagros; o Centro Académico Romano Fundación e o grupo da diocese polaca de Tarnow. Saúdo os fiéis de San Donà di Piave, Pádua, Pontedera e Molfetta; os jovens da crisma de Piacenza, o grupo “Tiberiade” de Carrobbio degli Angeli e o Movimento Não-Violento de Verona. E hoje, no início de um novo governo, rezemos pela unidade e paz da Itália.

Depois de amanhã, terça-feira 25 de outubro, irei ao Coliseu para rezar pela paz na Ucrânia e no mundo, juntamente com os representantes das Igrejas e Comunidades cristãs e das Religiões mundiais, reunidos em Roma para o encontro “O grito da paz”. Convido-vos a unir-vos espiritualmente a esta grande invocação a Deus: a oração é a força da paz. Rezemos, continuemos a rezar pela Ucrânia, tão martirizada.

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!