Audiência aos participantes no capítulo geral dos Oblatos de Maria Imaculada

Missionários da esperança entre os pobres

 Missionários da esperança entre os pobres  POR-041
13 outubro 2022

O convite a ser «testemunhas da esperança», deixando-se «evangelizar pelos pobres», foi dirigido pelo Papa aos participantes no capítulo geral dos missionários Oblatos de Maria Imaculada, recebidos em audiência a 3 de outubro, na Sala Clementina.

Estimados irmãos
bom dia e bem-vindos!

Sinto-me feliz por me encontrar convosco por ocasião do vosso Capítulo geral. Agradeço ao Superior-Geral — pobrezinho, tirado do deserto e trazido aqui para Roma! — pela sua introdução, desejando a ele e ao novo Conselho um trabalho sereno e frutuoso. E agradecemos ao Superior e aos Conselheiros que concluíram o seu serviço.

Sois uma Família religiosa dedicada à evangelização, e estais reunidos para discernir juntos o futuro da vossa missão na Igreja e no mundo. Escolhestes um tema desafiador para este Capítulo, muito semelhante ao escolhido para o próximo Jubileu da Igreja: “Peregrinos de esperança na comunhão”. É um tema que resume a vossa identidade nos caminhos do mundo, ao qual, como discípulos de Jesus e seguidores do vosso fundador Santo Eugénio de Mazenod, sois chamados a levar o Evangelho da esperança, da alegria e da paz. É um mundo que, embora aparente ter atingido objetivos que pareciam inalcançáveis, continua escravo do egoísmo e cheio de contradições e divisões. O grito da terra e o dos pobres, as guerras e os conflitos que derramam sangue sobre a história humana, a situação angustiante de milhões de migrantes e refugiados, uma economia que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, são alguns aspetos de um cenário onde só o Evangelho pode manter acesa a luz da esperança.

Escolhestes ser peregrinos, redescobrir e viver a vossa condição de caminhantes neste mundo, ao lado dos homens e mulheres, dos pobres e dos últimos da terra, aos quais o Senhor vos envia para anunciar o seu Reino. O vosso Fundador também foi um viandante, nas origens da vossa Família religiosa, quando caminhava com os seus primeiros companheiros pelas aldeias da sua Provença natal, pregando as missões populares e levando de novo a fé aos pobres que se tinham afastado dela e que até os ministros da Igreja tinham abandonado. É um drama quando os ministros da Igreja abandonam os pobres.

Peregrinos e caminhantes, sempre prontos a partir, como Jesus com os seus discípulos no Evangelho. Como congregação missionária, estais ao serviço da Igreja em 70 países de todo o mundo. A esta Igreja, que o Fundador vos ensinou a amar como mãe, ofereceis o vosso zelo missionário e a vossa vida, participando no seu êxodo para as periferias do mundo amado por Deus, e vivendo um carisma que vos conduz para os mais distantes, os mais pobres, aqueles aos quais ninguém chega. Ao percorrer este caminho com amor e fidelidade, vós, caros irmãos, prestais um grande serviço à Igreja.

Ouvistes a chamada a redescobrir a vossa identidade como sacerdotes e irmãos unidos pelos vínculos da consagração religiosa. Peregrinos da esperança, caminhais com o povo santo de Deus, vivendo a vossa vocação missionária em fidelidade, juntamente com os leigos e os jovens que partilham na Igreja o carisma do vosso santo Fundador e que desejam ser parte ativa da vossa missão. Santo Eugénio ensinou-vos a olhar para o mundo com os olhos do Salvador crucificado, este mundo por cuja salvação Cristo morreu na cruz.

Já dedicastes um dos vossos Capítulos gerais anteriores ao tema da esperança, quando sentistes uma particular chamada a ser testemunhas desta virtude num mundo que parece tê-la perdido e procura noutros lugares a fonte da sua felicidade. Ser missionários da esperança significa saber ler os sinais da sua presença escondida na vida diária das pessoas. Aprendei a reconhecer a esperança entre os pobres a quem sois enviados, que muitas vezes a conseguem encontrar no meio das situações mais difíceis. Deixai-vos evangelizar pelos pobres que evangelizais: eles ensinam-vos o caminho da esperança, para a Igreja e para o mundo.

Além disso, quereis ser testemunhas de esperança na comunhão. A comunhão hoje é um desafio do qual pode depender o futuro do mundo, da Igreja e da vida consagrada. Para sermos missionários de comunhão, devemos primeiro vivê-la entre nós, nas nossas comunidades e nas nossas relações uns com os outros, e depois cultivá-la com todos, sem exceção. Referistes-vos frequentemente durante o vosso Capítulo ao percurso eclesial deste tempo, que redescobre a beleza e a importância do “caminhar juntos”. Exorto-vos a serdes promotores de comunhão através de expressões de solidariedade, proximidade, sinodalidade e fraternidade com todos. Que o Bom Samaritano do Evangelho seja um exemplo e um incentivo para que vos torneis próximos de cada pessoa, com o amor e a ternura que o levaram a cuidar do homem despojado e ferido (cf. Lc 10, 29-37). Fazer-se próximo é um trabalho diário, porque o egoísmo puxa-te para dentro, puxa-te para baixo, fazer-se próximo é sair.

Neste Capítulo evocastes frequentemente o vosso compromisso a favor da casa comum, procurando traduzi-lo em decisões e ações concretas. Encorajo-vos a continuar a trabalhar nesta direção. A nossa mãe terra alimenta-nos sem pedir nada em troca; cabe a nós compreender que ela não pode continuar a fazê-lo se também nós não cuidarmos dela. Todos estes são aspetos dessa conversão para a qual o Senhor nos chama continuamente. Voltar ao Pai comum, voltar à fonte, voltar ao primeiro amor que vos levou a deixar tudo para seguir Jesus: eis a alma da consagração e da missão!

Que o vosso Fundador, o carisma que vos transmitiu e a sua visão missionária sejam e permaneçam pontos de referência para a vossa vida e obra; para permanecerdes radicados na vossa vocação missionária, sobretudo vivendo o testamento do Fundador, no amor recíproco entre vós e no zelo pela salvação das almas. É o coração da vossa missão e o segredo da vossa vida, e por isso a Igreja ainda precisa de vós. No imenso campo da missão que é o mundo inteiro, que Jesus seja sempre o vosso modelo, como foi para Santo Eugénio. Ele, diante do Salvador crucificado, decidiu um dia oferecer a sua vida para que todos, especialmente os pobres, pudessem experimentar o mesmo amor de Deus que o tinha reconduzido ao caminho da fé.

Este ano celebrastes a memória de uma graça especial que Santo Eugênio recebeu há dois séculos da imagem de Nossa Senhora Imaculada na igreja da missão em Aix-en-Provence. Isto renova-vos o convite para ter Maria como companheira de viagem, para que ela vos acompanhe sempre na vossa peregrinação. Maria peregrina, Maria a caminho, Maria que se levantou à pressa para ir e servir. Depois de dizer o seu “sim” a Deus através do arcanjo Gabriel, partiu à pressa para ir ter com a sua prima Isabel, para partilhar o dom e para se colocar ao seu serviço. Que Maria seja também um exemplo para vós, para a vossa vida e para a vossa missão.

Prezados irmãos, desejo-vos uma boa conclusão do Capítulo e acompanho-vos com as minhas orações. De coração abençoo vós e todos os vossos irmãos, especialmente os que estão doentes e os mais frágeis e os que se encontram em dificuldades neste momento. E vós também, por favor, rezai por mim. Obrigado!