Aos peregrinos que vieram para a canonização de Scalabrini o Pontífice pediu que anteponham a fraternidade à rejeição e à indiferença

Ao passo com os últimos

 Ao passo com os últimos  POR-041
13 outubro 2022

«Se estivermos ao passo com os últimos, todos caminharão juntos. Esta é uma regra de sabedoria... estar sempre ao passo com os últimos», recomendou o Papa Francisco aos peregrinos que vieram para a canonização de João Batista Scalabrini. Recebendo-os na manhã de 10 de outubro na sala Paulo vi, o Pontífice exortou-os a «antepor a fraternidade à rejeição» e a «solidariedade à indiferença».

Prezados irmãos e irmãs
bom dia e bem-vindos!

Todos em festa, não é verdade? Agradeço ao Padre Chiarello as palavras de saudação e apresentação. É com prazer que posso estar um pouco convosco, que ontem participastes na Celebração Eucarística e na Canonização do Beato João Batista Scalabrini. Sois uma assembleia muito diversificada — isto é bom! — há os missionários, as religiosas missionárias, as missionárias seculares e os leigos scalabrinianos; há os fiéis das dioceses de Como e de Piacenza; e além disso há migrantes de muitos países, uma bonita “salada de fruta”, e isto é bom! Deste modo, representais bem a amplitude do trabalho do bispo Scalabrini, a abertura do seu coração, para o qual, por assim dizer, não era suficiente uma diocese.

O seu apostolado a favor dos emigrantes italianos foi de grande relevância. Naquela época, milhares deles partiam para as Américas. D. Scalabrini fitava-os com o olhar de Cristo, do qual nos fala o Evangelho; por exemplo, Mateus escreve assim: «Vendo a multidão, encheu-se de compaixão, porque estava cansada e oprimida, como ovelhas sem pastor» (9, 36). E preocupou-se, com grande caridade e inteligência pastoral, em prestar-lhe uma adequada assistência material e espiritual.

Ainda hoje, as migrações constituem um desafio muito relevante. Elas põem em evidência a urgente necessidade de antepor a fraternidade à rejeição, a solidariedade à indiferença. Hoje, cada batizado é chamado a refletir o olhar de Deus sobre os irmãos e irmãs migrantes e refugiados — são numerosos! — a deixar que o seu olhar alargue o nosso, graças ao encontro com a humanidade a caminho, através de uma proximidade concreta, segundo o exemplo do bispo Scalabrini.

Hoje somos chamados a viver e propagar a cultura do encontro, um encontro em termos de igualdade entre os migrantes e as pessoas do país que os recebe. Trata-se de uma experiência enriquecedora, uma vez que revela a beleza da diversidade. E é também fecunda, pois a fé, a esperança e a tenacidade dos migrantes podem servir de exemplo e de estímulo para quantos querem comprometer-se na construção de um mundo de paz e bem-estar para todos. E a fim de que seja para todos, como bem sabeis, é preciso começar pelos últimos: se não começarmos pelos últimos, não será para todos. Como nas excursões de montanha: se os primeiros correrem, o grupo dissolve-se, e em pouco tempo os primeiros sucumbirão; ao contrário, se forem ao passo com os últimos, todos caminharão juntos. Esta é uma regra de sabedoria. Quando caminharmos, quando peregrinarmos, devemos seguir sempre o ritmo dos últimos.

Para fazer crescer a fraternidade e a amizade social, todos somos chamados a ser criativos, a pensar fora dos esquemas. Somos chamados a abrir novos espaços, onde a arte, a música e o estar juntos se tornem instrumentos de dinâmicas interculturais, onde poder saborear a riqueza do encontro das diversidades.

Por isso, exorto-vos, missionárias e missionários scalabrinianos, a deixar-vos sempre inspirar pelo vosso santo fundador, pai dos migrantes, de todos os migrantes. O seu carisma renove em vós a alegria de estar com os migrantes, de permanecer ao seu serviço e de o fazer com fé, animados pelo Espírito Santo, na convicção de que em cada um deles encontramos o Senhor Jesus. E isto ajuda-vos a ter o estilo de uma gratuidade generosa, a não poupar recursos físicos nem económicos para promover os migrantes de maneira integral; e também vos ajuda a trabalhar em comunhão de intenções, como família, unidos na diversidade.

Caros irmãos e irmãs, a santidade de João Batista Scalabrini nos “contagie” com o desejo de ser santos, cada qual de modo original e único, como nos fez e nos quer a infinita fantasia de Deus. E que a sua intercessão nos conceda a alegria e a esperança de caminhar juntos rumo à nova Jerusalém, que é uma sinfonia de rostos e de povos, rumo ao Reino de justiça, de fraternidade e de paz.

Obrigado por terdes vindo compartilhar a vossa festa! Abençoo-vos de coração, assim como todos os vossos companheiros de caminho onde viveis. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.

Obrigado!