Texto entregue

Chamados a escrever histórias de redenção nas páginas do nosso tempo

  Chamados a escrever histórias de redenção  nas páginas do nosso tempo  POR-040
06 outubro 2022

Um convite a «escrever histórias de redenção nas páginas do nosso tempo» estava contido no discurso que foi entregue aos participantes no capítulo geral da congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas).

Prezados irmãos e irmãs,
bom dia e bem-vindos!

Saúdo com alegria todos os missionários redentoristas presentes nos 85 países em que trabalha a Congregação do Santíssimo Redentor. Saúdo também quantos se encontram no caminho da formação, as religiosas redentoristas, toda a família carismática e os leigos associados à missão. Saúdo-vos com afeto e agradeço ao novo Superior-Geral, Padre Rogério Gomes, as palavras que me dirigiu.

Celebrar um Capítulo Geral não é uma formalidade canónica. Significa viver um Pentecostes, que tem a capacidade de renovar tudo (cf. Ap 21, 5). No Cenáculo, os discípulos de Jesus tinham dúvidas, inseguranças, receios, queriam ficar parados e protegidos; mas o Espírito que sopra onde quer (cf. Jo 3, 8) impele-os a mover-se, a sair, a ir às periferias para levar o kerygma, a Boa Nova.

Nestes dias abordais cinco temas importantes para a vossa Congregação: identidade, missão, vida consagrada, formação e governo. São temas fundamentais, inter-relacionados, para repensar o vosso carisma à luz dos sinais dos tempos. Este discernimento comunitário enraíza-se na capacidade que cada um de vós tem de procurar o mistério de Cristo Redentor, que é a razão da vossa consagração e do vosso serviço aos homens e mulheres que vivem nas periferias existenciais da nossa história de hoje. Arraiga-se na fecundidade do carisma afonsiano, como seiva que alimenta a vida espiritual e a missão de cada um, fazendo-a florescer. Encorajo-vos a ousar, tendo como único confim o Evangelho e o Magistério da Igreja. Não tenhais medo de trilhar novos caminhos, de dialogar com o mundo (cf. Const. 19), à luz da vossa rica tradição de teologia moral. Não tenhais medo de sujar as mãos ao serviço dos mais necessitados e das pessoas que não contam.

Nas vossas Constituições há uma expressão muito bonita, onde se lê que os Redentoristas estão dispostos a enfrentar todas as provações para levar a redenção de Cristo a todos (cf. n. 20). Disponibilidade. Não demos por certa esta palavra! Significa dedicar-se inteiramente à missão, com todo o coração, dies impendere pro redemptis, até às últimas consequências, com o olhar fixo em Jesus que, «sendo de condição divina [...] aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens» (Fl 2, 6-7); e tornou-se um bom samaritano, um servo (cf. Lc 10, 25-37; Jo 13, 1-15).

Irmãos e irmãs, a Igreja e a vida consagrada estão a viver um momento histórico único, no qual têm a oportunidade de se renovar para responder com fidelidade criativa à missão de Cristo. Esta renovação passa por um processo de conversão do coração e da mente, de intensa metanoia, e também por uma mudança de estruturas. Às vezes devemos quebrar as velhas ânforas (cf. Jo 4, 28), herdadas das nossas tradições, que trouxeram muita água, mas que já cumpriram a sua função. E quebrar as nossas ânforas, cheias de afetos, usos culturais, histórias, não é uma tarefa fácil, é dolorosa mas necessária, se quisermos beber a nova água que jorra da fonte do Espírito Santo, nascente de toda a renovação. Quem permanece apegado às próprias seguranças corre o risco de cair na esclerocardia, que impede a ação do Espírito no coração humano. Ao contrário, não devemos pôr obstáculos à ação renovadora do Espírito, em primeiro lugar nos nossos corações e nos nossos estilos de vida. Só assim nos tornaremos missionários de esperança!

As vossas Constituições afirmam: «A Congregação, preservando sempre o seu carisma, deve adaptar as suas estruturas e instituições às exigências do ministério apostólico e às exigências peculiares de cada missão» (n. 96). «Vinho novo em odres novos» (Mc 2, 22). «Uma renovação incapaz de tocar e mudar as estruturas e o coração não leva a uma mudança real e duradoura. [...] Requer a abertura, para imaginar formas de seguimento profético e carismático, vividas em esquemas adequados e talvez inéditos».1

Neste processo de reimaginar e renovar a Congregação, não podem ser esquecidos três pilares fundamentais: a centralidade do mistério de Cristo, a vida comunitária e a oração. O testemunho e os ensinamentos de Santo Afonso exortam-vos continuamente a “permanecer no amor” do Senhor. Sem Ele nada podemos fazer; permanecendo n’Ele daremos fruto (cf. Jo 15, 1-9). O abandono da vida comunitária e da oração é a porta da esterilidade na vida consagrada, a morte do carisma e o fechamento aos irmãos. Ao contrário, a docilidade ao Espírito de Cristo impele a evangelizar os pobres, segundo o anúncio do Redentor na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4, 14-19), concretizado na congregação por Santo Afonso Maria de Ligório. Esta missão, levada a cabo pelos vossos santos, mártires, beatos e veneráveis, leva os Redentoristas de todo o mundo a dar a vida pelo Evangelho e a escrever histórias de redenção nas páginas do nosso tempo.

Desejo ao novo Governo Geral, primeiro organismo de animação da vida apostólica da Congregação, humildade, unidade, sabedoria e discernimento para guiar o vosso Instituto neste momento bonito e desafiador da nossa história. A obra é do Senhor, nós somos apenas servos que fizeram o que deviam fazer (cf. Lc 17, 10). Quem se apropria da função de leadership por interesse pessoal não serve o Senhor que lavou os pés aos discípulos, mas os ídolos da mundanidade e do egoísmo.

Caros irmãos, confio a vossa Congregação à salvaguarda da Mãe do Perpétuo Socorro, a fim de que vos acompanhe sempre, como acompanhou o seu Filho aos pés da cruz (cf. Jo 19, 25). Não estais sozinhos, sede filhos amados e amparados. Rezo ao Senhor para que possais ser fiéis e perseverantes na vossa missão, sem nunca vos esquecerdes dos mais pobres e abandonados que servis, e aos quais proclamais a Boa Nova da Redenção. Abençoo-vos de coração, bem como as irmãs e os fiéis leigos que compartilham o vosso carisma. E peço-vos, por favor, que oreis por mim. Obrigado!

1 Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Para vinho novo, odres novos. A partir do Concílio Vaticano ii , a vida consagrada e os desafios ainda abertos (6 de janeiro de 2017), n. 3.