Francisco apresentou o serviço do «Fundo Populorum Progressio»

Uma obra «samaritana»
da caridade do Papa

 Uma obra «samaritana»  da caridade do Papa  POR-038
22 setembro 2022

Ao serviço dos pobres da América Latina


«Desejo manifestar a minha gratidão a todos aqueles que, ao longo destes trinta anos, trabalharam para a Fundação “Populorum progressio”, que agora muda de forma mas — quero sublinhá-lo — mantém a sua missão e permanece uma obra da caridade do Papa», ao serviço da América Latina, disse o Pontífice recebendo em audiência, na manhã de 16 de setembro, na Biblioteca particular do Palácio apostólico do Vaticano, os membros do conselho de administração da Fundação, que a partir de hoje passa a ser Fundo. Eis o discurso de Francisco.

Estimados irmãos e irmãs,
bom dia e bem-vindos!

Agradeço a D. del Río a sua introdução; saúdo D. Cabrejos, Presidente do celam , e a Irmã Alessandra Smerilli, Secretária do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral; e saúdo cada um e cada uma de vós!

No dia 26 de março de 1969, data do segundo aniversário da sua Encíclica Populorum progressio, São Paulo vi instituiu um Fundo para ajudar os camponeses pobres e para promover a reforma agrária, a justiça social e a paz na América Latina, de acordo com as orientações oferecidas pelos Episcopados daquele Continente.

Em 1992, por ocasião do quinto centenário do início da evangelização do Continente americano, reuniu-se a iv Assembleia Geral do Episcopado Latino-Americano, e nessa circunstância São João Paulo ii quis instituir uma Fundação autónoma «Populorum Progressio» destinada a promover o desenvolvimento integral das comunidades camponesas mais pobres da América Latina. Assim escrevia: «Este tenciona ser um gesto do amor solidário da Igreja para com aqueles que se encontram no abandono e são mais necessitados de proteção, tais como as populações indígenas, mestiças e afro-americanas [...] A Fundação está disposta a colaborar com todos aqueles que, conscientes da condição de sofrimento dos povos latino-americanos, desejem contribuir para o seu desenvolvimento integral, assegurando que a doutrina social da Igreja encontre uma aplicação justa e oportuna» (Quirógrafo para a instituição da Fundação «Populorum Progressio», 13 de fevereiro de 1992).

Desejo manifestar a minha gratidão a todos aqueles que, ao longo destes trinta anos, trabalharam para esta Fundação, que agora muda de forma mas — quero sublinhá-lo — mantém a sua missão e permanece uma obra da caridade do Papa.

Muitas famílias na América Latina e no Caribe sobrevivem em condições sub-humanas. Como ressalta o Documento final de Aparecida, «os excluídos não são somente “explorados”, mas “supérfluos” e “descartáveis”» (n. 65). A Assembleia eclesial do Continente, que ainda está em desenvolvimento, constituiu uma oportunidade para ouvir o grito dos pobres, e o Sínodo sobre a Amazónia aproximou-nos da realidade de exclusão em que vivem as comunidades indígenas e afrodescendentes. Os quatro sonhos que eu quis partilhar com a Amazónia estendem-se a todo o Continente e a toda a humanidade. É necessário que «diante das várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e de amizade social que não se limite às palavras» (Enc. Fratelli tutti, 6).

Percorrendo o caminho sinodal, devemos crescer como Igreja “samaritana” que consola, se compromete e se debruça para tocar as chagas da carne sofredora de Cristo no povo (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 24). Ele quis identificar-se com os mais pobres e marginalizados, oferecendo-nos a sua presença misericordiosa neles (cf. Mt 25, 31-46).

O nosso desejo é que estas iniciativas de solidariedade demonstrem que é possível mudar, que a realidade não está bloqueada. Se forem empreendidas com sabedoria e coerência, serão um sinal que esperamos que possam motivar muitos.

A reforma da Cúria Romana que levamos em frente, e que encontrou expressão na Praedicate Evangelium, confronta-nos com uma série de mudanças necessárias. Entre elas, a que diz respeito à Fundação Populorum Progressio, que completa 30 anos e serviu a causa dos pobres do Continente, segundo a vontade de São Paulo vi , confirmada por São João Paulo ii . Neste contexto, é necessário promover um vínculo mais forte com as Igrejas locais, a fim de tornar mais eficazes os programas de desenvolvimento integral nas comunidades indígenas e afrodescendentes mais negligenciadas, mergulhadas na miséria e no desânimo.

Os pobres não devem ser vistos como destinatários de uma obra de beneficência. Devem ser parte ativa do discernimento das necessidades mais urgentes. «Não precisamos de um projeto de poucos para poucos, nem de uma minoria esclarecida ou testemunhal que se aproprie de um sentimento coletivo» (Evangelii gaudium, 239). É importante libertar-nos de mentalidades paternalistas, que alargam a lacuna entre aqueles que são chamados a formar uma única família.

Já João Paulo ii , na sua Mensagem para o 10º aniversário da Fundação, salientou que «é digno de nota o facto de que as Igrejas particulares da América Latina também participem no financiamento de tais projetos. Além disso, uma caraterística do trabalho da Fundação é que as pessoas que têm a responsabilidade de aprovar os projetos e de decidir a distribuição dos fundos provêm das mesmas regiões em que as iniciativas são realizadas» (14 de junho de 2002).

Por estas razões, desejando que a ajuda ao desenvolvimento de projetos continue a ser expressão da caridade do Papa, mas não tenha o seu centro na Cúria Romana, e também na linha da simplificação, confiei ao celam a tarefa de nos ajudar na análise dos projetos e na sua implementação. O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral manterá a responsabilidade pela administração do Fundo, que estará vinculado ao serviço desta missão.

Como dizia Bento xvi aos participantes na reunião do Conselho de Administração da Fundação «Populorum Progressio», a 14 de junho de 2007, «esta obra, empreendida há quinze anos, deve continuar a seguir os princípios que distinguiram o seu compromisso a favor da dignidade de cada ser humano e da luta contra a pobreza».

Renovo o meu grato apreço a todos aqueles que prestaram o seu serviço na Fundação. E desejo também manifestar gratidão aos organismos internacionais que colaboraram, enquanto os encorajo a dar continuidade a este compromisso.

Na Visitação, a Virgem Maria apresenta-se a nós solícita e atenciosa, enquanto se põe ao serviço. Que Ela nos fomente, com o seu carinho e ternura de mãe, a estar perto dos mais pobres e dos esquecidos, que Deus certamente não esquece.

Caros irmãos e irmãs, agradeço-vos o vosso compromisso. Abençoo-vos de coração e acompanho-vos com a minha oração. E também vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim!