Prémio de jornalismo ao prefeito Paolo Ruffini

Nenhuma paz com a lógica do conflito

 Nenhuma paz com a lógica do conflito  POR-037
15 setembro 2022

«O Papa recorda-nos que a guerra não é uma solução para a paz. Francisco disse que há um agressor, afirmou que este conflito é um sacrilégio, usou palavras muito duras. Nalgum momento precisará fazer a paz? Sim. Seria bom pensarmos numa forma de a encontrar, antes que as pessoas morram e não apenas na linha da frente»: assim Paolo Ruffini relançou os apelos do Pontífice a pôr fim aos bombardeamentos na Ucrânia. O prefeito do Dicastério para a comunicação pronunciou-se a 9 de setembro, no Festival dos jornalistas do Mediterrâneo, que se concluiu em Otranto no dia 10 com a atribuição dos prémios “Caravella” de 2022. Receberam-no o próprio Paolo Ruffini e, entre outros, as correspondentes de guerra Gabriella Simoni e Stefania Battistini.

Numa Otranto candidata a tornar-se capital italiana da cultura de 2025, na manifestação que carateriza o fim do verão na Apúlia há 14 anos, os vários relatores que intervieram voltaram a confrontar-se sobre o conflito na Europa oriental iniciado há já duzentos dias. Analisando as consequências globais, incluindo as económicas, o prefeito do Dicastério para a comunicação confidenciou: «Hoje ouvi um sacerdote que, na Serra Leoa, deu início a um sistema de primeiros socorros, de ambulâncias, que funcionava 365 dias por ano. Agora, devido a aumentos de preços, as ambulâncias funcionam oito dias por mês. Os outros 22 não». Então, Paolo Ruffini perguntou se «há uma maneira de dizer que os equilíbrios baseados na dissuasão não durarão»; se «há um modo de construir a paz trabalhando sobre a cultura, o pensamento, com diplomacia e não pensando que a paz só é alcançada com a guerra». Além disso, observou, isto já o «disseram os predecessores de Francisco, penso por exemplo na Pacem in Terris de João xxiii . Talvez haja outras soluções, não é uma utopia. Soluções que sejam ditadas pela bondade, e não pelo interesse».

Sucessivamente, uma menção ao papel da Santa Sé no fórum internacional: ela, observou o prefeito, «tem uma grande diplomacia que está em ação e repete que há sempre um caminho» de diálogo. «Depois — prosseguiu — há uma outra dimensão, que é aquela de ver para além do hoje, construir hoje. A guerra causará uma terrível deterioração também sob o ponto de vista da ecologia. Sobre isto o Papa não fala apenas aos governos, mas aos povos. Se cada pessoa não se sentir chamada a um compromisso, acabaremos por pensar que tudo é um Risiko. Não é assim! Bento xvi falava do realismo da não-violência, do realismo do diálogo. Estas — concluiu o prefeito — são as duas dimensões: a diplomática, penso no desarmamento; e a do falar a todos os homens e mulheres de boa vontade, crentes e não».

Andrea De Angelis