Homens e mulheres de coração inquieto que procuram Deus

 Homens e mulheres de coração inquieto que procuram Deus  POR-037
15 setembro 2022

«Quem ama preocupa-se por quem falta, sente nostalgia de quem está ausente, procura aquele que se perdeu, espera por aquele que se afastou», disse o Papa Francisco — no Angelus de 11 de setembro recitado com os numerosos fiéis presentes na praça de São Pedro — comentando o Evangelho do dia, sobre as três “parábolas da misericórdia”.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho da Liturgia de hoje apresenta-nos as três parábolas da misericórdia (cf. Lc 15, 4-32); chamam-se assim porque mostram o coração misericordioso de Deus. Jesus narra-as em resposta às murmurações dos fariseus e dos escribas, que dizem: «Este acolhe os pecadores e come com eles» (v. 2). Escandalizavam-se porque Jesus estava entre os pecadores. Se para eles isto é religiosamente escandaloso, Jesus, acolhendo os pecadores e comendo com eles, revela-nos que Deus é exatamente assim: Deus não exclui ninguém, deseja todos no seu banquete, porque Ele ama todos como filhos, todos, sem excluir ninguém, todos. As três parábolas, então, resumem o coração do Evangelho: Deus é Pai e vem procurar-nos cada vez que nos perdemos.

Na verdade, os protagonistas das parábolas, representando Deus, são um pastor que procura a ovelha perdida, uma mulher que encontra a moeda perdida, e o pai do filho pródigo. Reflitamos sobre um aspeto comum a estes três protagonistas. No fundo, os três têm um aspeto comum, que poderíamos definir como: a inquietação pela falta — faltam as ovelhas, falta a moeda, falta o filho — a inquietação pela falta, os três nestas parábolas estão inquietos porque lhes falta algo. Afinal, os três, se fizessem alguns cálculos, poderiam estar tranquilos: ao pastor falta uma ovelha, mas tem outras noventa e nove — “Que se perca...”; a mulher, uma moeda, mas tem outras nove; e também o Pai tem outro filho, obediente, a quem se dedicar: por que pensar naquele que partiu para uma vida dissoluta? Em vez disso, nos seus corações — o do pastor, o da mulher e o do pai — há a preocupação pelo que falta: a ovelha, a moeda, o filho que foi embora. Quem ama preocupa-se por quem falta, sente nostalgia de quem está ausente, procura aquele que se perdeu, espera por aquele que se afastou. Pois deseja que ninguém se perca.

Irmãos e irmãs, Deus é assim: Ele não está “tranquilo” se nos afastarmos d’Ele, sofre, freme no íntimo; e põe-se em movimento para ir à nossa procura, até nos reconduzir aos seus braços. O Senhor não calcula as perdas e os riscos, tem um coração de pai e de mãe, e sofre pela falta dos filhos amados. “Mas por que sofre se este filho é um desventurado, foi embora?”. Sofre, sofre. Deus sofre pela nossa distância, e quando nos desviamos, espera o nosso regresso. Lembremo-nos: Deus está sempre à nossa espera de braços abertos, seja qual for a situação da vida em que estamos perdidos. Como diz um salmo, Ele não dorme, Ele vela sempre sobre nós (cf. 121, 4-5).

Olhemos agora para nós mesmos e perguntemo-nos: imitamos o Senhor nisto, será que temos a inquietação da falta? Sentimos nostalgia por aqueles que estão ausentes, por aqueles que se afastaram da vida cristã? Carregamos esta inquietação interior, ou permanecemos serenos e sem perturbações entre nós? Por outras palavras, quem falta nas nossas comunidades, será que nos falta realmente, ou estamos a fingir e não nos comovemos no coração? Quem falta na minha vida, falta concretamente? Ou estamos bem entre nós, tranquilos e felizes nos nossos grupos — “frequento um grupo apostólico muito bom...” — sem nutrir compaixão por aqueles que estão longe? Não se trata apenas de estarmos “abertos aos outros”, é Evangelho! O pastor da parábola não disse: “Já tenho noventa e nove ovelhas, quem me faz ir à procura da perdida e desperdiçar o meu tempo?”. Em vez disso, ele foi. Reflitamos então sobre as nossas relações: rezo por quem não crê, por quem está distante, por quem está amargurado? Atraímos os distantes através do estilo de Deus, que é a proximidade, a compaixão e a ternura? O Pai pede-nos que estejamos atentos aos filhos dos quais sente falta. Pensemos numa pessoa que conhecemos, que nos está próxima, e que talvez nunca tenha ouvido ninguém dizer-lhe: “Sabes? Tu és importante para Deus”. “Mas eu estou numa situação irregular, fiz esta coisa má, e outra ainda...” — “És importante para Deus”, dizei-o, “não o procuras, mas Ele procura-te”.

Deixemo-nos inquietar — que sejamos homens e mulheres de coração inquieto — deixemo-nos inquietar com estas perguntas e rezemos a Nossa Senhora, mãe que nunca se cansa de nos procurar e de cuidar de nós, seus filhos.

«Peço a todos que acompanhem com a oração» a peregrinação de diálogo e paz ao Cazaquistão, que começa na terça-feira e termina após três dias. O convite do Papa Francisco no final do Angelus, ao saudar os fiéis presentes, pedindo para rezar pelo povo ucraniano e recordou a religiosa comboniana assassinada em Moçambique.

Prezados irmãos e irmãs!

Depois de amanhã partirei para uma viagem de três dias ao Cazaquistão, onde participarei no Congresso dos Chefes das religiões mundiais e tradicionais. Será uma ocasião para encontrar tantos representantes religiosos e dialogar como irmãos, animados pelo desejo comum de paz, paz da qual o nosso mundo tem sede. Desde já gostaria de transmitir uma cordial saudação aos participantes, assim como às Autoridades, às comunidades cristãs e a toda a população daquele vastíssimo país. Agradeço pelos preparativos e pelo trabalho realizado em vista da minha visita. Peço a todos que acompanhem com a oração esta peregrinação de diálogo e paz.

Continuemos a rezar pelo povo ucraniano, a fim de que o Senhor lhe conceda conforto e esperança. Nestes dias, o Cardeal Krajewski, Prefeito do Dicastério para o Serviço da Caridade, encontra-se na Ucrânia para visitar várias comunidades e dar um testemunho concreto da proximidade do Papa e da Igreja.

Neste momento de oração, desejo recordar a irmã Maria de Coppi, Missionária Comboniana, morta em Chipene, Moçambique, onde serviu com amor durante quase sessenta anos. Que o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano.

Gostaria também de dirigir uma saudação especial ao querido povo da Etiópia, que hoje celebra o seu tradicional Ano Novo: asseguro-lhes as minhas orações e desejo a cada família e a toda a nação o dom da paz e da reconciliação.

E não nos esqueçamos de rezar pelos estudantes, que amanhã ou depois de amanhã recomeçam a escola.

E agora saúdo todos vós, romanos e peregrinos de vários países: famílias, grupos paroquiais, associações. Em particular, saúdo os militares da Colômbia, o grupo proveniente da Costa Rica e a representação feminina da Argentina no Fórum Económico Mundial. Saúdo os jovens da profissão de fé de Cantù, os fiéis de Musile di Piave, Ponte a Tressa e Vimercate, e os membros do Movimento Não Violento e os jovens da Imaculada.

Desejo-vos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!