Mensagem por ocasião do Dia internacional da alfabetização

Educar é um ato de esperança

 Educar  é um ato de esperança  POR-037
15 setembro 2022

Publicamos o texto da mensagem — assinada pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin — enviado pelo Papa à diretora-geral da Unesco por ocasião do Dia internacional da alfabetização, celebrado a 8 de setembro.

Senhora Audrey Azoulay
Diretora-Geral
da Unesco
Paris

Por ocasião do Dia Internacional da Alfabetização de 2022, Sua Santidade o Papa Francisco encarregou-me de transmitir as suas cordiais saudações e o encorajamento a todos aqueles que na Unesco trabalham em prol da alfabetização. Deseja o pleno sucesso das reflexões e dos trabalhos deste dia, para que deem bons frutos para uma eficaz e duradoura transformação dos espaços de aprendizagem da alfabetização.

O nosso mundo está em constante transformação; está a passar por múltiplas crises. O Papa Francisco fala de uma metamorfose que não é apenas cultural, mas também antropológica, que gera novas linguagens e rejeita, sem discernimento, os paradigmas que a história nos oferece.1

Pois bem, cada mudança requer um caminho educativo que envolva todos. Por isso é necessário construir uma «aldeia da educação» na qual se partilhe, na diversidade, o compromisso de criar uma rede de relações humanas e abertas. Um provérbio africano diz que «é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança».2 Neste sentido, o Santo Padre sublinha que é necessário assinar um pacto que dê alma aos processos educativos formais e informais, que não podem ignorar o facto de que tudo está intimamente interligado no mundo e que é necessário encontrar, segundo uma antropologia saudável, outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso. Num percurso de ecologia integral, o valor específico de cada criatura é colocado no seu devido lugar, em relação com as pessoas e a realidade que a rodeia, e é proposto um estilo de vida que rejeita a cultura do descarte.3

Em continuidade com o discurso proferido pelo Papa João Paulo ii na unesco , a 2 de junho de 1980, o Papa Francisco espera fervorosamente uma educação e alfabetização cujo principal objetivo seja construir um mundo à medida do homem, sujeito primordial e fundamental da educação, que deve ser considerado nas suas aspirações materiais, culturais e espirituais, bem como na sua relação com os outros, com a comunidade, com a natureza e com o seu âmbito vital.

O Papa exorta-nos a encontrar uma convergência mundial em vista de uma educação portadora de uma aliança entre todas as componentes da pessoa: entre estudo e vida; entre gerações; entre professores, estudantes, famílias e sociedade civil, de acordo com as suas expressões intelectuais, científicas, artísticas, desportivas, políticas, empreendedoras e solidárias. Uma aliança entre os habitantes da Terra e a «casa comum», que devemos salvaguardar e respeitar. Uma aliança que gere paz, justiça e aceitação entre todos os povos da família humana, bem como o diálogo entre religiões.4

Neste período de pandemia e guerra, o Santo Padre lembra-nos que educar é sempre um ato de esperança que convida à comparticipação e à transformação da lógica estéril e paralisante da indiferença numa lógica capaz de acolher a nossa pertença comum. Se os espaços educativos de hoje se conformassem com a lógica da substituição e da repetição, incapazes de gerar e mostrar novos horizontes em que a hospitalidade, a solidariedade intergeracional e o valor da transcendência encontrassem uma nova cultura, não estaríamos a perder o encontro marcado com este momento histórico?5

Estudos e análises do impacto da Covid-19 na aprendizagem dos adultos e na alfabetização parecem confirmar que, em muitos países, os educadores provêm frequentemente de outros sectores diferentes do ensino escolar e são professores comunitários ou voluntários, que têm situações contratuais precárias, o que contribui para tornar este sector pouco atraente, particularmente para os jovens que querem tornar-se professores.

Manifestando a esperança de que as reflexões e os esforços para a transformação dos espaços de aprendizagem da alfabetização possam contribuir para construir uma civilização da harmonia, da unidade, da solidariedade, da fraternidade e de uma paz duradoura, o Santo Padre invoca sobre si, sobre os países membros da Unesco e sobre os colaboradores da ilustre Organização da qual é Diretora-Geral, as Bênçãos do Altíssimo.

Cardeal Pietro Parolin

Secretário de Estado de Sua Santidade

1. Papa Francisco, Mensagem por ocasião do lançamento do Pacto educativo, 12 de setembro de 2019.

2. Cf. Ibidem.

3. Cf. Ibidem.

4. Cf. Ibidem.

5. Papa Francisco, Mensagem de vídeo por ocasião do encontro promovido e organizado pela Congregação para a educação católica: «Global Compact on Education. Togheter to look beyond», 15 de outubro de 2020.