A missão de comunicar o bem

 A missão de comunicar o bem  POR-036
06 setembro 2022

Opadre Federico Lombardi completou a 29 de agosto 80 anos. O jesuíta piemontês, um dos protagonistas da comunicação eclesial pós-Concílio, foi diretor da Sala de imprensa da Santa Sé sob o pontificado Bento xvi e do Papa Francisco; durante 25 anos na guia da Rádio Vaticano, primeiro como diretor dos programas e depois como diretor-geral da emissora pontifícia. Durante mais de 10 anos, dirigiu também o Centro televisivo do Vaticano. Uma vida de testemunho e serviço à Igreja, marcada por paixão e competência, que continua atualmente como presidente da Fundação Joseph Ratzinger-Bento xvi e como superior da comunidade religiosa jesuíta de «La Civiltà Cattolica». Precisamente na revista da Companhia de Jesus, em 1973, ele dera os primeiros passos como jornalista antes de se tornar seu vice-diretor em 1977. Nesta entrevista concedida aos meios de comunicação social do Vaticano, o padre Lombardi reflete sobre algumas passagens fundamentais da sua vida e da sua profissão vivida ao lado dos últimos três Pontífices.

Padre Lombardi, com quais sentimentos vive este seu 80º aniversário que precede de poucos dias — e isto também é significativo – os seus cinquenta anos de ordenação sacerdotal, a 2 de setembro?

Há uma sensação de surpresa por ter chegado aqui! Todos nós quando somos jovens pensamos nos 80 anos, ou 50 anos de sacerdócio, como objetivos muito distantes, de pessoas muito idosas... e depois, dia após dia, aproximamo-nos e acabamos por chegar lá, e talvez até vamos mais longe... por isso uma surpresa acompanhada, naturalmente, de muita gratidão, pois só posso dar graças, tanto pela vida, como por ter sido chamado a viver esta vida como religioso e como sacerdote. É um tempo de ação de graças, e talvez também de um olhar e um balanço sobre a própria vida, o próprio serviço, mas substancialmente de agradecimento, porque o que se recebeu é tanto que realmente só resta agradecer ao Senhor com admiração e dizer: «Obrigado, deste-me tanto tempo e muitas ocasiões e tantas provas da tua graça: obrigado por me teres acompanhado até aqui. Espero ter correspondido de modo aceitável ao dom que me ofereceste».

Dos seus 80 anos, quase 50 foram dedicados ao serviço da Igreja e da Santa Sé no âmbito da comunicação. O que aprendeu — mesmo se é difícil fazer um resumo — sobretudo ao serviço de diversos Pontífices em anos, além de tudo, marcados por um rápido desenvolvimento tecnológico, rapidíssimo inclusive no campo da informação?

A primeira coisa que aprendi por experiência — e levei algum tempo, porém, a aprendê-la — é que a comunicação para uma pessoa que vive na fé e na Igreja é uma participação na missão de evangelizar, de comunicar, que está precisamente entre as perspetivas em que se pode ver toda a realidade do mundo, da história, da relação com Deus e entre os homens. Eis a comunicação: o nosso Deus é um Deus que comunica, um Deus que nos comunicou a si mesmo com as palavras, com a Revelação, com o envio de Jesus Cristo! Toda a Igreja então tem uma missão, que é comunicar, dar a conhecer, difundir esta Palavra do Senhor. Compreender que se alguém for chamado a trabalhar no campo da comunicação, é chamado a colaborar — embora de formas e tarefas específicas — com a própria natureza da Igreja e da relação entre Deus e a humanidade.

O senhor é jesuíta, foi também provincial da Itália. Como influenciou a espiritualidade inaciana o modo de trabalhar precisamente na comunicação?

A espiritualidade inaciana ensina-nos, ajuda-nos, educa-nos, a ver Deus em todas as coisas, a ver a obra do Senhor à nossa volta, na realidade e nas pessoas que nos rodeiam. Assim, ajuda-nos a ler a realidade e as pessoas e acontecimentos numa perspetiva de fé, como presença do Senhor que trabalha. Santo Inácio fala do Senhor como alguém que trabalha: isto sempre me impressionou muito. Ele trabalha à nossa volta nos eventos, na história, nas pessoas, e trata-se de o conhecer, ver, reconhecer nesta sua obra, e de ajudar os outros também a vê-lo, a compreendê-lo e a acolhê-lo nesta sua presença.

João Paulo ii , Bento xvi , Francisco. O senhor teve a oportunidade de ser um estreito colaborador dos últimos três Pontífices. Pessoalmente, mas também profissionalmente, o que conserva de uma experiência tão extraordinária, quase única?

Sempre concebi o meu trabalho como um serviço e pareceu-me claro que o Papa é um servo: o Papa é um grande servo da Igreja e da humanidade, da presença de Deus no mundo. E assim fui chamado a desempenhar este serviço, a colaborar com este serviço. Com o tempo pareceu-me realmente um grande dom, esta chamada à colaboração, porque a missão que os Papas desempenham é verdadeiramente uma missão maravilhosa para o bem das pessoas, da humanidade, dos crentes. Pude colaborar, colocar todas as minhas forças para ajudar esta missão, depois no sentido específico de ajudar a compreender, de a tornar conhecida através dos nossos meios, dos nossos canais de comunicação. Foi um serviço para este grande serviço dos Papas à humanidade e à Igreja. Isto sempre me fascinou e sou muito grato por ter sido chamado para este tipo de trabalho.

Quem teve o privilégio de trabalhar consigo sabe quanta atenção sempre dedicou aos jovens, ao seu crescimento pessoal e profissional. Hoje, a um jovem ou a uma jovem que deseja empreender a profissão de jornalista, que conselhos daria?

Dir-lhes-ia que a sua profissão pode ser maravilhosa, mas que deve ser vivida como uma vocação: não apenas como uma carreira na qual desenvolver capacidades técnicas, mas como uma forma através da qual se ajuda as pessoas a encontrar os outros, a estabelecer uma comunicação que é compreensão, diálogo recíproco. Uma comunicação que ajuda a conhecer a verdade e não a enganar os outros; na qual se aprende a enfatizar também os aspetos positivos e não apenas o drama dos sofrimentos ou os problemas provocados pelo mal e pela injustiça. Certamente estes devem ser denunciados, mas é necessária também a capacidade de mostrar uma presença, muitas vezes um pouco mais escondida, mas igualmente importante, de bondade, de amor. Devo dizer que nos melhores momentos de serviço, inclusive dos Papas, na comunicação, tive precisamente a experiência, a impressão de que até os colegas jornalistas ficassem felizes por descobrir a beleza do próprio trabalho como comunicadores, pois colaboravam na divulgação de mensagens que eram positivas para a humanidade a cujo serviço, como comunicadores, devem estar. Isto parece-me o ideal para se mover no campo da comunicação, com toda a paciência e a realidade necessárias para aprender, dia após dia, como comunicar bem também sob um ponto de vista profissional. Não se deixar dominar por competências técnico-profissionais, mas saber que estas devem ser colocadas ao serviço de algo grande e bom, a fim de construir juntos uma sociedade e uma comunidade eclesial civil digna.

O senhor tem 80 anos, mas ainda está ativo no campo da informação, em «La Civiltà Cattolica», e também no âmbito do Vaticano como presidente da Fundação Ratzinger-Bento xvi . Pode-se dar muito inclusive como pessoa idosa, como salientou o Papa Francisco com as suas recentes catequeses sobre a chamada terceira idade...

Enquanto se puder, desde que se tenha força, naturalmente é bom que desempenhar o serviço que nos é confiado. Por vezes, é um serviço que muda um pouco no estilo, na natureza e também nos efeitos: uma pessoa idosa talvez se sinta menos chamada a estar na atualidade do último momento, mas mais na reflexão, na procura do sentido das coisas, nos valores, mas também no futuro, porque não nos devemos fechar em nós mesmos. Um futuro em que as coisas essenciais continuem a ser guia. Um pouco tradicionalmente, considero que o verdadeiro, o bem, o belo continuam a ser os pontos de referência da nossa vida e da nossa perspetiva de esperança.

Alessandro Gisotti