Na praça da Catedral incentivo aos familiares das vítimas do terramoto e a toda a cidade

“Jemonnanzi”!

 “Jemonnanzi”!  POR-035
30 agosto 2022

O primeiro encontro do Pontífice ao chegar a L’Aquila, foi com a comunidade da cidade dos Abruzos, e teve lugar na “Piazza del Duomo”. Particularmente significativa foi a presença dos familiares das vítimas do terramoto de 6 de abril de 2009 e de uma delegação de prisioneiros. A seguir, as palavras de saudação do Papa.

Estimados irmãos e irmãs bom dia, bom domingo! Estou feliz por me encontrar no meio de vós, e agradeço ao Cardeal Arcebispo a saudação que me dirigiu em nome de todos. Juntamente convosco aqui presentes, abraço com afeto toda a cidade e a diocese de L’Aquila. Agradeço-vos a vossa presença, também às autoridades, aos prisioneiros, às crianças, a todos: o povo de Deus!

Neste momento de encontro convosco, em particular com os parentes das vítimas do tremor de terra, quero manifestar a minha proximidade às vossas famílias e a toda a vossa comunidade, que enfrentou com grande dignidade as consequências daquele trágico acontecimento.

Em primeiro lugar, agradeço-vos o vosso testemunho de fé: apesar da dor e do desconcerto que pertencem à nossa fé de peregrinos, fixastes o olhar em Cristo, crucificado e ressuscitado, que com o seu amor resgatou da insensatez a dor e a morte. E penso num de vós, que há tempos me escreveu, dizendo que tinha perdido os seus únicos dois filhos adolescentes. E como ele, muitos, tantos. Jesus colocou-vos de novo nos braços do Pai, que não deixa cair em vão nem sequer uma única lágrima, nem sequer uma, mas recolhe-as todas no seu Coração misericordioso.

Nesse Coração estão escritos os nomes dos vossos entes queridos, que passaram do tempo para a eternidade. A comunhão com eles está mais viva do que nunca. A morte não pode interromper o amor, que a liturgia dos defuntos nos recorda: “Para os teus fiéis, Senhor, a vida não é tirada, mas transformada” (Prefácio i ). Mas a dor existe, e belas palavras ajudam, mas a dor permanece. E com as palavras, a dor não desaparece. Apenas a proximidade, a amizade, o carinho: caminhar juntos, ajudar-se uns aos outros como irmãos e seguir em frente. Ou somos um povo de Deus, ou não se resolvem problemas dolorosos como este!

Felicito-me convosco pelo cuidado com que edificastes a Capela da Memória. A memória é a força de um povo, e quando esta memória é iluminada pela fé, aquele povo não permanece prisioneiro do passado, mas vai em frente, caminha no presente virado para o futuro, permanecendo sempre apegado às raízes e valorizando as experiências boas e más do passado. E com este tesouro e estas experiências vai em frente! Vós, povo de L’Aquila, demonstrastes um caráter resiliente. Enraizado na vossa tradição cristã e cívica, permitiu-vos resistir ao impacto do sismo e iniciar imediatamente o corajoso e paciente trabalho de reconstrução.

Tudo devia ser reconstruído: as casas, as escolas, as igrejas. Mas, como bem sabeis, isto realiza-se com a reconstrução espiritual, cultural e social da comunidade cívica e eclesial.

O renascimento pessoal e coletivo, depois de uma tragédia, é dom da Graça e também fruto do compromisso de cada um e de todos juntos. Sublinho este “juntos”: não em grupinhos, não, juntos, todos juntos! É fundamental ativar e reforçar a colaboração orgânica, em sinergia, das instituições e dos organismos associativos: uma concórdia industriosa, um compromisso clarividente, pois trabalhamos pelos filhos, pelos netos, pelo futuro.

Na obra de reconstrução, as igrejas merecem uma atenção especial. São herança da comunidade, não apenas em sentido histórico e cultural, mas também em sentido de identidade. Essas pedras estão imbuídas da fé e dos valores do povo; e os templos são também lugares propulsores da sua vida, da sua esperança.

E a propósito de esperança, quero saudar e agradecer à delegação do mundo penitenciário dos Abruzos, aqui presente. Também em vós saúdo um sinal de esperança, porque até nos cárceres há muitas, demasiadas vítimas. Hoje, aqui, sois sinal de esperança na reconstrução humana e social.

Renovo a minha saudação a todos, abençoo-vos de coração, as vossas famílias e toda a cidadania. Jemonnanzi!