A religiosa congolesa Virginie Bitshanda ensina as mulheres a ter mais autonomia

“Mama Hekima”

 “Mama Hekima”  POR-034
23 agosto 2022

Vêm de vários horizontes e tradições religiosas, mas enfrentam as mesmas dificuldades: as mulheres na República Democrática do Congo confrontam-se todos os dias com problemas ligados às dificuldades financeiras, à educação dos filhos, às doenças de familiares e à falta de conhecimento e de informações sobre os seus direitos. Para sair desta situação e conquistar a dignidade que muitas vezes lhes é negada pela sociedade, a melhor maneira é unir as forças e apoiar-se umas às outras. Concretamente. Por isso, a irmã Virginie Bitshanda, da Congregação das Filhas da Sabedoria, há dez anos decidiu criar na cidade de Kisangani a associação “Mama Hekima” (mães da sabedoria, em suaíli), com o objetivo de reunir as mulheres “simples” da cidade, sem exclusão nem distinção étnica ou religiosa, para as ajudar a alcançar a autossuficiência financeira.

«Entre elas havia mulheres católicas, muçulmanas, testemunhas de Jeová, protestantes e outras da Igreja do Despertar, diz a religiosa ao nosso jornal, e no início não concordavam com esta escolha de progredir juntas. O primeiro grupo formado pediu para se unir por confissão religiosa, pois não pensavam que era possível trabalhar em conjunto com tantas diferenças religiosas». «Isto não foi surpreendente para nós, acrescenta, porque ouvindo as “pregações” transmitidas pela televisão, compreendemos que todas estas “mensagens” com críticas negativas incitam à divisão, à hostilidade e à violência».

Mas a irmã Virginie não é um tipo que desiste perante as dificuldades: para criar um espírito de grupo, baseou-se no programa de três anos que seguiu no Canadá, no Instituto de formação humana integral em Montreal, cuja linha consiste em estudar e conhecer as realidades culturais presentes, tendo em conta as mentalidades do ambiente, para acompanhar grupos de pessoas. «Assim, compreendemos melhor as condições indignas que a sociedade impõe a estas mulheres. Estar próximas delas também nos permitiu testemunhar e confirmar que os pontos fortes — capacidade, coragem, qualidade, amor — destas mulheres são impressionantes e portadores de esperança».

As mães construíram gradualmente a harmonia mútua, decidindo ver-se para além das diferenças. Conseguiram cooperar, superar as diferenças étnicas e religiosas e procurar a paz em caso de dificuldades de relacionamento. As mulheres mostraram grande espírito de criatividade e iniciativa. «Sozinha, uma mulher não o pode fazer, comenta a irmã monfortina, mas com as outras sempre se encontra uma solução».

Com o apoio da associação promovida pela irmã Virginie, as “Mama Hekima” de Kisangani aprenderam rapidamente a trabalhar juntas. Encontram-se em pequenos grupos de, no máximo, vinte pessoas, de acordo com os seus interesses. As sessões de formação centram-se em temas como educação cívica, direitos das mulheres, planificação familiar, gestão do orçamento familiar e programação de atividades geradoras de rendimento. As dificuldades financeiras são um dos maiores desafios que estas mulheres enfrentam, desenvolvendo instrumentos para aumentar a sua independência. A primeira fonte de rendimento é a produção e/ou venda de produtos agrícolas, a começar pela mandioca, cultivada pelas suas raízes tuberosas comestíveis, que constituem uma parte importante da alimentação diária básica de muitas populações africanas. «No início, recorda a irmã Virginie, alguns pequenos grupos compravam mandioca para fazer farinha ou o chamado “chikwangue”, uma espécie de rolo de massa de mandioca fermentada, prato tradicional na bacia do rio Congo».

Quando a mandioca se tornou mais rara, interveio o espírito de solidariedade totalmente feminino, adquirido durante a primeira fase de conhecimento mútuo: «Outro pequeno grupo assumiu a tarefa de a cultivar para a fornecer aos produtores de chikwangue». Hoje, cada grupo — atualmente são mais ou menos dez, compostos por cerca de vinte mulheres — é liderado pela própria comissão diretiva que supervisiona o processo de venda das mercadorias. As mães diversificaram também as atividades da sua economia, com o fabrico de fornos a lenha. Cada vez mais mulheres pedem para fazer parte da associação, para ser igualmente supervisionadas e acompanhadas. As crianças também beneficiam deste sucesso. «Muitas sofriam de subalimentação ou doença e foram curadas, alegra-se a irmã Virginie, e além disso muitas mães podem enviar os seus filhos para a escola e até para a universidade». Não só: o exemplo das “Mama Hekima” também estimula o desejo de autonomia e independência económica entre as suas amigas e quantos as circundam.

Olhando para trás, a irmã Virginie felicita-se pelos resultados alcançados, em primeiro lugar graças ao apoio da Congregação das Filhas da Sabedoria, mas também dos parceiros externos. «Diria que o primeiro objetivo que nos propusemos — famílias bem alimentadas, crianças na escola — foi amplamente alcançado, comenta, mas as nossas mães foram além: aprenderam a gerir a própria vida, a levantar a cabeça e a não se deixar explorar por todos os sistemas injustos do nosso país. Que alegria, que encorajamento para estas mulheres, que não deixam de agradecer às religiosas e à congregação por pensar nelas, conclui a irmã monfortina, e quanto a nós, que alegria vê-las capazes de beneficiar deste acompanhamento que, pouco a pouco, as ajuda não só no seu apoio financeiro, mas também na recuperação da própria dignidade de “Mama”».

#sistersproject

Charles de Pechpeyrou