O cardeal António Augusto dos Santos Marto, enviado do Papa, encerrou a peregrinação europeia a Santiago de Compostela

Jovens construtores de um mundo sem guerras

 Jovens construtores  de um mundo sem guerras  POR-034
23 agosto 2022

Comunicar aos outros a riqueza e a beleza das experiências e dos encontros da Peregrinação europeia dos jovens a Santiago de Compostela. Eis o convite dirigido às novas gerações pelo cardeal António Augusto dos Santos Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima, enviado especial do Papa Francisco às celebrações de encerramento do encontro compostelano. A ouvi-lo, cerca de doze mil jovens de vários países europeus, que foram à cidade galega em peregrinação ao longo das 11 rotas do Caminho dos peregrinos rumo a Santiago. Reuniram-se com o enviado especial do Papa para a missa na manhã de 7 de agosto que, devido à lotação, foi transferida do santuário do apóstolo Tiago para a esplanada do monte Gozo. Na celebração também estavam presentes 55 bispos da Espanha, Itália e Portugal, 370 sacerdotes e 400 consagrados.

Referindo-se ao lema da convocação — «Jovem, levanta-te e sê testemunha» — na sua homilia o cardeal recordou que, com estas palavras, o Senhor envia todos os jovens. E convidou à reflexão sobre três aspetos: o testemunho de uma vida nova com Jesus Cristo, a fraternidade e a alegria do Evangelho.

A reflexão do purpurado inspirou-se na primeira leitura: «Naquele tempo, os apóstolos testemunharam com grande coragem a ressurreição do Senhor Jesus». Este, realçou, é o «primeiro testemunho dos apóstolos sobre Jesus ressuscitado, imediatamente após o Pentecostes. É o centro e o coração da fé cristã». Com efeito, observou, «com ou sem a ressurreição de Jesus, a nossa fé ou se mantém ou esmorece», como São Paulo admoesta: «Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é vã».

No contexto atual, acrescentou, é necessário «voltar à primeira proclamação com o mesmo vigor, entusiasmo e coragem dos apóstolos». Muitos perguntam: «O que há de tão especial sobre a ressurreição de Jesus para cada um de nós hoje? Não é algo que diz respeito apenas a Jesus?». Na realidade, «corremos o risco de a reduzir a um admirável evento do passado, que se afasta de nós todos os anos; ou a um mero assentimento a uma verdade teórica do credo que, no entanto, não toca o nosso coração e vida; ou até a algo futuro, relativo ao último dia, ao derradeiro dia na eternidade».

Ao contrário, explicou o purpurado, sem a ressurreição «Jesus seria apenas um personagem do passado, que dizia e fazia coisas boas, belas e maravilhosas como ninguém, que nos deixou uma doutrina e um exemplo extraordinários, regras de boa conduta e nada mais. Apenas um grande herói a recordar e admirar numa galeria de museu».

Em seguida, o cardeal encorajou as pessoas a interrogar-se sobre o impacto que a ressurreição de Jesus tem na própria vida e sobre o que diz de novo, positivo, belo e estimulador para os jovens. A resposta é oferecida pelo Papa Francisco, do qual o celebrante citou esta expressão: «Cristo, nossa esperança, está vivo e é a mais bela juventude deste mundo».

Portanto, Jesus propõe «uma nova forma de relacionamento, baseada na lógica do amor e do serviço». É uma autêntica «revolução face aos critérios humanos de egoísmo e ambição de poder e dominação: a revolução da fraternidade, que parte do amor fraterno para abraçar a cultura do cuidado mútuo, a cultura do encontro que constrói pontes, abate muros de divisão e abrevia as distâncias entre pessoas, culturas e povos». Segundo o cardeal, o encontro em Santiago «é um bom exemplo disto».

Depois, o purpurado propôs aos presentes a figura de São Carlos de Foucauld como testemunha autêntica. Sim, o santo — canonizado pelo Papa Francisco a 15 de maio — passou «a vida cristã como irmão de todos, a começar pelos últimos, os pobres. Não procurou converter os outros, mas viver o amor gratuito de Deus através da bondade». O enviado papal recordou as suas palavras: «Quero levar todas as pessoas, cristãos, muçulmanos, judeus e idólatras, a considerar-me seu irmão, o irmão universal». O Papa Francisco «é também um exemplo disto através do seu testemunho e da sua encíclica Fratelli tutti, para promover a fraternidade universal».

Então, dirigindo-se novamente aos jovens, recordou que hoje Jesus diz esta palavra a todos: «Levantai-vos!». E todos podem responder a este convite e «comprometer-se de todo o coração na edificação de um mundo mais verdadeiro e mais belo para todos; onde todos sejamos irmãos na fé e na vida»; onde ninguém «se salva sozinho; onde ninguém é deixado para trás, esquecido, ignorado, abandonado; onde a paz prevalece sobre a guerra; onde a vida nasce e é absolutamente respeitada desde a conceção até à morte». E onde a casa comum «é verdadeiramente um bom lugar para todos. Cada um, no coração, responda se está disposto a seguir este caminho».

No final da Eucaristia, um grupo de doze jovens recebeu a mochila dos peregrinos do cardeal António dos Santos Marto para regressar à própria casa e continuar a viagem iniciada em Santiago, espalhando a esperança ao mundo. Concluindo, o cardeal convidou todos os jovens a participar na próxima Jornada mundial da juventude, que terá lugar em agosto de 2023 em Lisboa. Uma referência ao grande encontro dos jovens do próximo ano também foi feita na procissão de entrada, quando alguns voluntários levaram a Cruz da jmj ao presbitério.

No final da missa, o arcebispo de Santiago de Compostela, D. Julián Barrio Barrio, agradeceu a todas as pessoas e instituições que participaram na organização do evento e desejou aos peregrinos «um bom caminho para casa». E concluiu: «Sabemos que se quiseres ir depressa deves viajar sozinho, mas se quiseres ir longe, deves estar acompanhado».

Durante os quatro dias — de 3 a 7 de agosto — de peregrinação, no contexto do Ano santo de Santiago de Compostela, os encontros de formação e oração alternaram-se com momentos de entretenimento, workshops, espetáculos, concertos e visitas culturais.

No dia 6, durante um encontro no convento de Santo Domingo de Bonaval, o cardeal António dos Santos Marto salientou que os jovens querem ser «construtores de paz» num «momento crítico» como o pós-pandemia e a guerra. «Todos podemos dizer juntos, em voz alta», frisou, «para que nos ouçam: viemos a Compostela para nos encontrarmos, para partilhar a nossa fé, mas também unidos pelo mesmo objetivo: queremos ser construtores de paz». Sim, unidos «pela mesma fé, a mesma solidariedade e a mesma responsabilidade, queremos ser construtores de um mundo sem guerra, sem ódio, sem discriminação racial, um mundo fraterno, onde ninguém é deixado para trás».