Francisco lançou um apelo à «solidariedade internacional» a favor da população da Somália, que se encontra «em perigo mortal devido à seca». No final do Angelus de 14 de agosto, na praça de São Pedro, o Pontífice dirigiu o seu pensamento à nação africana, exortando a um tríplice objetivo para responder à emergência humanitária: «A luta contra a fome, a saúde, a educação».
Prezados irmãos e irmãs
bom dia!
No Evangelho da liturgia de hoje há uma expressão de Jesus que sempre nos impressiona e interroga. Enquanto está a caminho com os seus discípulos, Ele diz: «Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu, senão que ele já se tenha ateado» (Lc 12, 49). De que fogo fala? E que significado têm estas palavras para nós hoje, este fogo que Jesus traz?
Como sabemos, Jesus veio trazer ao mundo o Evangelho, ou seja, a boa nova do amor de Deus por cada um de nós. Por isso, diz-nos que o Evangelho é como o fogo, porque se trata de uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios de vida, desafia a sair do individualismo, desafia a vencer o egoísmo, desafia a passar da escravidão do pecado e da morte para a nova vida do Ressuscitado, de Jesus ressuscitado. Isto é, o Evangelho não deixa as coisas como estão; quando o Evangelho passa, e é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão. Não dispensa uma falsa paz intimista, mas acende uma inquietação que nos põe a caminho, que nos leva a abrir-nos a Deus e aos irmãos. É exatamente como o fogo: enquanto nos aquece com o amor de Deus, quer queimar os nossos egoísmos, iluminar os lados obscuros da vida — todos nós os temos! — consumir os falsos ídolos que nos tornam escravos.
Na esteira dos profetas bíblicos — pensemos, por exemplo, em Elias e Jeremias — Jesus é inflamado pelo fogo do amor de Deus e, para o fazer arder no mundo, despende-se em primeira pessoa, amando até ao fim, ou seja, até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8). Ele está cheio do Espírito Santo, que é comparado ao fogo, e com a sua luz e força revela o rosto misericordioso de Deus e confere plenitude a quantos são considerados perdidos, derruba as barreiras das marginalizações, cura as feridas do corpo e da alma, renova uma religiosidade reduzida a práticas exteriores. Por isso é fogo: muda, purifica.
Portanto, o que significa para nós, para cada um de nós — para mim, para vós, para ti — o que significa para nós esta palavra de Jesus sobre o fogo? Convida-nos a reacender a chama da fé, para que não se torne uma realidade secundária, nem um meio de bem-estar individual, o que nos faz evitar os desafios da vida e do compromisso na Igreja e na sociedade. Com efeito, dizia um teólogo, a fé em Deus «tranquiliza-nos, mas não como gostaríamos: isto é, não para nos proporcionar uma ilusão paralisante, nem uma abençoada satisfação, mas para nos permitir agir» (De Lubac, Sulle vie di Dio, Milão 2008, 184). Em suma, a fé não é uma “canção de ninar” que nos embala para nos fazer adormecer. A verdadeira fé é um fogo, um fogo aceso para nos manter acordados e ativos até durante a noite!
E então podemos perguntar-nos: sou apaixonado pelo Evangelho? Leio o Evangelho com frequência? Levo-o comigo? A fé que professo e celebro coloca-me numa tranquilidade abençoada ou acende em mim o fogo do testemunho? Podemos interrogar-nos também como Igreja: nas nossas comunidades, ardem o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou arrastamo-nos no cansaço e no hábito, com um rosto aborrecido e o lamento nos lábios e as tagarelices todos os dias? Irmãos e irmãs, questionemo-nos sobre isto, para que também nós possamos dizer como Jesus: estamos inflamados com o fogo do amor de Deus e queremos “lançá-lo” sobre o mundo, levá-lo a todos, para que cada um descubra a ternura do Pai e experimente a alegria de Jesus, que dilata o coração — e Jesus dilata o coração! — tornando bela a vida. Oremos à Santíssima Virgem por isso: Ela, que acolheu o fogo do Espírito Santo, interceda por nós!
No final da prece, dopo o apelo a favor da Somália, o Pontífice saudou os vários grupos presentes, invocando em particular «misericórdia e piedade para o martirizado povo ucraniano».
Caros irmãos e irmãs!
Desejo chamar a vossa atenção para a grave crise humanitária que atinge a Somália e algumas partes dos países vizinhos. As populações dessa região, que já vivem em condições muito precárias, encontram-se agora em perigo mortal devido à seca. Desejo que a solidariedade internacional possa responder com eficácia a esta emergência. Infelizmente, a guerra desvia a atenção e os recursos, mas estes são os objetivos que exigem o máximo esforço: a luta contra a fome, a saúde, a educação.
Dirijo uma cordial saudação a vós, fiéis de Roma e peregrinos de vários países. Vejo bandeiras polacas, ucranianas, francesas, italianas, argentinas! Muitos peregrinos! Saúdo em particular os educadores e os catequistas da unidade pastoral de Codevigo (Pádua), os universitários do Movimento Juvenil Salesiano do Triveneto e os jovens da unidade pastoral de Villafranca (Verona).
E dirijo um pensamento especial aos numerosos peregrinos que hoje se reuniram no Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia, onde há vinte anos São João Paulo ii fez o Ato de Entrega do mundo à Divina Misericórdia. Hoje, mais do que nunca, vemos o sentido daquele gesto, que desejamos renovar na oração e no testemunho da vida. A misericórdia é o caminho da salvação para cada um de nós e para o mundo inteiro. E peçamos ao Senhor misericórdia especial, misericórdia e piedade para o martirizado povo ucraniano!
Desejo bom domingo a todos. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista, também aos jovens da Imaculada.