Peregrinação penitencial para promover a cura e a reconciliação

 Peregrinação penitencial  para promover a cura e a reconciliação  POR-029
19 julho 2022

A viagem apostólica ao Canadá que terá início no próximo domingo será «uma peregrinação penitencial» para «abraçar os povos indígenas» e assim contribuir para o «caminho de cura e reconciliação» já empreendido. Disse Francisco no final do Angelus de domingo, 17 de julho, dirigindo uma saudação aos povos do país que visitará de 24 a 30 deste mês. Anteriormente, ao introduzir a oração mariana recitada da janela do Palácio Apostólico com os fiéis reunidos na praça de São Pedro, o Pontífice comentou o trecho do Evangelho do domingo, dedicada ao encontro de Jesus com Marta e Maria.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho da Liturgia deste domingo apresenta-nos um vivaz quadro doméstico com Marta e Maria, duas irmãs que oferecem hospitalidade a Jesus na sua casa (cf. Lc 10, 38-42). Marta começa imediatamente a receber os convidados, enquanto Maria se senta aos pés de Jesus para o ouvir. Então Marta dirige-se ao Mestre e pede-lhe que diga a Maria para a ajudar. A queixa de Marta não parece fora de lugar; aliás, sentimos que ela tem razão. Mas Jesus responde-lhe: «Marta, Marta, andas muito inquieta e preocupas-te com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a parte melhor, que não lhe será tirada» (Lc 10, 41-42). É uma resposta que surpreende. Mas Jesus muitas vezes inverte a nossa maneira de pensar. Perguntemo-nos por que o Senhor, embora apreciando a generosa preocupação de Marta, afirma que devemos preferir a atitude de Maria.

A “filosofia” de Marta parece ser esta: primeiro o dever, depois o prazer. Com efeito, a hospitalidade não é feita de belas palavras, mas exige que se ponha as mãos no fogão, que se faça o que for preciso para que o convidado se sinta bem-vindo. Jesus sabe isto muito bem. E de facto reconhece a dedicação de Marta. Contudo, quer que ela compreenda que existe uma nova ordem de prioridades, diferente daquela que ela tinha seguido até então. Maria intuiu que existe uma “parte melhor” à qual se deve dar o primeiro lugar. O resto vem a seguir, como um riacho que corre da nascente. E assim nos perguntamos: o que é esta “parte melhor”? É a escuta das palavras de Jesus. O Evangelho diz: «Maria, que se sentou aos pés do Senhor para o ouvir falar» (v. 39). Notemos: não ouviu de pé, fazendo outra coisa, mas sentou-se aos pés de Jesus. Compreendeu que Ele não é um convidado como os outros. À primeira vista parece que ele veio para receber, porque precisava de comida e abrigo, mas na realidade, o Mestre veio para se doar a nós através da sua palavra.

A palavra de Jesus não é abstrata, é um ensinamento que toca e molda a vida, muda-a, liberta-a da opacidade do mal, satisfaz e infunde uma alegria que não passa: a palavra de Jesus é a melhor parte, aquela que Maria escolheu. Por isso deu-lhe o primeiro lugar: pára e escuta. O resto virá depois. Isto nada tira ao valor do compromisso prático, não deve preceder, mas fluir da escuta da palavra de Jesus, deve ser animado pelo seu Espírito. Caso contrário, reduz-se a uma azáfama e agitação por muitas coisas, reduz-se a um ativismo estéril.

Irmãos e irmãs, aproveitemos este tempo de férias para parar e ouvir Jesus. Hoje é cada vez mais difícil encontrar momentos livres para meditar. Para muitas pessoas, os ritmos de trabalho são frenéticos, desgastantes. O período de verão também pode ser precioso para abrir o Evangelho e lê-lo lentamente, sem pressa, um trecho por dia, um pequeno excerto do Evangelho. E isto faz-nos entrar nesta dinâmica de Jesus. Deixemo-nos interrogar por aquelas páginas, perguntando-nos como está a nossa vida, a minha vida, se está ou não de acordo com o que Jesus diz ou não tanto. Em particular, perguntemo-nos: quando começo o meu dia, atiro-me de cabeça para as coisas a fazer, ou procuro primeiro a inspiração na Palavra de Deus? Por vezes começamos os nossos dias automaticamente, fazendo coisas... como as galinhas. Não. Devemos começar os nossos dias primeiro olhando para o Senhor, pegando na sua Palavra, brevemente, mas que esta seja a inspiração para o dia. Se sairmos de casa pela manhã mantendo uma palavra de Jesus na nossa mente, certamente o dia adquirirá um tom marcado por aquela palavra, que tem o poder de dirigir as nossas ações de acordo com o que o Senhor quer.

Que a Virgem Maria nos ensine a escolher a parte melhor, que nunca nos será tirada.

No final da oração, o Papa recordou a beatificação do jesuíta John Philip Jeningen, celebrada no sábado na Alemanha; depois lançou um apelo a favor da paz no Sri Lanka e, denunciando mais uma vez «a insensatez da guerra na Ucrânia», pediu a todas as partes envolvidas que trabalhem «para retomar as negociações»; por fim, falou da sua viagem ao Canadá e, depois de saudar os grupos de fiéis presentes, dirigiu um pensamento aos jovens que participam no Festival de Cinema de Giffoni.

Amados irmãos e irmãs!

Ontem, em Ellwangen (Alemanha), foi beatificado João Filipe Jeningen, sacerdote da Companhia de Jesus, que viveu na Alemanha na segunda metade do século xvii . Exerceu o seu ministério entre as populações rurais do Ducado de Württemberg. Incansável anunciador do Evangelho, dedicou-se a pessoas de todas as classes sociais, animado por um grande espírito apostólico e uma devoção mariana especial. Que o exemplo e a intercessão deste sacerdote nos ajude a sentir a alegria de partilhar o Evangelho com os nossos irmãos. Um aplauso ao novo Beato!

Mais uma vez expresso a minha proximidade ao povo do Sri Lanka. Caros irmãos e irmãs, uno-me a vós em oração e exorto todas as partes a procurarem uma solução pacífica para a presente crise, a favor, em particular, dos mais pobres, respeitando os direitos de todos. Uno-me aos líderes religiosos para implorar a todos que se abstenham de qualquer forma de violência e iniciem um processo de diálogo para o bem comum.

E também estou sempre próximo da atormentada população ucraniana, atingida por uma chuva de mísseis todos os dias. Como não compreender que a guerra só cria destruição e morte, afastando as pessoas, matando a verdade e o diálogo? Rezo e espero que todos os atores internacionais trabalhem realmente para retomar as negociações, não para alimentar a insensatez da guerra.

No próximo domingo, se Deus quiser, partirei para o Canadá; por isso, gostaria agora de me dirigir a todos os habitantes daquele país. Caros irmãos e irmãs do Canadá, como sabeis, irei até vós especialmente em nome de Jesus para me encontrar e abraçar os povos indígenas. Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para políticas de assimilação cultural que, no passado, prejudicaram gravemente as comunidades nativas de várias formas. Por esta razão, recebi recentemente alguns grupos, representantes dos povos indígenas, no Vaticano, aos quais manifestei o meu pesar e solidariedade pelos danos que sofreram. E agora preparo-me para empreender uma peregrinação penitencial, que espero, com a graça de Deus, contribua para o caminho de cura e reconciliação já empreendido. Agradeço-vos antecipadamente todo o trabalho de preparação e o acolhimento que me dareis. Obrigado a todos! E peço-vos que me acompanheis em oração.

E agora saúdo-vos, caros romanos e peregrinos, em particular as Irmãs da Ressurreição e as Missionárias do Sagrado Coração, que estão a realizar os seus Capítulos Gerais em Roma. Saúdo os fiéis da Hermandad de la Virgen de las Nieves, de Los Palacios y Villafranca (Sevilla), e os jovens que seguem o curso de formação do movimento Regnum Christi. Os jovens fazem-se ouvir!

Tenho o prazer de retribuir a saudação que recebi dos jovens participantes no Giffoni Film Festival, que este ano é dedicado aos “invisíveis”, ou seja, às pessoas que são postas de lado e excluídas da vida social. Obrigado e os melhores votos! E saúdo também os jovens da Imaculada.

Desejo a todos bom domingo e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!