O Pontífice reiterou a obrigação moral de tutelar a casa comum

O Papa reiterou a obrigação moral de tutelar a casa comum

 O Papa reiterou a obrigação moral de tutelar a casa comum  POR-029
19 julho 2022

«Diminuir os riscos climáticos, reduzindo as emissões» e «ajudar e preparar as pessoas a adaptar-se a um progressivo agravamento das mudanças climáticas»: eis os dois “desafios” indicados pelo Papa Francisco numa mensagem enviada aos participantes na conferência promovida pela Pontifícia academia das ciências sobre «Resilience of People and Ecosystems under Climate Stress», que teve lugar na Casina Pio iv de 13 a 14 de julho. A seguir, o texto da mensagem divulgada na abertura do congresso.

Aos participantes no Congresso
sobre Resilience of People
and Ecosystems
under Climate Stress

Dirijo cordiais saudações aos organizadores e participantes no Congresso sobre Resilience of People and Ecosystems under Climate Stress, patrocinado pela Pontifícia Academia das Ciências. Agradeço a Sua Eminência o Cardeal Peter Turkson, Chanceler da Academia; a Sua Excelência o Bispo Marcelo Sánchez Sorondo; e a todos aqueles que tornaram possível este encontro.

O problema das mudanças climáticas é uma emergência que já não pode permanecer à margem da sociedade. Pelo contrário, assumiu um lugar central, não só remodelando os sistemas industriais e agrícolas, mas também condicionando negativamente a família humana global, sobretudo os pobres e quantos vivem nas periferias económicas do nosso mundo. Hoje enfrentamos dois desafios: mitigar os riscos climáticos, reduzindo as emissões, e ajudar e preparar as pessoas a adaptar-se ao agravamento progressivo das mudanças climáticas. Estas alterações convidam-nos a pensar numa abordagem multidimensional para proteger tanto os indivíduos como o nosso planeta.

A fé cristã oferece uma contribuição particular a este propósito. O livro do Génesis diz-nos que o Senhor viu que tudo o que tinha feito era muito bom (cf. Gn 1, 31) e confiou aos seres humanos a responsabilidade de ser administradores do seu dom da criação (cf. Gn 2, 15). No Evangelho de Mateus, Jesus reafirma a bondade do mundo natural, recordando-nos a solicitude de Deus por todas as suas criaturas (cf. Mt 6, 26.28-29). Assim, à luz destes ensinamentos bíblicos, o cuidado da nossa casa comum, até prescindindo dos efeitos das mudanças climáticas, não é simplesmente um compromisso utilitarista, mas uma obrigação moral para todos os homens e mulheres, enquanto filhos de Deus. Tendo isto em mente, cada um de nós deve interrogar-se: “Que tipo de mundo queremos para nós e para quantos vierem depois de nós?”.

Para ajudar a responder a esta pergunta, falei de uma “conversão ecológica” (cf. Laudato si’, nn. 216-221), que exige uma mudança de mentalidade e um compromisso a trabalhar pela resiliência das pessoas e dos ecossistemas em que vivemos. Esta conversão tem três importantes elementos espirituais, que gostaria de submeter à vossa consideração. A primeira implica a gratidão pelo dom amoroso e generoso da criação de Deus. A segunda exige o reconhecimento de que estamos unidos numa comunhão universal uns com os outros e com o resto das criaturas do mundo. A terceira requer que enfrentemos os problemas ambientais não como indivíduos isolados, mas em solidariedade, como comunidade.

Com base nestes elementos, são necessários esforços corajosos, colaborativos e clarividentes entre os líderes religiosos, políticos, sociais e culturais a nível local, nacional e internacional, a fim de encontrar soluções concretas para os problemas graves e crescentes que enfrentamos. Penso, por exemplo, no papel que as nações economicamente mais avançadas podem desempenhar na redução das suas emissões e na oferta de assistência, tanto financeira como tecnológica, para que as chamadas áreas menos prósperas do mundo possam seguir o seu exemplo. Também são cruciais o acesso à energia limpa e à água potável, a ajuda oferecida aos camponeses no mundo inteiro, a fim de que passem para uma agricultura resiliente ao clima, um compromisso em percursos sustentáveis de desenvolvimento e estilos de vida mais sóbrios, destinados a preservar os recursos naturais do mundo, e a oferta de educação e de assistência médica aos mais pobres e vulneráveis da população mundial.

Agora gostaria de mencionar mais duas preocupações: a perda da biodiversidade (cf. Laudato si’, nn. 32-33) e as numerosas guerras que se travam em várias regiões do mundo, que juntas acarretam consequências nefastas para o bem-estar e a sobrevivência humana, incluindo problemas de segurança alimentar e o aumento da poluição. Estas crises, unidas à do clima da Terra, demonstram que «tudo está interligado» (Fratelli tutti, n. 34) e que a promoção do bem comum do planeta a longo prazo é fundamental para uma autêntica conversão ecológica.

Por todas as razões acima mencionadas, recentemente aprovei que a Santa Sé, em nome e por conta do Estado da Cidade do Vaticano, adira à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e ao Acordo de Paris, na esperança de que, «enquanto a humanidade do período pós-industrial talvez seja recordada como uma das mais irresponsáveis da história, espera-se que a humanidade dos inícios do século xxi possa ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas graves responsabilidades» (Laudato si’, n. 165).

Caros irmãos e irmãs, estou feliz por o vosso trabalho destes dias ser dedicado a examinar o impacto das mudanças no nosso clima e a procurar soluções práticas que possam ser implementadas imediatamente para aumentar a resiliência das pessoas e dos ecossistemas. Trabalhando juntos, homens e mulheres de boa vontade podem abordar a amplitude e complexidade das questões que temos à nossa frente, proteger a família humana e o dom da criação de Deus contra fenómenos climáticos extremos e fortalecer os bens da justiça e da paz.

Com a garantia das minhas orações a fim de que o vosso Congresso dê bons frutos, invoco sobre todos vós as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.

Vaticano, 13 de julho de 2022.

Francisco