Apelo durante a missa celebrada em Juba

Nunca mais a violência e os conflitos fratricidas

 Nunca mais a violência e os conflitos fratricidas  POR-028
12 julho 2022

«Desarmar o mal» com o perdão, «desarmar a violência» com o amor, «resistir à opressão» com a mansidão. Pois «o mal do mundo não se derrota com as armas do mundo» e «a paz não se alcança com a guerra». O cardeal Pietro Parolin celebrou a missa em Juba e, levantando os olhos ao céu, de onde caía uma chuva torrencial, cadenciou: «Nunca mais a violência e os conflitos fratricidas, nunca mais a guerra». Depois, invocou a bênção de Deus para o Sudão do Sul, terra «rica de recursos e possibilidades, mas, ao mesmo tempo, ofuscada pela violência».

Na primeira fila estava o presidente Salva Kiir, sentado na tribuna de honra montada sob uma grande tenda. Ao seu lado, o vice-presidente Riek Machar. O secretário de Estado falou a cada uma das cerca de 15.000 pessoas reunidas na manhã de 7 de julho, para a missa que teve lugar no John Garang Mausoleum Park, memorial dedicado ao líder do Sudan People’s Liberation Movement/Army e primeiro vice-presidente do Sudão, após os acordos de paz. É o mesmo lugar onde o Papa devia celebrar.

O palco foi montado com algumas das cores da bandeira do Sudão do Sul. Parolin entrou em procissão, precedido por um grupo de jovens que, descalços, executaram uma dança ao som de pianolas e tambores. Todos os bispos do Sudão do Sul estavam presentes e na assembleia estavam sentados os líderes anglicanos, pentecostais, evangélicos e de outras confissões, membros do Council of Churches que, antes da missa, tiveram um encontro privado com o purpurado. A atmosfera é recolhida, mais solene em relação ao júbilo do dia precedente, no campo de deslocados de Bentiu.

E como em Bentiu, o cardeal começou a sua homilia trazendo «as saudações e bênçãos do Santo Padre Papa Francisco, que desejava estar aqui hoje para uma peregrinação ecuménica a este jovem país, tão cheio de oportunidades e tão gravemente atormentado».

O cardeal começou a sua reflexão a partir do presente do Sudão do Sul, das suas dificuldades e desafios, mas olhando para o futuro. O caminho, disse, é o do Evangelho, que oferece uma mensagem «diferente», nomeadamente «recusar responder ao mal com o mal». «Renunciar à vingança...», repetiu o cardeal a uma população assolada por anos de guerra civil. «A carne nos exorta a responder ao mal de certas maneiras», mas Jesus convida-nos a estar abertos à «coragem do amor». Um amor que «não está preso na mentalidade do “olho por olho, dente por dente”, não resolve conflitos com a violência». Contudo, isto «não significa tornar-se vítima passiva, nem ser fraco, dócil e resignado perante a violência. Pelo contrário, significa «desarmar o mal, desarmar a violência e resistir à opressão».

«O mal do mundo não pode ser derrotado com as armas do mundo», observou Parolin, interrompido por aplausos. «Se quisermos a paz, não podemos obtê-la com a guerra. Se quisermos a justiça, não a podemos alcançar com métodos injustos e corruptos. Se quisermos a reconciliação, não podemos usar a vingança. Se quisermos servir os irmãos e irmãs, não podemos tratá-los como escravos. Se quisermos construir um futuro pacífico, só há um caminho a seguir: amar-nos uns aos outros!». Pois «quando deixamos demasiado espaço ao ressentimento e à amargura do coração, quando envenenamos as nossas recordações com o ódio, quando cultivamos a raiva e a intolerância, destruímo-nos a nós próprios».

Em seguida, o cardeal pediu que Deus sensibilize o coração daqueles «que ocupam posições de autoridade e grande responsabilidade, a fim de que o sofrimento causado pela violência e a instabilidade chegue ao fim e o processo de paz e reconciliação avance rapidamente com ações concretas e eficazes».

No final da missa, as saudações incluíram a de Salva Kiir, que reiterou a sua esperança de que o Papa possa em breve vir ao Sudão do Sul e o seu desejo de paz no país: «O povo já não quer guerras!».

O desejo de paz foi reiterado também no encontro com os deputados da Revitalized Transitional National Legislative Assembly, o Parlamento nacional de transição. No dia precedente Parolin foi convidado a visitar a sede. «Aceitei imediatamente porque estou consciente da vossa importância para a democracia», disse o cardeal a uma representação de cerca de 500 parlamentares, dirigindo-lhes o apelo a «avançar, a não se deixar bloquear pelas dificuldades», para «o bem e a segurança do povo».

Aos representantes do Council of Churches, Parolin deixou, ao contrário, três indicações. A primeira: «Anunciar Cristo, que é a resposta às expetativas de todas as pessoas». Depois, a «unidade», apesar das «diferenças». E por fim, «satisfazer as exigências do povo em matéria de justiça, liberdade e prosperidade». É um «trabalho árduo», mas é preciso fazê-lo, e fazê-lo em conjunto, disse Parolin, confidenciando a sua emoção pessoal durante a visita do dia precedente ao campo de deslocados de Bentiu: «Realmente abalou-me. Muitas crianças... Elas dão-nos esperança para o futuro. Devemos permanecer juntos, unir as forças religiosas e políticas para fazer justiça a estas pessoas».

do enviado
Salvatore Cernuzio