Discurso à Pontifícia academia mariana internacional pelos 30 anos da instituição da Direção investigadora antimáfia

À Pontifícia academia mariana

 À Pontifícia academia mariana   POR-028
12 julho 2022

«É importante também resistir ao colonialismo cultural mafioso, através da pesquisa, do estudo e das atividades formativas, destinadas a provar que o progresso civil, social e ambiental não provém da corrupção e do privilégio, mas da justiça, da liberdade, da honestidade e da solidariedade», frisou o Papa Francisco ao receber em audiência na Sala Clementina, a 23 de junho, os participantes no encontro promovido pela Pontifícia academia mariana internacional, por ocasião dos 30 anos da instituição da Direção investigadora antimáfia (Dia).

Prezados irmãos e irmãs
bom dia!

Sinto-me feliz por me encontrar hoje convosco e partilhar, com todos aqueles que fazem parte das Instituições que representais e com as vossas famílias, os 30 anos da vossa obra ao serviço do povo. Agradeço ao Presidente da Pontificia Academia Mariana Internationalis. pelas suas palavras. A convivência fraterna e a amizade social são possíveis onde existem “casas” que atuam o “pacto entre as gerações”, preservando sinodalmente as “raízes saudáveis” de quantos acreditaram e acreditam na beleza do estar juntos que se desenvolve no diálogo, na gentileza e no apoio à justiça para todos. Graças a estas “casas”, é possível construir como que uma grande família aberta ao bem comum, no auge da difusão de uma cultura de legalidade, respeito e segurança das pessoas e também do meio ambiente.

Todos vós estais ativamente comprometidos na construção destas “casas”: elas são como que anticorpos suaves e fortes contra interesses de parte, corrupção, ganância e violência, que constituem o adn das organizações mafiosas e criminosas. As máfias vencem quando o medo toma conta da vida, e é por isso que se apoderam da mente e do coração, despojando as pessoas da sua dignidade e liberdade. Vós que estais aqui trabalhais para garantir que o medo não possa vencer: portanto, sois um apoio à mudança, uma centelha de luz no meio da escuridão, um testemunho de liberdade. Encorajo-vos a continuar neste caminho: sede fortes e levai a esperança, especialmente entre os mais frágeis.

Quando faltam segurança e legalidade, os primeiros a ser prejudicados são, na realidade, os mais fracos e todos aqueles que de várias formas podem ser chamados “últimos”. Todos eles são os escravos modernos sobre os quais as economias mafiosas se constroem; são os descartados de que necessitam para poluir a vida social e o próprio ambiente. Exorto-vos, por conseguinte, a permanecer próximos de todas estas pessoas, vítimas da prepotência, procurando prevenir e contrastar o crime. É também importante resistir ao colonialismo cultural mafioso, através da pesquisa, estudo e atividades formativas, destinadas a provar que o progresso civil, social e ambiental não provém da corrupção e do privilégio, mas da justiça, da liberdade, da honestidade e da solidariedade. Além disso, o pensamento mafioso insinua-se como uma colonização cultural, a tal ponto que tornar-se mafioso faz parte da cultura, é como o caminho que se deve seguir. Não! Isto não está bem. É um caminho de escravidão. Trabalhais muito para evitar isto: obrigado!

O vosso trabalho, delicado e arriscado, merece ser apreciado e apoiado. Por minha vez, encorajo-vos a continuar com entusiasmo, apesar da presença no tecido social — e até eclesial — de algumas áreas sombrias, onde é difícil sentir o claro distanciamento de antigos modos de agir errados e até imorais. É necessário que todos, a todos os níveis, empreendam decisivamente o caminho da justiça e da honestidade. E onde houve conivência e opacidade, as causas devem ser investigadas, deixando espaço para uma “vergonha” saudável, sem a qual a mudança não é possível e a cooperação recíproca para o bem comum permanece uma quimera.

Estimados irmãos e irmãs, agradeço-vos, por conseguinte, pelo que sois e pelo que fazeis. Não vos canseis de permanecer ao lado do povo com ternura e compaixão; tornai-vos cada vez mais promotores deste amor pelo povo, pela sua vida e pelo seu futuro, que representa a síntese dos vossos ideais, conscientes de que este amor é capaz de gerar novas relações e dar vida a uma ordem mais justa através de “casas” e “famílias” animadas pelo fermento da igualdade, justiça e fraternidade.

Confio-vos à proteção materna de Maria, Mãe de Jesus, Mulher de fé e esperança. Que Ela vos guie nesta missão significativa, para que possais testemunhar com alegria o Evangelho da vida. Acompanho-vos a todos com a minha oração e a Bênção que, de coração, invoco sobre vós e as vossas famílias, e peço-vos que rezeis por mim. Obrigado!