Para encontrar o que se perdeu

 Para encontrar o que se perdeu  POR-027
05 julho 2022

Um sabonete, um rolo de papel higiénico, um travesseiro de espuma, lençol, um prato: é tudo o que as pessoas possuem quando a irmã Livia se encontra com elas.

“Eis uma mensagem: uma esposa desesperada porque não sabe como enviar as coisas ao marido que prenderam anteontem”, diz olhando para um velho telemóvel, “podem ser pessoas muito ricas, mas uma vez presas e mandadas para a prisão mais próxima, têm somente as roupas que estão a usar e o kit da prisão”. E é aí que ela intervém, a irmã Livia Ciaramella, encarregada dos percursos reeducativos dentro da prisão “S. Donato” de Pescara. Natural da capital dos Abruzos, religiosa da Congregação das Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria fundada por Madre Eugenia Ravasco, depois de ter sido missionária na Costa do Marfim, em 2006 foi convidada a animar a celebração eucarística pelo então capelão da prisão, padre Marco Pagniello, agora diretor da Cáritas italiana.

Desde então, ela nunca deixou os presos sozinhos. “O momento mais difícil — relata — é quando chegam: o impacto da prisão, quando passam da comida caseira para a da prisão, quando não têm mais nada, perder a ocasião de falar com eles e de os ouvir naquele momento muito delicado, pode levar a consequências irreversíveis”.

A sua constante disponibilidade de ouvir e o seu olhar de amor sem reservas só pode apontar para um Amor maior: com efeito, há muitas iniciativas espirituais que dizem respeito a prisioneiros. Além da celebração da Eucaristia e da oportunidade de se confessar com o capelão, há momentos especiais do ano que a imaginação da irmã Livia sabe explorar para os transformar em momentos de oração intensa: “Em maio, ponho o calendário em cada ambiente da prisão, os presos marcam nela um horário e eu vou à sua cela para recitar o rosário com eles: anteontem recitei-o em sete celas diferentes. Chego, levo a imagem de Nossa Senhora de Fátima, e rezamos todos juntos”.

Mas o seu compromisso é pleno: de manhã a irmã Livia acorda às cinco horas, depois de rezar, recolhe de generosos benfeitores algo de comer para a merenda dos presos, e depois vai à prisão onde todos os dias orienta oficinas de vários tipos para que os reclusos possam usar os seus dotes manuais, produzindo pequenos artesanatos que nos mercados de caridade organizados pela irmã Livia, são vendidos para fornecer as coisas necessárias para os últimos que chegam. Tudo se destina a assegurar que os prisioneiros não percam a sua dignidade: “Eu encontro-me com a pessoa — diz a irmã Livia — mas ao encontrar a pessoa eu levo Jesus, para que aquela pessoa se sinta amada e não julgada”.

A experiência já a levou a conhecer bem as leis do sistema prisional, e a irmã Livia utiliza-as para que os prisioneiros possam ter a oportunidade de experimentar a verdadeira humanidade, porque um amor tão grande não pode permanecer dentro das paredes da prisão, e existem na realidade várias iniciativas que a “religiosa de Ravasco”, como são comummente chamadas as irmãs da sua Congregação, organizou fora da prisão com os próprios prisioneiros. “Com base no artigo 21, em colaboração com a Unitalsi, várias vezes levámos alguns jovens a prestar serviço aos doentes em Pompeia ou Loreto: eles encarregaram-se de empurrar as cadeiras de rodas e de os ajudar no que seja necessário”.

É também dada especial atenção à celebração eucarística, sempre preparada com muito cuidado:

“Segundo o art. 17, em ocasiões especiais, como Natal e Páscoa, quando o Arcebispo Valentinetti vem celebrar, chamo os jovens que tocam vários instrumentos, para tornar a celebração eucarística ainda mais bonita: temos um grupo litúrgico, todos os domingos já sabemos quem terá de ler ou prestar os vários serviços”.

Muitas histórias de sofrimento, tantas famílias desfeitas que encontram nesta pequena religiosa de idade indefinível, uma âncora de salvação. E isto dá frutos de várias maneiras e, entre muitos, também o mais bonito: “Por vezes acontece que as pessoas me pedem para lhes ensinar a rezar, com frequência esta é a pergunta-sintoma que me leva a interrogar se são batizadas. Pode acontecer que não o sejam. E por isso tenho o cuidado de providenciar cursos personalizados, além do catecismo ao sábado, para que possam receber os sacramentos da iniciação cristã”.

Sendo a prisão intitulada a um Santo, a irmã Livia também conseguiu levar o próprio São Donato para dentro da prisão: com efeito, em 2018 a urna que contém as relíquias do santo chegou de Castiglione Messer Raimondo ( pe ) e foi levada à prisão por um dia inteiro de oração e celebração eucarística.

A preocupação da irmã Livia obviamente também é pelo que vem depois da prisão, razão pela qual existe uma colaboração permanente com a Comunidade educandos com os presos, um projeto da Comunidade do Papa João xxiii , que se ocupa da reeducação dos prisioneiros: “Quando saem da prisão, devem ser mais fortes do que antes, caso contrário a prisão limita-se a manter as pessoas dentro”.

#sistersproject

Valentina Angelucci