Texto do discurso entregue

Não é suficiente viver “conectados” para criar pontes

 Não é suficiente viver “conectados” para criar pontes  POR-027
05 julho 2022

Eis o texto do discurso entregue pelo Sumo Pontífice.

Estimados irmãos, bom dia!

Dou-vos as boas-vindas e agradeço ao Superior-Geral a sua saudação e apresentação. Viestes por ocasião do vosso xi Capítulo Geral, que tem este tema: «“Transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Rm 12, 2). Chamados a ser artesãos de comunhão para anunciar profeticamente a alegria do Evangelho na cultura da comunicação».

No versículo da Carta aos Romanos que estes dias guiou os vossos trabalhos, o apóstolo Paulo convida todos nós a não nos conformarmos com a mentalidade do mundo, mas a deixar-nos transformar renovando a nossa mente. Paulo não diz “transformai” o mundo, mas “transformai-vos”, aliás, “deixai-vos transformar”, ou seja, dai espaço ao único Sujeito capaz de vos transformar: o Espírito Santo, a Graça de Deus. Deixemo-nos transformar primeiro, e depois transformemos o mundo à nossa volta.

A expressão “renovar a mente” — como me ensinais — está no centro da proposta da vida espiritual e apostólica que o vosso Fundador, beato Giacomo Alberione, elaborou e codificou para vós, precisamente a partir da experiência de São Paulo. O Beato escreveu: «Tudo vem da mente. Se se faz uma boa obra, é porque foi pensada, depois desejada e realizada. Por conseguinte, o primeiro ponto a considerar é sempre a mente» (Alle Pie Discepole del Divin Maestro, viii , Roma, 1986, 365).

Portanto, antes de tudo, é a mentalidade que deve ser mudada, convertida, assimilada à de Jesus Mestre, a fim de contribuir para difundir na sociedade um modo de pensar e de viver fundado no Evangelho. É um grande desafio para a Igreja e para vós, Paulinos, caraterizado pelo carisma institucional da comunicação. Com efeito, não basta utilizar os meios de comunicação para propagar a mensagem cristã e o Magistério da Igreja; é necessário integrar a própria mensagem na nova cultura criada pela comunicação moderna. Uma cultura que surge, até antes do conteúdo, do próprio facto de existirem renovadas formas de comunicar com novas linguagens, novas técnicas e novas atitudes psicológicas (cf. Enc. Redemptoris missio, 37, c).

Um tema-chave a este respeito é o das relações interpessoais no mundo globalizado e hiperconectado. É um tema-chave tanto a nível humano e social, como eclesial, porque toda a vida cristã começa e desenvolve-se através de relações de pessoa a pessoa. E agora, após os primeiros dias de euforia pelas novidades tecnológicas, estamos conscientes de que não é suficiente viver “na rede” nem “conectados”, pois devemos ver até que ponto a nossa comunicação, enriquecida pelo ambiente digital, constrói efetivamente pontes e contribui para a construção da cultura do encontro.

Para a vossa missão específica de evangelização no mundo da comunicação, o padre Alberione queria que fôsseis homens consagrados, chamados a dar testemunho do Evangelho com dedicação sem reservas ao apostolado. Por isso, olhai para o apóstolo Paulo como modelo de homem conquistado por Cristo e impelido pela sua caridade ao longo dos caminhos do mundo. De Paulo, aprendei sempre de novo a paixão pelo Evangelho e o espírito missionário que, brotando do seu “coração pastoral”, o levaram a fazer-se tudo para todos. E, falando de Paulo, um aspeto que corre o risco de ser ignorado, mas que na realidade aparece claramente nas suas cartas, é que ele não agia sozinho, como um herói isolado, mas sempre em colaboração com os seus companheiros de missão. Por conseguinte, com ele aprendei também a trabalhar em grupo, a trabalhar “em rede”, a ser artesãos de comunhão, utilizando os meios de comunicação mais eficazes e atualizados para chegar às pessoas com a Boa Nova onde e como vivem.

Procurai cultivar este estilo de comunhão em primeiro lugar entre vós, nas vossas comunidades e na Congregação, praticando aquela sinodalidade que em toda a Igreja nos propusemos aprofundar e sobretudo exercer a todos os níveis. Falando-vos, peço-vos que ponhais o vosso carisma ao serviço deste processo, ou seja, que ajudeis a Igreja a caminhar unida, valorizando ao máximo os meios de comunicação. É um serviço que desde sempre vos vê atentos, mas que nesta fase exige reflexão e estudo temático. Em duas palavras, o tema é: sinodalidade e comunicação.

Mas não gostaria que vos sentísseis considerados apenas neste nível, digamos “profissional”, da vossa competência específica. Não, sois chamados a viver normalmente a comunhão na fraternidade, nas vossas relações com as comunidades diocesanas em que viveis, e naturalmente com a grande e variada Família paulina. Que o vosso horizonte seja sempre o de Paulo, isto é, toda a humanidade do nosso tempo, a quem se destina o Evangelho de Cristo, especialmente àqueles que parecem ser os “distantes”, os indiferentes e até os hostis. Muitas vezes, olhando bem, estas pessoas escondem dentro de si um anseio por Deus, uma sede de amor e verdade.

Estimados irmãos, obrigado pela vossa visita e especialmente pelo vosso compromisso ao serviço da Igreja e da evangelização. Que Maria, Rainha dos Apóstolos, com a sua proteção materna, vos acompanhe sempre no vosso caminho. Abençoo de coração todos vós e os vossos confrades. E peço-vos por favor: não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!