A abertura de «caminhos de diálogo que os homens não querem ou não conseguem encontrar» a fim de que a «guerra insensata» na Ucrânia «possa em breve chegar ao fim» foi solicitada pelo Papa no final do Angelus de 29 de junho. Falando ao meio-dia da janela do Palácio apostólico do Vaticano, antes de recitar a prece mariana com os fiéis reunidos na praça de São Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho da solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Padroeiros de Roma. A seguir, a reflexão do Santo Padre.
Prezados irmãos e irmãs!
O Evangelho da Liturgia de hoje, solenidade dos Santos Padroeiros de Roma, cita as palavras que Pedro dirige a Jesus: «Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo» (Mt 16, 16). É uma profissão de fé, que Pedro pronuncia não com base na sua compreensão humana, mas porque Deus Pai a inspirou nele (cf. v. 17). Para o pescador Simão, chamado Pedro, foi o início de um caminho: com efeito, deverá passar muito tempo antes que a compreensão dessas palavras entre profundamente na sua vida, abrangendo-a totalmente. Existe uma “aprendizagem” da fé, que envolveu também os apóstolos Pedro e Paulo, semelhante à de cada um de nós. Também nós acreditamos que Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, mas é preciso tempo, paciência e muita humildade para que o nosso modo de pensar e de agir adira plenamente ao Evangelho.
O apóstolo Pedro experimentou-o imediatamente. Logo depois de ter declarado a sua fé a Jesus, quando Ele anuncia que deverá sofrer e ser condenado à morte, rejeita esta perspetiva, que considera incompatível com o Messias. Sente-se até obrigado a repreender o Mestre, que por sua vez o censura: «Afasta-te de mim, Satanás! Tu és um escândalo para mim, os teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens» (v. 23).
Pensemos: não nos acontece a mesma coisa? Repetimos o Credo, recitamo-lo com fé; mas diante das duras provações da vida, tudo parece vacilar. Somos levados a protestar contra o Senhor, dizendo-lhe que não é correto, que deve haver outros caminhos, mais diretos, menos cansativos. Experimentamos a laceração do crente, que acredita em Jesus, confia n’Ele; mas ao mesmo tempo sente que é difícil segui-lo e sente-se tentado a procurar outros caminhos, que não são os do Mestre. São Pedro viveu este drama interior e precisou de tempo e de amadurecimento. No início sentia-se horrorizado com o pensamento da cruz; mas no fim da vida deu testemunho do Senhor com coragem, a ponto de se deixar crucificar — segundo a tradição — de cabeça para baixo, para não ser igual ao Mestre.
Também o apóstolo Paulo segue o próprio caminho, também ele passou por um lento amadurecimento da fé, experimentando momentos de incerteza e dúvida. A aparição do Ressuscitado no caminho de Damasco, que o fez passar de perseguidor a cristão, deve ser vista como o início de um percurso durante o qual o Apóstolo se reconciliou com as crises, fracassos e tormentos contínuos daquele que ele define “espinho na carne” (cf. 2 Cor 12, 7). O caminho de fé nunca é um passeio, para ninguém, nem para Pedro nem para Paulo, nem para qualquer cristão. O caminho de fé não é um passeio, mas é exigente, às vezes árduo: até Paulo, que se tornou cristão, teve que aprender a sê-lo até ao fundo de modo gradual, especialmente através dos momentos de provação.
À luz desta experiência dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, cada um de nós pode perguntar-se: quando professo a minha fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, faço-o com a consciência de dever aprender sempre, ou suponho que “já entendi tudo”? E ainda: nas dificuldades e provações fico desanimado, queixo-me, ou aprendo a fazer delas uma ocasião para crescer na confiança no Senhor? Com efeito — escreve Paulo a Timóteo — ele livra-nos de todo o mal e leva—nos com segurança para o céu (cf. 2 Tm 4, 18). Que a Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, nos ensine a imitá-los, progredindo dia após dia no caminho da fé.
Depois do Angelus, o Papa lançou um novo apelo a favor da paz na Ucrânia e falou sobre o problema dos incêndios causados pela seca. Depois, anunciou a distribuição aos presentes do primeiro número do novo mensário de «L'Osservatore Romano», dedicado aos desabrigados, formulou os melhores votos aos cidadãos de Roma na festa patronal e agradeceu à delegação do Patriarcado ecuménico de Constantinopla, enviada por Bartolomeu. No final, saudou os fiéis, incluindo os peregrinos que vieram com os arcebispos metropolitanos, cujos pálios foram benzidos durante a missa matutina.
Estimados irmãos e irmãs!
Todos os dias trago no coração a querida e martirizada Ucrânia, que continua a ser flagelada por ataques bárbaros, como aquele que atingiu o centro comercial de Kremenchuk. Rezo para que esta guerra insensata possa em breve chegar ao fim, e renovo o convite a perseverar, sem se cansar, na oração pela paz: que o Senhor abra aqueles caminhos de diálogo que os homens não querem ou não são capazes de encontrar! E não deixemos de socorrer a população ucraniana, que sofre tanto!
Nestes dias, em Roma, deflagraram vários incêndios, favorecidos pelas temperaturas muito elevadas, e em muitos lugares a seca já representa um problema grave, que causa sérios danos às atividades de produção e ao meio ambiente. Desejo que se implementem as medidas necessárias para enfrentar estas urgências e prevenir emergências futuras. Tudo isto deve fazer-nos refletir sobre a tutela da criação, que é responsabilidade nossa, de cada um de nós. Não é uma moda, é uma responsabilidade: o futuro da terra está nas nossas mãos e nas nossas decisões!
Hoje, o primeiro número de «L’Osservatore di strada», o novo mensário de «L’Osservatore Romano», será distribuído aqui na praça. Neste jornal, os últimos tornam-se protagonistas: com efeito, pessoas pobres e marginalizadas participam no trabalho editorial, escrevendo, deixando-se entrevistar, ilustrando as páginas deste mensário, que é oferecido gratuitamente. Se alguém quiser dar algo, pode dar voluntariamente, mas lede-o livremente porque é um bom trabalho que vem da base, dos pobres, como expressão daqueles que são marginalizados.
Nesta festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, os principais santos Padroeiros de Roma, dirijo os meus melhores votos aos romanos e a quantos vivem nesta cidade, esperando que todos possam encontrar nela um acolhimento decoroso e digno da sua beleza. Roma é linda!
Renovo a minha gratidão à Delegação do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, enviada por Sua Santidade Bartolomeu, amado irmão, e transmito-lhe saudações cordiais e fraternas.
Saúdo com afeto os peregrinos que vieram para homenagear os Arcebispos Metropolitanos, cujos Pálios benzi esta manhã.
Saúdo todos vós, caros peregrinos, especialmente os dos Estados Unidos da América e da República Checa, de Berlim e de Londres. Saúdo os jovens da Confirmação de Barbara, perto de Ancona, e os de Grest, de Zagarolo; assim como os participantes na peregrinação que partiu de Aquileia, promovida pela Associação Europeia “Romea Strata” e saúdo os jovens da Imaculada.
Desejo feliz festa a todos. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!