O Pontífice a uma delegação pan-ortodoxa de Igrejas autocéfalas orientais

A unidade é dom harmonia, caminho e missão

 A unidade é dom  harmonia, caminho e missão  POR-024
14 junho 2022

A unidade entre todos os cristãos não é apenas «o resultado do nosso empenho, dos nossos esforços e dos nossos acordos», mas é sobretudo dom, harmonia, caminhar juntos e missão. Sublinhou Francisco no discurso que dirigiu aos jovens sacerdotes e monges das Igrejas Ortodoxas Orientais recebidos em audiência na manhã de 3 de junho, na Biblioteca particular do Palácio apostólico do Vaticano. Trata-se de participantes na visita de estudo — realizada de 31 de maio a 6 de junho — com o objetivo de aprofundar o seu conhecimento da Igreja Católica. Provêm do Egito, Arménia, Líbano, Síria, Índia, Etiópia e Eritreia, e dezoito são de Roma a convite do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Queridos irmãos!

«A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!» (2 Cor 13, 13). Com esta saudação de São Paulo, desejo dar-vos as minhas calorosas boas-vindas e expressar a minha alegria pela vossa visita. As palavras do Apóstolo abrem frequentemente, no rito romano, a Sinaxe Eucarística que, espero, poderemos celebrar juntos no dia em que o Senhor quiser.

É bom que a vossa visita tenha lugar na véspera da Solenidade de Pentecostes que, de acordo com o calendário latino, se celebra no próximo domingo. Gostaria de vos oferecer quatro breves pensamentos que esta festa inspira em mim relativamente à unidade total pela qual ansiamos.

O primeiro pensamento é que a unidade é um dom, um fogo que vem do alto. É claro que, sem cansaço, devemos rezar, trabalhar, dialogar, preparar-nos para que esta graça extraordinária possa ser recebida. Contudo, a realização da unidade não é primariamente um fruto da terra, mas do Céu; não é primariamente o resultado do nosso empenho, dos nossos esforços e dos nossos acordos, mas da ação do Espírito Santo, a quem devemos abrir os nossos corações com confiança para que Ele nos conduza pelos caminhos da plena comunhão. A unidade é uma graça, um dom.

Um segundo ensinamento do Pentecostes é que a unidade é harmonia. A vossa delegação, composta por Igrejas de diferentes tradições em comunhão de fé e sacramentos, ilustra bem esta realidade. A unidade não é uniformidade, nem fruto de compromissos ou frágeis equilíbrios diplomáticos. A unidade é harmonia na diversidade dos carismas suscitados pelo Espírito. Pois o Espírito Santo gosta de suscitar tanto a multiplicidade como a unidade, como no Pentecostes, onde as diferentes línguas não foram reduzidas a uma só, mas assimiladas na sua pluralidade. A harmonia é o caminho do Espírito, pois Ele próprio, como diz São Basílio o Grande, é harmonia.

Um terceiro ensinamento do Dia de Pentecostes é que a unidade é um caminho. Não é um projeto a ser escrito, um plano estudado numa secretária; não é feito em imobilidade, mas em movimento, no novo dinamismo que o Espírito, a partir do Pentecostes, transmite aos discípulos. É feita à medida que avançamos: cresce na partilha, passo a passo, na vontade comum de acolher as alegrias e as fadigas da viagem, nas surpresas que surgem ao longo do caminho. Como escreve São Paulo aos Gálatas, somos obrigados a andar segundo o Espírito (cf. Gl 5, 16.25). Ou, como diz Santo Ireneu, que recentemente proclamei Doutor da Unidade, a Igreja é tôn adelphôn synodia, uma expressão que pode ser traduzida como “uma caravana de irmãos”. Aqui, nesta caravana, a unidade cresce e amadurece, o que — segundo o estilo de Deus — não vem como um milagre repentino e espetacular, mas sim na partilha paciente e perseverante de um caminho feito juntos.

Um último aspeto. A unidade não é simplesmente um fim em si mesma, mas está ligada à fecundidade do anúncio: a unidade é para a missão. Como Jesus orou: «Que todos sejam um ... para que o mundo creia» (Jo 17, 21). No Pentecostes, a Igreja nasce missionária. E ainda hoje o mundo espera, mesmo sem o saber, conhecer o Evangelho da caridade, da liberdade e da paz que somos chamados a testemunhar uns com os outros, não uns contra os outros ou longe uns dos outros. A este respeito, estou grato pelo testemunho comum oferecido pelas vossas Igrejas, penso especialmente em quantos — e são muitos — selaram a sua fé em Cristo com o sangue. Obrigado por todas as sementes de amor e esperança espalhadas, em nome do Crucificado Ressuscitado, em várias regiões ainda marcadas, infelizmente, pela violência e conflitos demasiadas vezes esquecidos.

Caros irmãos e irmãs, que a cruz de Cristo seja a bússola que nos orienta no caminho rumo à plena unidade. Pois foi sobre esse madeiro que Cristo, a nossa paz, nos reconciliou, reunindo-nos a todos num só povo (cf. Ef 2, 14). E assim coloco idealmente nos braços da cruz, altar da unidade, as palavras que queria partilhar convosco, quase como quatro pontos cardeais de plena comunhão, que é dom, harmonia, caminho, missão.

Agradeço-vos a vossa visita e garanto-vos a recordação na oração, confiando na vossa também por mim e pelo meu serviço. O Senhor vos abençoe e a Mãe de Deus vos proteja. Se quiserdes, cada qual na própria língua, podemos rezar juntos o Pai-Nosso.