Um duplo apelo à paz na Ucrânia e no Iémen foi lançado pelo Papa Francisco no final do Regina caeli recitado ao meio-dia de 5 de junho, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, com os fiéis reunidos na praça de São Pedro. Antes da oração mariana, o Pontífice comentou o Evangelho do domingo de Pentecostes. Eis a sua meditação.
Caros irmãos e irmãs
bom dia, bom domingo!
E hoje também boa festa, porque se celebra a Solenidade de Pentecostes. Celebra-se a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos, que teve lugar cinquenta dias após a Páscoa. Jesus prometeu-o várias vezes. Na liturgia de hoje, o Evangelho regista uma destas promessas, quando Jesus disse aos discípulos: «O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e recordar-vos-á o que vos disse» (Jo 14, 26). Eis o que faz o Espírito: ensina e recorda o que Cristo disse. Reflitamos sobre estas duas ações, ensinar e recordar, porque é assim que Ele faz entrar o Evangelho de Jesus nos nossos corações.
Antes de tudo, o Espírito Santo ensina. Desta forma, ajuda-nos a superar um obstáculo que se apresenta na experiência da fé: o da distância. Ele ajuda-nos a superar o obstáculo da distância na experiência da fé. De facto, pode surgir a dúvida de que entre o Evangelho e a vida quotidiana exista uma grande distância: Jesus viveu há dois mil anos, foram outros tempos, outras situações, e por isso o Evangelho parece ultrapassado, parece inadequado para falar aos nossos dias com as suas necessidades e problemas. Também a nós surge esta pergunta: o que pode o Evangelho dizer na era da internet, e na época da globalização? Como pode incidir a sua palavra?
Podemos dizer que o Espírito Santo é especialista em preencher distâncias, Ele sabe como transpor distâncias; Ele ensina-nos a superá-las. É Ele que liga o ensinamento de Jesus a cada tempo e a cada pessoa. Com Ele as palavras de Cristo não são uma memória, não: as palavras de Cristo pelo poder do Espírito Santo tornam-se vivas, hoje! O Espírito torna-as vivas para nós: através da Sagrada Escritura Ele fala-nos e orienta-nos no presente. O Espírito Santo não teme o passar dos séculos; pelo contrário, Ele torna os crentes atentos aos problemas e vicissitudes do seu tempo. De facto, quando o Espírito Santo ensina, atualiza: ele mantém a fé sempre jovem. Arriscamo-nos a fazer da fé uma peça de museu: é o risco! Ele, ao contrário, põe-na ao passo com os tempos, sempre atualizada, a fé em dia: esta é a sua tarefa. Pois o Espírito Santo não se prende a épocas nem a modas passageiras, mas traz aos dias de hoje a atualidade de Jesus, ressuscitado e vivo.
E como faz isto o Espírito? Fazendo-nos recordar. Eis o segundo verbo, recordar. O que significa recordar? Recordar significa trazer de volta ao coração, recordar: o Espírito traz o Evangelho de volta ao nosso coração. Acontece como com os Apóstolos: eles ouviram Jesus muitas vezes, no entanto tinham-no compreendido pouco. O mesmo acontece connosco. Mas a partir do Pentecostes, com o Espírito Santo, recordam e compreendem. Acolhem as suas palavras como feitas especialmente para eles e passam de um conhecimento exterior, de um conhecimento da memória, para uma relação viva, uma relação convicta e jubilosa com o Senhor. É o Espírito que faz isto, que nos faz passar do “ouvir dizer” para um conhecimento pessoal de Jesus, que entra no coração. Assim o Espírito muda a nossa vida: Ele faz com que os pensamentos de Jesus se tornem os nossos pensamentos. E fá-lo relembrando-nos as suas palavras, trazendo-nos ao coração, hoje, as palavras de Jesus.
Irmãos e irmãs, sem o Espírito para nos recordar Jesus, a fé fica esquecida. Tantas vezes a fé torna-se uma recordação sem memória: mas a memória está viva e a memória viva é trazida pelo Espírito. E nós — perguntemo-nos — somos cristãos esquecidos? Talvez seja suficiente uma adversidade, um cansaço, uma crise para esquecer o amor de Jesus e cair na dúvida e no nosso medo? Ai de nós! Tenhamos o cuidado de não nos tornarmos cristãos esquecidos. O remédio é invocar o Espírito Santo. Façamo-lo com frequência, especialmente em momentos importantes, antes de decisões difíceis e nas situações complicadas. Peguemos o Evangelho e invoquemos o Espírito. Podemos dizer: “Vem, Espírito Santo, recorda-me Jesus, ilumina o meu coração”. É uma bela oração, esta: “Vem, Espírito Santo, recorda-me Jesus, ilumina o meu coração”. Digamo-la juntos? “Vem, Espírito Santo, recorda-me Jesus, ilumina o meu coração”. Depois, abramos o Evangelho e leiamos um pequeno trecho, lentamente. E o Espírito fará com que ele falar à nossa vida.
Que a Virgem Maria, cheia do Espírito Santo, acenda em nós o desejo de rezar a Ele e de receber a Palavra de Deus.
No final da prece mariana o Papa recordou os dramas da Ucrânia e do Iémen e a beatificação no Líbano de dois frades capuchinhos mártires. E concluiu, rezando pelas vítimas das inundações no Brasil e pelos pescadores que sofrem por causa do aumento do custo do combustível.
Estimados irmãos e irmãs!
No Pentecostes o sonho de Deus sobre a humanidade torna-se realidade; cinquenta dias após a Páscoa, povos que falam línguas diferentes encontram-se e compreendem-se. Mas agora, cem dias após o início da agressão armada contra a Ucrânia, o pesadelo da guerra, que é a negação do sonho de Deus, desceu de novo sobre a humanidade: povos em confronto, povos a matarem-se, povos que, em vez de se aproximarem, são expulsos das próprias casas. E à medida que a fúria da destruição e da morte grassa e o conflito se reacende, alimentando uma escalada cada vez mais perigosa para todos, renovo o apelo aos líderes das nações: por favor, não leveis a humanidade à ruína! Não leveis a humanidade à ruína, por favor! Que se realizem verdadeiras conversações, negociações concretas para um cessar-fogo e para uma solução sustentável. Que o clamor desesperado do povo sofredor seja ouvido — vemo-lo todos os dias nos meios de comunicação social — que a vida humana seja respeitada e que tenha fim a terrível destruição de cidades e aldeias no leste da Ucrânia. Continuemos, por favor, a rezar e a trabalhar pela paz, sem nos cansarmos.
Ontem, em Beirute, foram beatificados dois frades menores capuchinhos, Leonard Melki e Thomas George Saleh, sacerdotes e mártires, assassinados por ódio à fé na Turquia respetivamente em 1915 e 1917. Estes dois missionários libaneses, num contexto hostil, deram provas de confiança inabalável em Deus e de abnegação para com o próximo. Que o seu exemplo reforce o nosso testemunho cristão. Eram jovens, tinham menos de 35 anos. Um aplauso aos novos Beatos!
Tomei conhecimento com satisfação que a trégua no Iémen foi renovada por mais dois meses. Graças a Deus e a vós. Espero que este sinal de esperança possa ser mais um passo para pôr fim a este conflito sangrento, que gerou uma das piores crises humanitárias do nosso tempo. Por favor, não esqueçamos de pensar nas crianças do Iémen: fome, destruição, falta de escolas, falta de tudo. Pensemos nas crianças!
Gostaria de assegurar as minhas orações pelas vítimas dos deslizamentos de terra causados pelas chuvas torrenciais na região metropolitana do Recife, no Brasil.
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos! Saúdo a Associação “Advocacia em missão”; os membros do Movimento Internacional de Reconciliação e do Movimento não violento; o grupo escoteiro francês “Saint Louis”, a Sociedade de São Vicente de Paulo e a fraternidade Evangelii gaudium. Saúdo os fiéis de Piacenza d’Adige, o Coro de Castelfidardo, os jovens de Pollone e os de Cassina de’ Pecchi — lembro-me de quando visitei estes lugares há tantos anos — os peregrinos dos Santuários Antoniani de Camposampiero e os ciclistas de Sarcedo, e saúdo também os jovens da Immacolata.
Manifesto a minha proximidade aos pescadores, pensemos nos pescadores que, devido ao aumento do custo do combustível, correm o risco de ter de cessar a sua atividade; e estendo-a a todas as categorias de trabalhadores seriamente penalizados pelas consequências do conflito na Ucrânia.
Eu rezo por vós, vós rezai por mim. Desejo a todos bom domingo. Bom almoço e até à vista!