Fraternidade e cuidado da casa comum: os dois grandes desafios do nosso tempo

 Fraternidade e cuidado da casa comum: os dois grandes desafios do nosso tempo  POR-022
31 maio 2022

Os dois grandes desafios do nosso tempo — a fraternidade e o cuidado da casa comum — «não podem encontrar uma resposta, a não ser através da educação», disse o Papa na manhã de 21 de maio na Sala do Consistório, durante a audiência concedida aos participantes no 46º capítulo geral dos Irmãos das escolas cristãs, recordando a sua rica tradição pedagógica e reiterando a necessidade de um novo pacto educativo global.

Prezados irmãos
bom dia e bem-vindos!

Agradeço ao Superior-Geral as suas palavras e também o “Lolo Kiko” [saudação filipina: “avô Francisco”], e formulo os meus melhores votos a ele e ao seu Conselho. Tenho o prazer de me encontrar convosco por ocasião do vosso 46º Capítulo Geral, que tem como tema “Construir novas estradas para transformar vidas”. É bom compreender assim o Capítulo, caminhando, como um canteiro de construção de novas estradas, que conduzam ao encontro dos irmãos, especialmente dos mais pobres. Mas sabemos que o “Caminho”, a via verdadeiramente nova, é Jesus Cristo: seguindo-o, caminhando com Ele, a nossa vida é transformada e nós, por nossa vez, tornamo-nos fermento, sal e luz.

Para vós, de acordo com o carisma de São João Batista de la Salle, estes “novos caminhos” são antes de mais nada percursos de educação, a realizar nas escolas, colégios e universidades que geris em cerca de cem países onde estais presentes. Uma grande responsabilidade! Dou graças ao Senhor convosco por isso, pois a obra educativa é um grande dom antes de tudo para quantos a realizam: é um trabalho que exige muito, mas também oferece muito! A relação constante com os educadores, os pais e especialmente as crianças e os jovens é uma fonte de humanidade sempre viva, não obstante todas as dificuldades e problemas que implica.

Nesta relação, neste caminho que percorreis com eles, ofereceis os valores da vossa rica tradição pedagógica: educais para a responsabilidade, a criatividade, a convivência, a justiça e a paz; educais para a vida interior, para a abertura ao Transcendente, para o sentido de enlevo e contemplação diante do mistério da vida e da criação. Viveis e interpretais tudo isto em Cristo, traduzindo-o em plenitude de humanidade. Vem-me à mente o lema de São João Paulo ii , na Redemptor hominis: “O homem é o caminho da Igreja”. Pondes em prática este lema na missão educativa. É o vosso modo de realizar o que São Paulo escreve: “Formar Cristo em vós” (cf. Gl 4, 19). É o vosso apostolado, educar assim, a vossa contribuição específica para a evangelização: fazer crescer o humano segundo Cristo. Neste sentido, as vossas escolas são “cristãs”, não com um rótulo externo, mas porque percorrem este caminho.

Estamos cientes de que o mundo vive uma emergência educativa. Rompeu-se o pacto educativo, e agora o Estado, os educadores e a família estão separados. Devemos procurar um novo pacto que seja comunicação, trabalhar juntos. Esta emergência educativa tornou-se mais aguda devido às consequências da pandemia. Os dois grandes desafios do nosso tempo: o desafio da fraternidade e o desafio do cuidado da casa comum, não podem encontrar resposta, a não ser através da educação. Ambos são, acima de tudo, desafios educativos. E graças a Deus, a comunidade cristã não só está consciente disto, mas também participa neste trabalho, e há já algum tempo procura “construir novas veredas para transformar” o estilo de vida. E vós, irmãos, fazeis parte deste canteiro de construção, aliás, estais na vanguarda, educando a fim de passar de um mundo fechado para um mundo aberto; de uma cultura descartável para uma cultura de cuidados; de uma cultura de descarte para uma cultura de integração; da procura de interesses de parte para a busca do bem comum. Como educadores, sabeis muito bem que esta transformação deve começar pela consciência, caso contrário será apenas de fachada. E também sabeis que não podeis fazer este trabalho sozinhos, mas cooperando em “aliança educativa” com as famílias, as comunidades e as agregações eclesiais, com as realidades de formação presentes no território.

Caros irmãos, este é o vosso campo de trabalho. Mas para ser bons operários, não deveis descuidar-vos! Não podeis oferecer aos jovens o que não tendes em vós. O educador cristão, na escola de Cristo, é sobretudo testemunha, e será mestre na medida em que for testemunha. Nada tenho a ensinar-vos nisto, mas apenas, como irmão, quero lembrar-vos: testemunho. E sobretudo rezo por vós, para que sejais irmãos não só de nome, mas de facto. E para que as vossas escolas sejam cristãs não de nome, mas de facto.

Obrigado pelo que sois e fazeis! Ide em frente com a alegria de evangelizar educando e educar evangelizando. Abençoo-vos, bem como todas as vossas comunidades. E vós, por favor, não vos esqueçais de orar por mim. Obrigado!