Discurso do Santo Padre a quatro novos embaixadores por ocasião da apresentação das cartas credenciais

Continuar a trabalhar para uma solução pacífica dos conflitos

 Continuar a trabalhar  para uma solução pacífica dos conflitos  POR-021
24 maio 2022

«A Santa Sé continua a trabalhar através de numerosos canais para favorecer soluções pacíficas em situações de conflito e para aliviar o sofrimento causado por outros problemas sociais», recordou o Papa Francisco a quatro novos embaixadores que apresentaram as cartas credenciais na Sala Clementina, na manhã de 19 de maio. A seguir, o discurso proferido pelo Pontífice.

Excelências!

Saúdo-vos calorosamente e aceito de bom grado as Cartas que vos credenciam junto da Santa Sé como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos países: Paquistão, Emirados Árabes Unidos, Burundi e Qatar. Ao transmitir as minhas saudações aos vossos respetivos Chefes de Estado, peço-vos gentilmente que lhes assegureis a lembrança nas minhas orações pelo desempenho do seu importante serviço.

Embora não haja um momento ideal, certamente começais a vossa nova missão num momento particularmente desafiante. A última vez que me encontrei com os vossos colegas, em janeiro, a família humana começava a dar um suspiro de alívio, pois lenta mas indubitavelmente estávamos a libertar-nos das garras da pandemia. Parecia que finalmente podíamos voltar a uma certa sensação de normalidade, tendo em mente as lições aprendidas ao longo dos últimos dois anos. Depois, a obscura nuvem da guerra desceu sobre a Europa Oriental, envolvendo em seguida direta ou indiretamente o mundo inteiro. Tendo experimentado os efeitos devastadores de duas guerras mundiais e ameaças nucleares durante a guerra fria, com um crescente respeito pelo papel do direito internacional e a criação de organizações políticas e económicas multinacionais, centradas na coesão da comunidade global, a maioria das pessoas acreditava que a guerra na Europa era uma lembrança distante. E pensava-se nas crianças que teriam perguntado às mães: “Mãe, o que era a guerra?”. Mas não foi assim.

No entanto, como vimos no auge da pandemia, mesmo numa tragédia desta magnitude, pode emergir o melhor da humanidade. Talvez mais do que nunca, as formas modernas de comunicação abalaram as nossas consciências, apresentando em tempo real imagens poderosas e, por vezes, horripilantes do sofrimento e da morte. Estas mesmas imagens também inspiraram um sentido de solidariedade e fraternidade, que levou muitos países e indivíduos a prestar assistência humanitária. Penso, em particular, nos países que acolhem refugiados do conflito, independentemente do custo. Vimos famílias abrir a casa a outros membros da família, amigos e até a desconhecidos.

Ao mesmo tempo, não devemos esquecer que existem muitos outros conflitos em curso no mundo que recebem pouca ou nenhuma atenção, especialmente da parte dos meios de comunicação social. Somos uma família humana e o grau de indignação expresso, o apoio humanitário oferecido e o sentido de fraternidade experimentado por aqueles que sofrem não deve basear-se na geografia nem no interesse próprio. Pois «se toda a pessoa possui uma dignidade inalienável, se todo o ser humano é meu irmão ou minha irmã e se, na realidade, o mundo pertence a todos, não importa se alguém nasceu aqui ou vive fora dos confins do seu próprio país» (Fratelli tutti, 125). Isto aplica-se não só à guerra e aos conflitos violentos, mas também a outras situações de injustiça que afligem a família humana: alterações climáticas, pobreza, fome, falta de água potável, acesso a trabalho respeitável e educação adequada, para citar apenas algumas.

A Santa Sé continua a trabalhar através de numerosos canais para promover soluções pacíficas em situações de conflito e para aliviar o sofrimento causado por outros problemas sociais. Fá-lo com a convicção de que os problemas que afetam toda a família humana exigem uma resposta unitária da comunidade internacional, na qual cada membro desempenha o seu papel.

Caros Embaixadores, tendes um papel privilegiado a desempenhar a este respeito. Sabeis muito bem que a guerra é sempre uma derrota para a humanidade e é contrária ao importante serviço que prestais ao procurar construir uma cultura de encontro através do diálogo e ao encorajar a compreensão mútua entre os povos, bem como ao defender os nobres princípios do direito internacional. O vosso serviço não é nada fácil, mas talvez as situações de desigualdade e injustiça a que assistimos hoje no mundo nos ajudem a apreciar ainda mais o vosso trabalho. Apesar dos desafios e contrariedades, nunca devemos perder a esperança nos esforços para construir um mundo no qual a fraternidade e a compreensão recíproca prevaleçam e os desentendimentos sejam resolvidos com meios pacíficos.

Estimados Embaixadores, no início da vossa nova missão, apresento-vos os meus melhores votos e asseguro-vos que os departamentos da Santa Sé estão à vossa disposição para tratar de assuntos de interesse comum. De coração invoco as bênçãos divinas de sabedoria e paz sobre vós, as vossas famílias, os vossos colaboradores diplomáticos e o pessoal. Obrigado!