Cada batizado é uma missão

 Cada batizado é uma missão  POR-021
24 maio 2022

«Paulina Jaricot gostava de dizer que a Igreja é missionária por sua natureza e portanto cada batizado tem uma missão, aliás, é uma missão», ressaltou o Papa Francisco na mensagem enviada às Pontifícias Obras Missionárias ( pom s) por ocasião da inauguração, a 16 de maio, da assembleia geral em Leão. No Centro Valpré, na cidade francesa, os trabalhos continuaram até dia 23, a seguir à beatificação da fundadora da Obra da Propagação da Fé, que foi presidida, em representação do Pontífice, pelo prefeito da Congregação para a evangelização dos povos, cardeal Luis Antonio G. Tagle. Eis o texto da mensagem do Santo Padre.

N

este ano especial, reunistes-vos em Leão, cidade natal das Pontifícias Obras Missionárias, onde será celebrada a beatificação de Paulina Jaricot, fundadora da Obra da Propagação da Fé. É o bicentenário da mesma, bem como o centenário da sua elevação, com a Obra da Sagrada Infância e a Obra de São Pedro Apóstolo, à categoria de “Pontifícia”. Mais tarde a elas acrescentou-se, também reconhecida por Pio xii , a Pontifícia União Missionária, que celebra o 150º aniversário de nascimento do fundador, Beato Paulo Manna.

Estes aniversários inserem-se na celebração do 400º aniversário da Congregação de Propaganda Fide, à qual as Obras Missionárias estão intimamente ligadas e com a qual colaboram na ajuda às Igrejas nos territórios confiados ao Dicastério. Ele foi instituído para apoiar e coordenar a propagação do Evangelho em terras até então desconhecidas. Mas o impulso evangelizador nunca esmoreceu na Igreja e continua a ser sempre o seu dinamismo fundamental. Por isso, eu quis que também na renovada Cúria romana o Dicastério para a Evangelização desempenhasse um papel especial, a fim de favorecer a conversão missionária da Igreja (cf. Praedicate evangelium, 2-3), que não é proselitismo, mas testemunho: sair de si para proclamar com a vida o amor gratuito e salvífico de Deus por nós, todos chamados a ser irmãos e irmãs.

Portanto, marcastes encontro em Leão porque ali, há 200 anos, uma jovem de 23 anos, Paulina Maria Jaricot, teve a coragem de fundar uma Obra para apoiar a atividade missionária da Igreja; alguns anos mais tarde, deu vida ao “Rosário Vivo”, um organismo dedicado à oração e à partilha das oferendas. De família rica, ela morreu na pobreza: com a sua beatificação, a Igreja testemunha que ela soube acumular tesouros no Céu (cf. Mt 6, 19), tesouros que nascem da coragem do dom e revelam o segredo da vida: só doando-a a possuiremos, só perdendo-a a encontraremos (cf. Mc 8, 35).

Paulina Jaricot gostava de dizer que a Igreja é por sua natureza missionária (cf. Ad gentes, 2) e, portanto, cada batizado tem uma missão, aliás, é uma missão. Ajudar a viver esta consciência é o principal serviço das Pontifícias Obras Missionárias, um serviço que elas levam a cabo com o Papa e em nome do Papa. Este vínculo das pom s com o ministério petrino, estabelecido há cem anos, traduz-se em serviço concreto aos Bispos, às Igrejas particulares, a todo o Povo de Deus. Ao mesmo tempo tendes a tarefa de, segundo o Concílio (cf. Ad gentes, 38), ajudar os Bispos a abrir cada Igreja particular aos horizontes da Igreja universal.

Os jubileus que celebrais e a beatificação de Paulina Jaricot oferecem-me a ocasião para vos propor de novo três aspetos que, graças à ação do Espírito Santo, contribuíram em grande medida para a propagação do Evangelho na história das pom s.

Em primeiro lugar, a conversão missionária: a bondade da missão depende do caminho de saída de si mesmo, do desejo de não centrar a vida em si próprio, mas em Jesus, em Jesus que veio para servir e não para ser servido (cf. Mc 10, 45). Neste sentido, Paulina Jaricot via a sua existência como uma resposta à misericórdia compassiva e terna de Deus: desde a juventude procurou identificar-se com o seu Senhor, inclusive através dos sofrimentos suportados, com a finalidade de acender a chama do seu amor em cada homem. Aí reside a nascente da missão, no ardor de uma fé que não se contenta e que, através da conversão, se faz imitação dia após dia, para canalizar a misericórdia de Deus pelas sendas do mundo.

Mas isto só é possível — segundo aspeto — através da oração, que é a primeira forma de missão (cf. Mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 20 de maio de 2020). Não foi por acaso que Paulina uniu a Obra da Propagação da Fé ao Rosário Vivo, como que para reiterar que a missão começa com a oração e não pode realizar-se sem ela (cf. At 13, 1-3). Sim, pois é o Espírito do Senhor que precede e permite todas as nossas boas obras: a sua graça tem sempre a primazia. Caso contrário, a missão tornar-se-ia um correr em vão.

Por fim, a consistência da caridade: com a rede de oração, Paulina deu vida a uma coleta de ofertas em vasta escala e de forma criativa, acompanhando-a com informações sobre a vida e as atividades dos missionários. O óbolo de tantas pessoas simples foi providencial para a história das missões.

Caros irmãos e irmãs que fazeis parte da Assembleia Geral das pom s, desejo que caminheis no sulco traçado por esta grande missionária, deixando-vos inspirar pela sua fé concreta, pela sua coragem audaz e pela sua criatividade generosa. Por intercessão da Virgem Maria, Estrela da Evangelização, invoco sobre cada um de vós a bênção do Senhor e peço-vos, por favor, que rezeis por mim!

Roma, São João de Latrão
12 de maio de 2022.

Francisco