Francisco ao Congresso de Solidariedade internacional promovido pelos trinitários

Libertar homens, mulheres e crianças escravizados

 Libertar homens, mulheres  e crianças escravizados  POR-018
03 maio 2022

«Também no nosso tempo, que se gaba de ter abolido a escravidão, na realidade há muitos, demasiados homens e mulheres, inclusive crianças, reduzidos a viver em condições desumanas, escravizados», disse o Papa Francisco recebendo em audiência na manhã de 25 de abril, na Sala Clementina, os participantes no Congresso de Solidariedade internacional trinitária, promovido pela Ordem da Santíssima Trindade. «A liberdade religiosa é violada, por vezes espezinhada, em muitos lugares e de vários modos, alguns rudes e evidentes, outros astuciosos e ocultos», afirmou. A seguir, o discurso do Pontífice.

Queridos irmãos e irmãs
bom dia e bem-vindos!

Sinto-me feliz por vos receber, participantes no Congresso de “Solidariedade Internacional Trinitária”, expressão da Ordem da Santíssima Trindade. Agradeço ao Superior-Geral as suas palavras de saudação e introdução.

Fiquei positivamente impressionado com o modo como soubestes atualizar o carisma da Ordem dando vida a esta organização, que defende a liberdade religiosa não de forma teórica, mas cuidando de pessoas perseguidas e encarceradas por causa da sua fé. Ao mesmo tempo, contudo, não faltam da vossa parte estudo e reflexão, que também encontram expressão na esfera académica através do curso de estudos sobre liberdade religiosa no Angelicum, cátedra intitulada ao vosso fundador São João de Matha.

Felicito-vos por este compromisso que estais a levar a cabo, inspirando-vos no carisma originário. Remontemos a mais de oito séculos, ao tempo de São Francisco de Assis. O Espírito Santo suscitou naquele tempo — como faz sempre, em todas as épocas — testemunhas capazes de responder, de acordo com o Evangelho, aos desafios do momento. João de Matha foi chamado por Cristo para dar a vida pela libertação dos escravos, tanto cristãos como muçulmanos. Não quis fazê-lo sozinho, individualmente, mas fundou uma nova Ordem para este fim, uma ordem “em saída”, nova também na sua forma de vida, que devia ser um apostolado “no mundo”. E o Papa Inocêncio iii deu a sua aprovação e o seu total apoio.

“Ordem da Santíssima Trindade e dos captivi”, ou seja, dos escravos e prisioneiros. Esta combinação é também motivo de reflexão: a Trindade e os escravos. Não se pode deixar de pensar no primeiro “sermão” de Jesus na sinagoga de Nazaré, quando leu a passagem do profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, / e enviou-me para anunciar a Boa Nova, / a anunciar aos cativos a redenção / […] para mandar em liberdade os cativos» (Lc 4, 18; cf. Is 61, 1-2). Jesus é o enviado do Pai e é movido pelo Espírito Santo. Nele a Trindade inteira trabalha. E a obra de Deus-Amor, Pai, Filho e Espírito Santo, é a redenção do homem: por esta razão Cristo derramou o seu sangue na cruz. Em resgate por nós, por cada um de nós. Esta obra prolonga-se na missão de toda a Igreja. Mas na vossa Ordem encontrou uma expressão singular, peculiar, diria “literal” — quase como a pobreza em Francisco — ou seja, o compromisso com a redenção dos escravos. “Redimir”. E para redimir alguém deve pagar, e pagais o preço com a vossa vida. Isto é lindo.

Este carisma, infelizmente, é de uma atualidade flagrante! É assim porque até no nosso tempo, que se gaba de ter abolido a escravidão, na realidade há muitos, demasiados homens e mulheres, inclusive crianças, reduzidos a viver em condições desumanas, escravizados. E também porque, como o vosso congresso corretamente assinala, a liberdade religiosa é violada, por vezes espezinhada em muitos lugares e de vários modos, alguns rudes e evidentes, outros astuciosos e ocultos. Outrora havia o hábito de dividir a humanidade em bons e maus: “Este país é bom...” — “Mas fabrica bombas!” — “Não, é bom” — “E este é mau...”. Não, hoje a maldade impregnou todos e em todos os países há bons e maus. A maldade, hoje, está em todo o lado, em todos os Estados. Talvez até no Vaticano!

Caríssimos, agradeço-vos pelo vosso trabalho e encorajo-vos a levá-lo em frente, também colaborando com outras instituições, eclesiais e não, que partilham o vosso nobre objetivo. Mas, por favor, sem perder o vosso carisma específico, sem o “diluir”. Que Nossa Senhora e São João de Matha acompanhem sempre o caminho da Ordem e o serviço da Solidariedade Internacional Trinitária. Abençoo-vos de coração. E por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

[Bênção].

Depois da foto saudar-vos-ei, mas desculpai-me, tenho que o fazer sentado, não de pé, porque o joelho... É aquela doença a que outrora se chamava “doença das freiras”, porque era o tempo em que as religiosas rezavam, e por causa de tanta oração de joelhos adoeciam! Irá sarar mas, entretanto, temos que fazer bem as coisas.