Coleta anual a favor da Terra Santa

Para continuar a esperar

 Para continuar a esperar  POR-014
05 abril 2022

A Igreja continua a sofrer, especialmente no Médio Oriente, mas também noutras partes do mundo onde a liberdade de viver a fé é impedida. Devido à perseguição, ao ambiente hostil, à violência das guerras «das quais a humanidade infelizmente parece nunca estar saciada, como acontece na Ucrânia», escreveram o cardeal Leonardo Sandri e o arcebispo Giorgio Demetrio Gallaro, respetivamente prefeito e secretário da Congregação para as Igrejas orientais, numa missiva aos bispos do mundo inteiro, na quarta-feira de Cinzas, por ocasião da coleta anual a favor da Terra Santa.

Caro irmão em Cristo, na homilia do Domingo de Ramos de 2021, o Santo Padre utilizou palavras muito fortes para falar da Paixão do Senhor: «Isto nos surpreende: ver o Todo-Poderoso reduzido a nada... ver o Deus do universo despojado de tudo. Por que deixaste fazer isto? Fizeste-o por nós, para tocar até ao fundo a nossa realidade humana, para atravessar toda a nossa existência, todo o nosso mal, para te aproximar de nós e não nos deixar sós na dor e na morte... Ele experimenta na sua carne as nossas contradições mais laceradas, e assim as redime e transforma» (Homilia, 28 de março de 2021).

Ao longo do ano de 2021, o Papa Francisco viveu duas peregrinações de esperança entre as comunidades cristãs do Médio Oriente e da Terra Santa: esperando contra toda a esperança, enquanto o mundo ainda estava sob a pandemia, quis alcançar alguns entre os mais sós e sofredores: os nossos irmãos e irmãs do Iraque, terra de Abraão, terra de exílio, terra que soube conservar o nome de Cristo, não obstante a violência da guerra e as perseguições. Ao seu lado com a oração e com o afeto, também nós percorremos as estradas de Mossul, de Qaragosh, mantivemo-nos em oração na catedral sírio-católica de Bagdad em memória das testemunhas assassinadas a 31 de outubro de 2010, enquanto celebravam a liturgia, que o Oriente define como “o céu na terra”. Naquele dia a terra colorou-se de sangue e escombros e, no entanto, como crentes, reconhecemos que se libertou a luz da Páscoa da Paixão e da Ressurreição e se difundiram o bálsamo e o perfume daqueles que seguem o Cordeiro imolado até ao dom da vida. Também em Chipre e depois na Grécia, terras da pregação apostólica, o Papa se confrontou com o sofrimento da divisão: de uma terra, dos povos, dos próprios crentes em Cristo, que ainda não podem sentar-se à mesma mesa da Eucaristia, daqueles que chegaram numerosos, à procura de refúgio e acolhimento. Não faltaram outros apelos, gestos e convites para a paz para outras terras que a história da salvação e os acontecimentos bíblicos nos convidam a compreender como “Terra Santa”.

Perante estes gestos do Santo Padre que testemunham o desejo de proximidade, de encontro, de levar pelo menos um pouco de alívio, como se fosse a carícia do Nazareno, devemos ter a coragem — como indivíduos e comunidades cristãs — de nos interrogarmos: o que vejo, do que me apercebo? Qual é o perímetro do meu olhar? Na Páscoa para a qual nos conduz o caminho quaresmal que hoje iniciamos, deixarei que o Senhor visite as minhas, as nossas formas de solidão? E ao Amor que virá visitar-me, saberei responder com amor? O amor só se paga com amor!

Se em termos pessoais Cristo sofreu e morreu uma só vez e já não pode voltar a morrer, no seu Corpo que é a Igreja continua a sofrer, especialmente no Médio Oriente, mas também em qualquer outro lugar do mundo onde a liberdade de viver a fé é acalcada e impedida: pela perseguição em muitos casos, às vezes pelo ambiente hostil, frequentemente pela globalização da violência das guerras das quais infelizmente parece que a humanidade nunca está livre, como acontece na Ucrânia.

Por dois anos consecutivos os cristãos da Terra Santa celebraram a Páscoa e o Natal numa espécie de isolamento, sem o calor e a amizade solidária dos peregrinos que visitam os Lugares Santos e as comunidades locais. As famílias sofreram outras medidas pela falta de trabalho mais que pelos efeitos imediatos da epidemia.

É por expresso desejo do Pontífice que se iniciou e se continua a celebrar a Coleta “Pro Terra Santa”, normalmente colocada no dia da Paixão salvífica do Senhor, a Sexta-Feira Santa: não é nada de antigo ou ultrapassado, porque ela exprime antes de mais nada a consciência das nossas raízes que se encontram no anúncio da redenção que se difundiu a partir de Jerusalém e chegou a todos nós. O gesto da oferta, mesmo pequena, mas da parte de todos, como o óbolo da viúva, consente aos nossos irmãos e irmãs continuar a viver e a esperar, a oferecer um testemunho vivo do Verbo que se fez carne nos Lugares e nas estradas que viram a sua presença. Se perdermos as nossas raízes, como poderemos ser, onde quer que nos encontremos no mundo, uma árvore que cresce e dá frutos de amor, caridade e partilha?

Portanto, olhando para Cristo que tocou até ao fundo a nossa realidade humana, deixando-nos inspirar pelos gestos de proximidade realizados pelo Papa Francisco nas suas viagens apostólicas e acolhendo o seu convite a ser solidários com os irmãos e as irmãs da Terra Santa, demos novo vigor e nova força à prática da Coleta da Terra Santa: através dos competentes gabinetes diocesanos e graças à presença e ao trabalho em todo o mundo dos comissários da Terra Santa da ordem dos frades menores, vivamo-la cuidando também da sua preparação, através do testemunho, da oração ou da simples celebração da Via-Sacra. Em Jerusalém, Belém, Nazaré e em muitos outros santuários e mosteiros cada dia se celebra e se reza pela Igreja em todo o mundo, e somos convidados a recordar com o coração e com uma pequena oferta todos aqueles que pronunciam o nosso nome diante do Senhor, agradecendo a nossa generosidade. O material informativo que todos os anos é difundido ajuda-nos a ver o fluxo de caridade e vida que é possível graças à Coleta.

A Vossa Excelência, aos sacerdotes, religiosos e fiéis, que se empenham pelo bom resultado da Coleta, em fidelidade a uma obra que a Igreja pede que todos os seus filhos realizem segundo as modalidades conhecidas, tenho a alegria de transmitir o vivo reconhecimento do Santo Padre Francisco. Enquanto invoco copiosas bênçãos divinas sobre a comunidade confiada a Vossa Excelência, transmito a mais fraterna saudação no Senhor Jesus.