Audiência à organização de voluntariado “Tive sede”

As despesas de armamento são um escândalo terrível

 As despesas de armamento  são um escândalo terrível  POR-013
29 março 2022

«Destinar uma grande parte das despesas às armas equivale a tirá-las de outra coisa, o que significa continuar a tirá-las a quem não tem o necessário. E isto é um escândalo... Quanto se gasta em armas, é terrível!», denunciou o Papa na manhã de 21 de março, recebendo em audiência na sala Clementina os voluntários da organização “Tive sede”.

Agradeço à Presidente as suas palavras e tenho o prazer de vos dar as boas-vindas, dez anos depois do início da vossa experiência de voluntariado. Desde então, uniu-vos um objetivo claro e urgente: levar água potável a quem não a tem. E as palavras de Jesus: «Tive sede» (Mt 25, 35), tornaram-se o vosso nome e o vosso lema. Parabéns!

O acesso à água, especialmente à água potável e limpa, é hoje uma questão crítica para o presente e o futuro próximo da família humana (cf. Laudato si’, 27-31). É uma questão prioritária para a vida do planeta e para a paz entre os povos. Diz respeito a todos nós. No entanto, no mundo, especialmente na África, há populações que mais do que outras sofrem devido à falta de acesso a este bem primário. Por isso, realizastes os vossos projetos humanitários na África, em muitos países, em diferentes regiões do continente. Isto é muito bom! Tal como é muito bom que o trabalho seja sempre levado a cabo com os operários locais e em colaboração com os missionários e as comunidades eclesiais do território.

«Tive sede e destes-me de beber», diz Jesus, acrescentando: «Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (Mt 25, 35.40). Caros amigos, a sede causa mal-estar, quando há abundância de água para beber. Mas sabemos que se faltar, e faltar por muito tempo, a sede pode tornar-se insuportável. A vida na Terra depende da água; também nós, seres humanos. Todos nós precisamos da irmã água para viver!

Então, por que motivo fazemos guerra por causa de conflitos que deveríamos resolver dialogando como homens? Porque não unir as forças e os recursos para travar juntos as verdadeiras batalhas da civilização: a luta contra a fome e a sede; a luta contra a doença e as epidemias; a luta contra a pobreza e a escravidão de hoje. Porquê? Certas escolhas não são neutras: destinar uma grande parte das despesas às armas equivale a tirá-las de outra coisa, o que quer dizer continuar a tirá-las a quem não tem o necessário. E isto é um escândalo: gastar em armas. Quanto se gasta em armas, é terrível! Não sei qual é a percentagem do pib, não sei, não conheço o valor exato, mas trata-se de uma percentagem elevada. E gasta-se em armas para fazer guerra, não só esta, que é muito grave, que vivemos agora, e sentimo-la mais porque está mais próxima, mas na África, no Médio Oriente, na Ásia, as guerras são contínuas. Isto é grave! Devemos criar a consciência de que continuar a gastar em armas suja a alma, suja o coração, suja a humanidade. De que adianta se todos nós, juntos, nos comprometemos solenemente a nível internacional em campanhas contra a pobreza, contra a fome, contra a degradação do planeta, e depois caímos de novo no velho vício da guerra, na velha estratégia do poder do armamento, que leva tudo e todos para trás? A guerra leva-nos sempre para trás, sempre. Recuamos. Será necessário recomeçar de novo.

Prezados irmãos e irmãs, como podeis ver, a vossa organização é certamente pequena em comparação com estes grandes problemas, mas trabalha num ponto crítico, e fá-lo bem, de forma correta; tal como o fazem, graças a Deus, muitas outras organizações de voluntariado na Itália e no mundo. E gostaria de dizer que fiquei surpreendido ao encontrar um voluntariado tão forte aqui na Itália: não o vi noutros lugares. Esta é a vossa herança cultural, italiana, que deveis preservar bem. Dispondes de um voluntariado válido, e também esta associação é um bom voluntariado. Por isso, agradeço-vos e encorajo-vos a continuar o vosso trabalho. Abençoo-vos de coração, a todos vós e a quantos trabalham convosco nos vários projetos. E peço-vos também o dom de rezar por mim. Obrigado!