O Papa aos animadores da “Diaconia da beleza”

Da arte um olhar renovado de amor sobre o mundo e sobre os outros

 Da arte um olhar renovado de amor  sobre o mundo e sobre os outros  POR-010
08 março 2022

«A Igreja conta convosco para ajudar os irmãos e irmãs a terem um coração sensível e compassivo, um olhar renovado de amor sobre o mundo e os outros», afirmou o Papa aos artistas que animam a “Diaconie de la Beauté” recebidos em audiência a 17 de fevereiro, na Sala Clementina. Publicamos o discurso do Pontífice pronunciado depois de o arcebispo beneditino Robert Le Gall lhe ter apresentado o movimento nascido há dez anos durante o Sínodo sobre a nova evangelização, sob o impulso do cardeal Paul Poupard, por iniciativa dos cônjuges Anne e Daniel Facérias e do bispo Dominique Rey.

Estimados amigos, caros artistas!

Sinto-me feliz por vos receber e dou-vos as cordiais boas-vindas a Roma. Obrigado, D. Le Gall, por ter tomado a iniciativa deste encontro no âmbito do 10º aniversário da “Diaconie de la Beauté”, e pelas suas amáveis palavras. E saúdo todos vós, artistas que procurais de formas diversas ajudar e encorajar os homens e mulheres do nosso tempo a seguir a via pulchritudinis.

As Sagradas Escrituras falam-nos muito sobre a beleza do universo e de tudo o que ele contém, o que se refere por analogia àquela do Criador. Elas também nos recordam que cada um de nós é chamado por natureza a ser artífice e guarda de tal beleza. De certa forma, o trabalho artístico complementa a beleza da criação e, quando é inspirado pela fé, revela mais claramente às pessoas o amor divino que está na sua origem.

Agradeço-vos pelo trabalho realizado nestes dez anos, pelo amor e paixão com que pusestes à disposição dos irmãos e irmãs os talentos que recebestes de Deus, expressando na linguagem da arte mensagens preciosas para a fé e a evangelização.

A beleza é capaz de criar comunhão, «porque une Deus, o homem e a criação numa única sinfonia; porque conecta o passado, o presente e o porvir; porque atrai para um único lugar e envolve no mesmo olhar diferentes pessoas e povos distantes» (Discurso aos “Patrons of the arts" dos museus do vaticano, 28 de setembro de 2018). Uma particularidade do artista é que não está limitado pelo tempo, pois a sua arte fala a todas as épocas. O artista não está limitado nem sequer pelo espaço, pois a beleza pode comover em cada um o que é universal — especialmente a sede de Deus — superando as fronteiras das línguas e culturas. Se for autêntico, o artista é capaz de falar de Deus melhor do que ninguém, de fazer com que se perceba a sua beleza e bondade, de «chegar ao coração do homem e fazer resplandecer nele a verdade e a bondade do Ressuscitado» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 167).

Como dizia São João Paulo ii na sua Carta aos Artistas, que vos convido a reler com atenção, «para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar percetível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspetos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve».

Por conseguinte, exorto-vos, no cultivo da vossa arte, a falar com os homens e mulheres do nosso tempo, preocupando-vos sempre por que haja uma certa compreensão da deles, porque uma arte incompreensível e hermética falha no seu propósito. Procurai chegar ao que eles têm de melhor. A Igreja conta convosco hoje para ajudar os irmãos e irmãs a ter um coração sensível e compassivo, um olhar renovado de amor sobre o mundo e os outros.

No difícil contexto atual que o mundo conhece, onde por vezes parece que predomina a perplexidade e a tristeza, a vossa missão é necessária como nunca, porque a beleza é sempre uma fonte de alegria, pondo-nos em contacto com a bondade divina. Se há beleza, é porque Deus é bondoso e no-la doa. E isto alegra-nos, tranquiliza-nos, faz-nos bem. O contacto com «a beleza ajuda-nos, sempre, a beleza faz-nos ir mais longe». Suscitando e apoiando a fé, «é um caminho rumo ao Senhor» (Audiência Geral, 5 de janeiro de 2022).

Agradeço-vos o trabalho que fazeis, a alegria que ofereceis ao mundo com as vossas obras, e encorajo-vos, mais uma vez, a continuardes o vosso serviço com amor e competência, pois o mundo precisa como nunca de beleza. Que a Virgem Maria vos introduza cada vez mais no mistério de Deus e que o Espírito Santo vos inspire: não vos esqueçais de o invocar. Rezo por vós e abençoo-vos; vós também, por favor, rezai por mim. Obrigado!