«Há grande necessidade de “remendar” a partir dos nossos relacionamentos pessoais, as relações entre os Estados», frisou o Papa no final do Angelus ao meio-dia de 30 de janeiro, saudando os jovens da Ação católica diocesana de Roma, presentes como todos os anos na praça de São Pedro no final da “Caravana da paz”, no último domingo do mês, que a associação laica dedica a este tema. Precedentemente, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, o Sumo Pontífice comentou o Evangelho proposto pela liturgia dominical (Lc 4, 21-30).
Estimados irmãos e irmãs
bom dia!
Na liturgia de hoje, o Evangelho narra a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré. O êxito é amargo: em vez de receber aprovação, Jesus encontra incompreensão e até hostilidade (cf. Lc 4, 21-30). Os seus concidadãos, mais do que uma palavra de verdade, queriam milagres, sinais prodigiosos. O Senhor não os realiza e eles rejeitam-no, pois dizem que já o conheciam desde criança, que é o filho de José (cf. v. 22) e outras coisas mais. Então, Jesus pronunciou uma frase que se tornou proverbial: «Nenhum profeta é bem aceito na sua pátria» (v. 24).
Estas palavras revelam que o fracasso para Jesus não foi totalmente inesperado. Conhecia o seu povo, conhecia o coração do seu povo, conhecia o risco que estava a correr e previa a rejeição. Então podemos perguntar-nos: se é assim, se previa o fracasso, por que foi à sua cidade? Por que fazer o bem a pessoas que não estão dispostas a aceitá-lo? É uma pergunta que nos fazemos com frequência. Contudo, é uma questão que nos ajuda a compreender melhor a Deus. Face aos nossos fechamentos, ele não retrocede: não põe limites ao seu amor. Perante os nossos fechamentos, ele vai em frente. Vemos um reflexo disto nos pais que estão conscientes da ingratidão dos filhos, mas não deixam de os amar e de lhes fazer o bem. Deus é assim, mas a um nível muito mais elevado. E hoje também nos convida a acreditar no bem, a nunca deixar de procurar fazer o bem.
Mas no que aconteceu em Nazaré, encontramos outro aspeto: a hostilidade para com Jesus por parte dos “seus” provoca-nos: eles não foram acolhedores, e nós? Para verificar isto, vejamos os modelos de acolhimento que Jesus propõe hoje, aos seus concidadãos e a nós. São dois estrangeiros: uma viúva de Sarepta, na Sidónia, e Naamã, o sírio. Ambos acolheram profetas: a primeira acolheu Elias, o segundo Eliseu. Mas não foi uma receção fácil, passou através de experiências. A viúva hospedou Elias, apesar da carestia e embora o profeta fosse perseguido (cf. 1 Rs 17, 7-16), era um perseguido político-religioso. Naamã, por sua vez, não obstante fosse uma pessoa de nível muito elevado, aceitou o pedido do profeta Eliseu, que o levou a humilhar-se, a banhar-se sete vezes num rio (cf. 2 Rs 5, 1-14), como se fosse uma criança ignorante. A viúva e Naamã, em suma, acolheram através da disponibilidade e da humildade. O modo de acolher Deus é estar sempre disponível, acolhê-lo e ser humilde. A fé passa por isto: disponibilidade e humildade. A viúva e Naamã não rejeitaram os caminhos de Deus e dos seus profetas; foram dóceis, não rígidos nem fechados.
Irmãos e irmãs, Jesus também segue o caminho dos profetas: apresenta-se como não o esperaríamos. Aqueles que procuram milagres não o encontrarão — se procurarmos milagres não encontraremos Jesus — aqueles que procuram novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas; aqueles que procuram uma fé feita de poder e de sinais exteriores não o encontrarão. Não, eles não o encontrarão. Apenas aqueles que aceitam os seus caminhos e desafios, sem queixas, sem suspeitas, sem críticas nem caras feias, o encontrarão. Jesus, por outras palavras, pede-nos que O acolhamos na realidade quotidiana que vivemos; na Igreja de hoje, como ela é; naqueles que estão próximos todos os dias; na vida concreta dos necessitados, nos problemas das nossas famílias, nos pais, nos filhos, nos avós, ali acolhemos Deus. Ali está ele, convidando-nos a purificar-nos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade. Precisamos de humildade para encontrar Deus, para nos deixarmos encontrar por Ele.
E nós, somos acolhedores ou parecidos com os seus concidadãos, que pensavam saber tudo sobre ele? “Estudei teologia, fiz o curso de catequese... Sei tudo sobre Jesus!”. Sim, como um estulto! Não sejas estúpido, não conheces Jesus. Talvez, após tantos anos de fé, pensamos que conhecemos bem o Senhor, muitas vezes com as nossas ideias e julgamentos. O risco é acostumar-nos, acostumar-nos a Jesus. E como nos habituamos? Fechando-nos, fechando-nos à sua novidade, ao momento em que ele bate à porta e nos diz algo novo, ele quer entrar em nós. Devemos sair deste permanecer fixados nas nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de se surpreender, de se maravilhar. O Senhor surpreende-nos sempre, esta é a beleza do encontro com Jesus. Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade, nos mostre o caminho para acolher Jesus.
No final da prece mariana, o Santo Padre recordou o Dia mundial dos hansenianos e formulou bons votos aos povos do Extremo Oriente, que a 1 de fevereiro celebram o Ano novo lunar, e aos salesianos e salesianas, para a festa do seu fundador, São João Bosco, recordado no dia 31 de janeiro. Depois, saudando os vários grupos presentes, convidou os jovens da Ação católica da diocese de Roma a lançar os balões coloridos que trouxeram consigo, como sinal de esperança no final da anual “Caravana da paz”.
Prezados irmãos e irmãs!
Hoje é o Dia Mundial dos Doentes de Lepra. Expresso a minha proximidade àqueles que sofrem desta doença e espero que não lhes falte apoio espiritual nem cuidados médicos. É necessário trabalhar em conjunto para a plena integração destas pessoas, superando qualquer discriminação associada a uma doença que infelizmente ainda atinge muitos, especialmente nos contextos sociais mais desfavorecidos.
Depois de amanhã, 1 de fevereiro, o Ano Novo Lunar será celebrado em todo o Extremo Oriente, bem como em várias partes do mundo. Nesta ocasião, apresento as minhas cordiais saudações e expresso o desejo de que no Ano Novo todos possam desfrutar de paz, saúde e de uma vida serena e segura. Como é belo quando as famílias encontram oportunidades para se reunirem e experimentarem momentos de amor e alegria! Muitas famílias, infelizmente, não se poderão reunir este ano devido à pandemia. Espero que em breve consigamos superar esta provação. Por fim, espero que, graças à boa vontade de cada um e à solidariedade dos povos, toda a família humana seja capaz de alcançar com renovado dinamismo metas de prosperidade material e espiritual.
Na véspera da festa de São João Bosco, gostaria de saudar os salesianos e as salesianas, que tanto bem fazem na Igreja. Segui a Missa celebrada no santuário de Maria Auxiliadora [em Turim] pelo Reitor-Mor Ángel Fernández Artime, rezei com ele por todos. Pensemos neste grande santo, sacerdote e mestre da juventude. Ele não se fechou na sacristia, não se fechou nas suas coisas. Saiu às ruas à procura de jovens, com a criatividade que foi a sua característica. Os melhores votos a todos os salesianos e salesianas!
Saúdo todos, fiéis de Roma e peregrinos de várias partes do mundo. Em particular, saúdo os fiéis de Torrejón de Ardoz, na Espanha, e os estudantes de Murça, em Portugal.
Com afeto saúdo os jovens da Ação Católica da Diocese de Roma! Estão aqui num grupo. Caros jovens, também este ano, acompanhados pelos vossos pais, educadores e sacerdotes assistentes, viestes — um pequeno grupo, devido à pandemia — no final da Caravana pela Paz. O vosso slogan é Ricuciamo la pace [Remendamos a paz]. Bonito slogan! É importante! Há tanta necessidade de “remendar”, começando pelas nossas relações pessoais até às relações entre Estados. Obrigado! Ide em frente! E agora libertai os vossos balões para o céu como sinal de esperança... Ei-los! É um sinal de esperança que os jovens de Roma nos trazem hoje, esta “Caravana pela paz”.
Desejo a todos bom domingo. E por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista.