Oração, caridade e trabalho conjunto são os três ingredientes indicados pelo Papa para “fazer” a unidade entre os cristãos. Enumerou-os no discurso que dirigiu na manhã de 17 de janeiro a uma delegação ecuménica vinda da Finlândia para a peregrinação anual a Roma na festa de Santo Henrique, padroeiro daquela nação do norte da Europa.
Dou cordiais boas-vindas a todos vós, membros da Delegação ecuménica da Finlândia, que viestes em peregrinação a Roma para a festa de Santo Henrique. Obrigado de coração, Bispo Keskitalo, irmão, pelo dom que me ofereceu e pelas suas palavras sobre a humildade, o arrependimento e o perdão. Para alguns, parecem palavras negativas, mas são os termos mais positivos para progredir. É com particular alegria que recebo e saúdo os representantes Sami. Que Deus vos acompanhe ao longo do caminho rumo à reconciliação e à purificação da memória, tornando todos os cristãos livres e determinados na busca sincera da verdade! É um prazer receber o Bispo emérito, Teemu Sippo, que se recuperou de um grave acidente e, com a sua presença, nos recorda que a verdadeira coragem consiste em levantar-se e ir em frente. Peço-vos também que transmitais a minha saudação fraternal ao Metropolita ortodoxo Arseni, de Kuopio e Carelia, que não pôde acompanhar-vos.
Caros irmãos e irmãs, a vossa agradável visita tem lugar na véspera da Semana de oração pela unidade dos cristãos. O tema deste ano foi tirado do Evangelho de Mateus: «Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo» (cf. Mt 2, 2). Refere-se aos magos que, após uma longa viagem, encontram Jesus e o adoram. Os magos alcançaram a meta porque a procuraram. Mas procuram-na porque antes o Senhor, com o sinal da estrela, se tinha posto à procura deles. Encontram porque procuram, e procuram porque foram procurados. É bom compreender a vida assim, como um caminho de busca, que não começa por nós, mas por Aquele que primeiro se pôs à nossa procura e nos atrai com a sua graça. Tudo nasce da graça de Deus que nos atrai. E a nossa resposta só pode ser semelhante à dos magos: um caminho percorrido juntos.
Caminhar juntos. Quem foi tocado pela graça de Deus não pode fechar-se e viver de autoconservação, está sempre a caminho, sempre orientado a ir em frente. E em frente juntos: a vossa peregrinação aqui é um bonito exemplo disso. A tradição da Igreja reconheceu nos magos os representantes de diferentes culturas e povos: também para nós, especialmente nestes tempos, o desafio é dar a mão ao irmão, com a sua história concreta, para caminhar juntos. Caros amigos, estamos a caminho guiados pela luz suave de Deus, que dissipa as trevas da divisão e orienta o caminho para a unidade. Caminhamos como irmãos rumo a uma comunhão cada vez mais plena. Ajudemo-nos mutuamente, na nossa peregrinação ecuménica, a progredir “cada vez mais rumo a Deus”, «magis ac magis in Deum», como reza a Regra de São Bento ( lxii , 4). O mundo precisa da sua luz, e esta luz só brilha no amor, na comunhão e na irmandade.
Há etapas do caminho que são mais fáceis e em que somos chamados a proceder com rapidez e diligência. Penso, por exemplo, em muitos percursos de caridade que, enquanto nos aproximam do Senhor, presente nos pobres e necessitados, nos unem entre nós. Contudo, às vezes, o caminho é mais cansativo e, diante de metas que ainda parecem distantes e difíceis de alcançar, pode aumentar o cansaço e vir à tona a tentação do desânimo. Em tal caso, recordemos que estamos a caminho não como possuidores, mas como procuradores de Deus. Por isso devemos avançar com paciência humilde e sempre juntos, para nos apoiarmos uns aos outros, porque é assim que Cristo deseja. Ajudemo-nos quando vemos que o outro está em necessidade. E na peregrinação, às vezes é preciso parar para recuperar energia e focar melhor a meta. E nós, buscadores de Deus a caminho da plena comunhão com Ele e entre nós, temos à nossa frente duas importantes estações.
Em 2025 celebraremos o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia. A confissão trinitária e cristológica deste Concílio, que reconhece Jesus como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, “consubstancial ao Pai”, une-nos com todos os batizados. Em vista deste grande aniversário, preparemo-nos com renovado entusiasmo para caminhar juntos na senda de Cristo, na vereda que é Cristo! Pois precisamos d’Ele, da sua novidade, da sua alegria incomparável. Só unidos a Ele percorreremos até ao fim o caminho para a plena unidade. E é sempre Ele que procuram, até inconscientemente, os homens de todos os tempos e portanto também os de hoje.
A segunda estação: em 2030 — estaremos vivos, não estaremos? Não sei — comemoraremos o 500º aniversário da Confissão de Ausburgo. Num tempo em que os cristãos estavam prestes a seguir caminhos separados, aquela Confissão procurou preservar a unidade. Sabemos que não conseguiu impedir a divisão, mas o aniversário poderá ser uma ocasião frutuosa para nos confirmar e fortalecer no caminho de comunhão, para nos tornarmos mais dóceis à vontade de Deus e menos às lógicas humanas, mais dispostos a antepor às metas terrenas a rota indicada pelo Céu.
E quanto a vós [dirige-se aos representantes do povo Sami], querido irmão, gostaria de te agradecer, porque pegaste nos quatro sonhos que tive com a Amazónia, e também tu os aplicaste aos aborígenes da tua terra. Ocorre-me que um pastor deve ser concreto com pessoas concretas, com o seu povo concreto, mas não deve deixar de sonhar. A um pastor que se cansa de sonhar falta algo. Obrigado por sonhares!
Além disso, mais uma coisa sobre o caminho ecuménico. Quando se fará a unidade? Perguntamo-nos, não é verdade? Um grande teólogo ortodoxo, especializado em escatologia, disse: “A unidade estará no eschaton”. Mas é importante o caminho rumo à unidade. É muito bom que os teólogos estudem, debatam... É muito bom! São especialistas nisto. Mas também é bom que nós, povo fiel de Deus, sigamos juntos o caminho, juntos! E façamos a unidade com a oração, com as obras de caridade, trabalhando juntos. Sei que segues esse caminho, muito obrigado!
Estimados amigos, o repetir-se da vossa peregrinação aqui — gosto muito disto — é um sinal ecuménico bonito e animador. Muito obrigado! Avancemos juntos em busca de Deus, com audácia e de modo concreto. Tenhamos o olhar fixo em Jesus (cf. Hb 12, 2) e mantenhamo-nos unidos na oração de uns pelos outros. Por isso, convido-vos a recitar juntos o Pai-Nosso, cada qual na própria língua.
[Recitação do Pai-Nosso].