Peregrinos a caminho rumo à plena unidade

 Peregrinos a caminho rumo à plena unidade  POR-003
18 janeiro 2022

Na Semana dedicada ao ecumenismo, que decorrerá de 18 a 25 de janeiro e que «este ano propõe a reflexão sobre a experiência dos Magos», o Papa Francisco pediu aos cristãos de hoje, «na diversidade das confissões e tradições», que se façam «peregrinos a caminho da plena unidade». O apelo ressoou na praça de São Pedro, no final do Angelus de domingo, dia 16. Ao meio-dia o Pontífice, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, presidiu à prece mariana e comentou o episódio evangélico das bodas de Caná, proposto pela liturgia.

Estimados irmãos e irmãs bom dia!

O Evangelho da liturgia de hoje relata o episódio das bodas de Caná, onde Jesus transforma a água em vinho para a alegria dos noivos. E conclui-se assim: «Este foi o início dos sinais que Jesus realizou; Ele manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram nele» (Jo 2, 11). Observamos que o evangelista João não fala de um milagre, ou seja, de um acontecimento poderoso e extraordinário que gera maravilha. Ele escreve que em Caná ocorre um sinal que suscita a fé dos discípulos. Podemos então perguntar-nos: o que é um “sinal” segundo o Evangelho?

Um sinal é um indício que revela o amor de Deus, isto é, que não chama a atenção para o poder do gesto, mas para o amor que o provocou. Ensina-nos algo do amor de Deus, que é sempre próximo, terno e compassivo. O primeiro sinal ocorre quando dois recém-casados se encontram em dificuldade no dia mais importante da sua vida. No meio da festa falta um elemento essencial, o vinho, e a alegria corre o risco de esvaecer no meio das críticas e da insatisfação dos convidados. Imaginemos como pode continuar uma festa de casamento só com água! É terrível, uma má figura que farão os noivos!

É Nossa Senhora que se dá conta do problema e o indica discretamente a Jesus. E Ele intervém sem clamor, quase sem que alguém se aperceba. Tudo se passa na discrição, “nos bastidores”: Jesus diz aos servos para encherem as ânforas com água, que se transforma em vinho. Deus age deste modo, com proximidade e discrição. Os discípulos de Jesus dão-se conta disto: veem que graças a Ele as bodas se tornaram ainda mais bonitas. E também veem o modo de agir de Jesus, o seu servir no escondimento — assim é Jesus: ajuda-nos, serve-nos no escondimento, naquele momento — de tal modo que os elogios pelo bom vinho são feitos ao noivo, ninguém percebe, apenas os servos. Assim a semente da fé começa a desenvolver-se neles, ou seja, acreditam que em Jesus está presente Deus, o amor de Deus.

É bom pensar que o primeiro sinal que Jesus realiza não é uma cura extraordinária nem um milagre no templo de Jerusalém, mas um gesto que responde a uma necessidade simples e concreta das pessoas comuns, um gesto doméstico, um milagre, por assim dizer, “na ponta dos pés”, discreto, silencioso. Ele está pronto para nos ajudar, para nos aliviar. E assim, se estivermos atentos a estes “sinais”, somos conquistados pelo seu amor e tornamo-nos seus discípulos.

Mas há outra caraterística distintiva do sinal de Caná. Geralmente, o vinho que se oferecia no final da festa era o menos bom; também hoje se faz desta forma, naquele ponto as pessoas já não distinguem muito bem se é um bom vinho ou um vinho ligeiramente regado. Jesus, ao contrário, certifica-se de que a festa se conclua com o melhor vinho. Simbolicamente, isto diz-nos que Deus quer o melhor para nós, Ele quer que sejamos felizes. Ele não estabelece limites nem cobra juros. No sinal de Jesus, não há lugar para segundos fins, para pretensões em relação aos noivos. Não, a alegria que Jesus deixa no coração é alegria plena e abnegada. Nunca é uma alegria diluída!

Por isso sugiro-vos um exercício que nos pode fazer muito bem. Tentemos hoje sondar as nossas memórias em busca dos sinais que o Senhor realizou na minha vida. Cada pessoa diga: na minha vida, que sinais realizou o Senhor? Quais os indícios da sua presença? Sinais que Ele realizou, para nos mostrar que nos ama; pensemos naquele momento difícil em que Deus me fez experimentar o seu amor... E perguntemo-nos: com quais sinais, discretos e atenciosos, Ele me fez sentir a sua ternura? Quando senti o Senhor mais próximo de mim, quando senti a sua ternura, a sua compaixão? Cada um de nós na nossa história viveu esses momentos. Procuremos esses sinais, façamos memória. Como descobri a sua proximidade? Como permaneceu no meu coração uma grande alegria? Revivamos os momentos em que experimentámos a sua presença e a intercessão de Maria. Ela, a Mãe, que como em Caná está sempre atenta, nos ajude a fazer tesouro dos sinais de Deus na nossa vida.

Depois do Angelus, o Pontífice manifestou a sua solidariedade para com as populações do Brasil atingidas pelas inundações, recordou o Oitavários pela unidade dos cristãos e saudou os vários grupos presentes na praça.

Amados irmãos e irmãs!

Expresso a minha proximidade às pessoas atingidas pelas fortes chuvas e inundações nas várias regiões do Brasil nas últimas semanas. Rezo em particular pelas vítimas e os seus familiares, e por aqueles que perderam a casa. Que Deus apoie os esforços de quantos estão a levar socorros.

De 18 a 25 de janeiro terá lugar a Semana de Oração pela unidade dos cristãos, que este ano se propõe espelhar-se na experiência dos Magos, que do Oriente foram a Belém para honrar o Rei Messias. Também nós, cristãos, na diversidade das nossas confissões e tradições, somos peregrinos a caminho rumo à unidade plena, e aproximamo-nos da meta quanto mais mantivermos o nosso olhar fixo em Jesus, nosso único Senhor. Durante a Semana de Oração, ofereçamos também os nossos esforços e os nossos sofrimentos pela unidade dos cristãos.

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos de vários países. Dirijo uma saudação especial ao grupo “Girasoli della Locride”, de Locri, com os familiares e animadores.

Desejo a todos bom domingo. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista.