Angelus na praça de São Pedro

Artífices de fraternidade num mundo dilacerado

 Artífices de fraternidade  num mundo dilacerado  POR-001
04 janeiro 2022

«Se nos tornarmos artífices da fraternidade, seremos capazes de tecer os fios de um mundo dilacerado por guerras e violência», foram os votos do Papa no sábado 1 de janeiro, solenidade da Maria Santíssima Mãe de Deus, no Angelus recitado da janela do Palácio apostólico do Vaticano com os fiéis presentes na praça de São Pedro.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia! Bom ano!

Comecemos o novo ano, confiando-o a Maria Mãe de Deus. O Evangelho da liturgia de hoje fala dela, reconduzindo-nos para o encanto do presépio. Os pastores vão sem demora para a gruta e o que encontram? Encontram — diz o texto — «Maria, José e o menino deitado na manjedoura» (Lc 2, 16). Façamos uma pausa sobre esta cena e imaginemos Maria que, como mãe terna e carinhosa, acabou de colocar Jesus na manjedoura. Naquele gesto podemos ver um dom feito a nós: Nossa Senhora não guarda o Filho para si, mas apresenta-o a nós; não o segura apenas no seu colo, mas depõe-no para nos convidar a olhar para ele, acolhê-lo e adorá-lo. Eis a maternidade de Maria: o Filho que nasceu é oferecido a todos nós. Sempre oferecendo o Filho, indicando o Filho, nunca o reteve como unicamente seu, não. E foi assim ao longo da vida de Jesus.

E ao colocá-lo diante dos nossos olhos, sem dizer uma palavra, transmite-nos uma mensagem maravilhosa: Deus está próximo, ao nosso alcance. Ele não vem com o poder de quem quer ser temido, mas com a fragilidade de quem pede para ser amado; não julga a partir do alto de um trono, mas olha para nós de baixo como irmão, aliás, como filho. Ele nasce pequenino e necessitado para que ninguém se envergonhe: precisamente quando experimentamos a nossa fraqueza e fragilidade, podemos sentir Deus ainda mais próximo, porque Ele se nos apresentou assim, débil e frágil. É o Deus-menino que nasce para não excluir ninguém. Para nos tornar todos irmãos e irmãs.

Eis então: o novo ano começa com Deus que, nos braços da sua Mãe e deitado numa manjedoura, nos encoraja ternamente. Precisamos deste encorajamento. Ainda vivemos tempos incertos e difíceis devido à pandemia. Muitos estão assustados com o futuro e sobrecarregados por situações sociais, problemas pessoais, perigos que provêm da crise ecológica, injustiças e desequilíbrios económicos planetários. Olhando para Maria com o Filho nos braços, penso nas jovens mães e nos seus filhos que fogem das guerras e da fome ou que aguardam nos campos de refugiados. São tantos! E ao contemplarmos Maria que coloca Jesus na manjedoura, pondo-o à disposição de todos, lembremo-nos que o mundo muda e a vida de todos só melhora se nos colocarmos à disposição dos outros, sem esperar que eles comecem a fazê-lo. Se nos tornarmos artífices de fraternidade, seremos capazes de tecer os fios de um mundo dilacerado por guerras e violências.

Hoje celebramos o Dia Mundial da Paz. A paz «é conjuntamente dádiva do Alto e fruto dum empenho compartilhado» (Mensagem para o lv Dia Mundial da Paz, 1). Dádiva do alto: deve ser implorada a Jesus, porque sozinhos não somos capazes de a salvaguardar. Só podemos verdadeiramente construir a paz se a tivermos no coração, só se a recebermos do Príncipe da paz. Mas a paz é também empenho nosso: exige que demos o primeiro passo, requer gestos concretos. É construída com atenção aos últimos, com a promoção da justiça, com a coragem do perdão, que extingue o fogo do ódio. E também precisa de uma perspetiva positiva: que olhemos sempre — na Igreja como na sociedade — não para o mal que nos divide, mas para o bem que nos pode unir! Não nos devemos abater nem lamentar, mas arregaçar as mangas para construir a paz. A Mãe de Deus, Rainha da paz, no início deste ano, obtenha concórdia para os nossos corações e para o mundo inteiro.

No final do Angelus, o Papa saudou os vários grupos e agradeceu aos promotores de iniciativas para o 55º Dia mundial da paz. Entre eles estava a Comunidade de Santo Egídio, presente na praça de São Pedro com mil pessoas com cartazes com os nomes de países em guerra.

Amados irmãos e irmãs!

No início do novo ano desejo a todos a paz, que é o compêndio de todo o bem. Paz! Retribuo de coração e com gratidão a saudação do Senhor Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, e asseguro a minha oração por ele e pelo povo italiano.

Hoje é o Dia Mundial da Paz, iniciado por São Paulo vi em 1968. Na Mensagem deste ano frisei que a paz é construída através do diálogo entre as gerações, com a educação e o trabalho. Sem estes três elementos, faltam as bases.

Estou grato por todas as iniciativas promovidas em todo o mundo por ocasião deste Dia, de forma compatível com a situação pandémica; em particular pela Vigília realizada ontem à noite na Catedral de Savona como expressão da Igreja na Itália.

Saúdo os participantes na manifestação “Paz em todas as terras”, organizada pela Comunidade de Santo Egídio aqui em Roma e em muitas partes do mundo — competentes os membros de Santo Egídio, muito bem! — em colaboração com as dioceses e paróquias. Obrigado pela vossa presença e pelo vosso empenho!

Vamos para casa a pensar: paz, paz, paz! Precisamos de paz. Hoje estava a ver as imagens no programa de televisão “A sua imagine”, sobre a guerra, os deslocados, a miséria... E isto está a acontecer no mundo de hoje. Queremos paz!

Os melhores votos a todos! Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Feliz ano novo! Bom almoço e até amanhã.