Audiência aos funcionários do Vaticano para os bons votos de Natal

A família é o lugar onde se experimenta a mão paterna de Deus

 A família é o lugar onde  se experimenta a mão paterna de Deus  POR-052
28 dezembro 2021

«Como a história de José e Maria nos ensina, a família é o lugar privilegiado onde a Providência de Deus é vivida», salientou o Papa no discurso aos funcionários do Vaticano reunidos na manhã de 23 de dezembro, na Sala Paulo vi , para a tradicional troca de bons votos de Natal.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Demos graças a Deus por nos ter reunido novamente para os bons votos de Feliz Natal. De coração desejo isto a vós, pais, mães, filhos, avós e a todos os vossos entes queridos. Que Jesus nasça nos vossos corações e nas vossas famílias. E como nasce Jesus? No amor. Não há outro caminho. Também um conhecido hino sacro o afirma: “Onde há caridade e amor, há Deus”. Deus nasce assim, onde o amor se torna concreto, se torna proximidade, se torna ternura, se torna compaixão. Ali está Deus.

Se, por exemplo, em família há o avô ou a avó que já não pode sair facilmente, então vamos ter com ele ou ela, com todos os cuidados que a pandemia requer, mas vamos, não os deixemos sozinhos. E se não pudermos ir, façamos um telefonema e falemos um pouco. Mas sobretudo, assim que pudermos, passemos algum tempo com ele ou com ela. Paro aqui um momento, porque nesta cultura do descarte, os avós são muito descartados. “Sim, estão bem, estão ali...”: eles não entram na vida. Vem-me à mente algo que uma das minhas avós me disse quando eu era criança. Havia uma família na qual o avô vivia com eles e envelhecia. E depois, durante o almoço ou o jantar, quando comia a sopa, sujava-se. E a um certo ponto, o pai disse: “Não podemos viver assim, pois não podemos convidar os amigos com o avô... Farei de modo que o avô faça as refeições na cozinha. Far-lhe-ei uma pequena mesa”. E assim aconteceu. Uma semana depois, chegou a casa e encontrou o seu filho de dez anos a brincar com madeira, pregos e um martelo... “O que estás a fazer?” — “Uma mesinha, pai” — “Mas porquê?” — “Para ti, para quando fores velho”. Não esqueçamos que o que semeamos, os nossos filhos o farão connosco. Por favor, não negligencieis os avós, não negligencieis os idosos: eles são a sabedoria. “Sim, mas ele tornou a minha vida impossível...”. Perdoai, esquecei, como Deus vos perdoará. Mas não vos esqueçais dos idosos, pois esta cultura do descarte deixa-os sempre de lado. Desculpai, mas é importante para mim falar sobre os avós, e gostaria que todos nós enveredássemos por este caminho.

Caríssimos, gostaria de vos desejar que o Natal vos traga serenidade, especialmente se estiverdes a atravessar um período difícil, com preocupações... Todas as famílias as têm, mas por vezes há situações mais difíceis. Rezo para que aqueles que mais necessitam recebam o dom da serenidade, tanto pessoal como familiar. A pandemia causou muitos problemas às famílias, tanto económicos como psicológicos. Penso nas crianças e adolescentes, que foram particularmente atingidos por períodos de isolamento e de aprendizagem à distância. Mas cada idade teve as suas dificuldades com a pandemia.

No que diz respeito ao trabalho, como vos disse há um ano, procurámos garantir o emprego; comprometemo-nos a não deixar ninguém desempregado. Certamente a gestão do período de confinamento não foi fácil; sei que houve alguns problemas, sei; espero que possamos encontrar soluções satisfatórias através do diálogo, procurando resolvê-los reciprocamente, sempre respeitando os direitos dos trabalhadores e do bem comum.

Peçamos a intercessão de São José: ele é “competente” no campo do trabalho! Mas não só. Aliás, na realidade, ele é, antes de mais, o guardião de Jesus e da Virgem Maria. E, portanto, é também o padroeiro da Igreja. Como sabeis, todo este ano foi dedicado a São José: fiquei muito feliz com isto, e espero que vos tenha ajudado a senti-lo mais próximo, mais presente nas vossas vidas, nas vossas famílias. Podeis confiar-lhe certas situações que são um pouco complicadas, quando nos apercebermos que a nossa força não é suficiente, que não há soluções à mão. Então podeis recorrer a São José na oração. Ele é homem de poucas palavras — nunca fala no Evangelho, não se conhecem palavras de José — de poucas palavras, mas de muitas ações. Tentai. Um homem que escuta a vontade de Deus e a põe em prática, sem hesitação. Eu rezo sempre a ele, por uma necessidade, por aquela outra, ele responde sempre.

E sabeis como lhe revelou Deus a sua vontade? Durante o sono, enquanto dormia. Este é um facto narrado nos Evangelhos, e tem também um significado simbólico: não se trata apenas de sonhos no sentido psicológico, mas de revelações do desígnio divino, que recebeu durante o sono e depois, ao acordar, imediatamente as realizava. Vemos isto quatro vezes: a primeira, quando tem de aceitar Maria como sua esposa; a segunda, quando Herodes ameaça a vida de Jesus e tem de fugir para o Egito; a terceira, quando é tempo de regressar à sua pátria; e a quarta, quando se trata de se estabelecer em Nazaré. O Senhor deu a José todas estas “indicações de percurso” em sonhos, através de um anjo. Mas não eram fantasias, alucinações, pelo contrário, eram mensagens muito próximas da realidade, destinadas a orientar o caminho da Sagrada Família. Eram a manifestação da Providência de Deus.

E sobre esta palavra, Providência, reflitamos por um momento. Como a história de José e Maria nos ensina, a família é o lugar privilegiado onde se vive a Providência de Deus. Por isso quero desejar também a vós, a cada uma das vossas famílias, precisamente isto: experimentar a mão paterna de Deus que guia os nossos passos ao longo dos caminhos, para o bem dos cônjuges, para o bem dos filhos, para o bem de toda a família. Os desígnios de Deus nem sempre são claros; muitas vezes levam tempo a manifestar-se, requerem paciência; sobretudo, requerem fé, muita confiança de que Deus quer apenas e sempre o bem, o maior bem para nós e para os nossos entes queridos. E assim devemos fazer como São José: abandonar-nos a Deus — é isto que significa o sono — para receber as suas mensagens.

Rezo por vós. Rezai também vós uns pelos outros, assim a comunidade de trabalho se consolida, torna-se mais unida. Agradeço-vos por terdes vindo a este encontro. Peço a São José e a Nossa Senhora que vos acompanhem no vosso caminho, e que Jesus, o Salvador, encha os vossos corações e os vossos lares de alegria e paz. A todos vós e às vossas famílias, desejo Feliz Natal. E agradeço-vos por todo o trabalho que realizais aqui: muito obrigado!