O Papa falou sobre a atitude de Maria dentro das paredes da casa de Nazaré

Livre de si porque humilde

Pope Francis waves to worshippers as he holds an Angelus prayer from the window of the apostolic ...
14 dezembro 2021

A atitude de Maria dentro das paredes da casa de Nazaré esteve no centro da reflexão proposta pelo Papa no Angelus recitado da janela do Palácio apostólico do Vaticano com os fiéis reunidos na praça de São Pedro ao meio-dia de quarta-feira 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição.

Prezados irmãos e irmãs
bom dia!

O Evangelho da Liturgia de hoje, Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, faz-nos entrar na sua casa de Nazaré, onde recebe o anúncio do anjo (cf. Lc 1, 26-38). Na própria casa, uma pessoa revela-se melhor do que em qualquer outro lugar. É precisamente naquela intimidade doméstica que o Evangelho nos dá um detalhe que revela a beleza do coração de Maria.

O anjo chama-lhe «cheia de graça». Se está cheia de graça, quer dizer que Nossa Senhora está vazia do mal, está sem pecado, Imaculada. Pois bem, ao ouvir esta saudação, Maria — diz o texto — «perturbou-se» (Lc 1, 29). Não só se surpreende, mas perturba-se. Receber grandes saudações, honras e elogios às vezes corre o risco de suscitar orgulho e presunção. Recordemos que Jesus não é terno com quem vai à procura das saudações nas praças, da adulação, da visibilidade (cf. Lc 20, 46). Maria, ao contrário, não se exalta, mas perturba-se; em vez de sentir prazer, fica estupefacta. A saudação do anjo parece-lhe maior do que Ela. Porquê? Porque se sente pequena dentro, e esta pequenez, esta humildade, atrai o olhar de Deus.

Assim, dentro das paredes da casa de Nazaré vemos um traço maravilhoso. Como é o coração de Maria? Tendo recebido o maior elogio, perturba-se porque sente dirigido a Ela o que não atribuía a si mesma. Com efeito, Maria não se atribui prerrogativas, não reivindica algo, não atribui nada ao seu mérito. Não se envaidece, não se exalta. Pois na sua humildade sabe que recebe tudo de Deus. Ela está, portanto, livre de si mesma, totalmente voltada para Deus e para os outros. Maria Imaculada não tem olhos para si. Eis a verdadeira humildade: não ter olhos para si, mas para Deus e para os outros.

Recordemos que esta perfeição de Maria, cheia de graça, é declarada pelo anjo dentro das paredes da sua casa: não na praça principal de Nazaré, mas ali, no escondimento, na maior humildade. Naquela casinha em Nazaré palpitava o maior coração que qualquer criatura já teve. Caros irmãos e irmãs, é uma notícia extraordinária para nós! Pois nos diz que o Senhor, para fazer maravilhas, não precisa de grandes meios nem das nossas excelsas capacidades, mas da nossa humildade, do nosso olhar aberto para Ele e aberto também para os outros. Com esse anúncio, dentro das pobres paredes de uma pequena casa, Deus mudou a história. Também hoje, quer fazer grandes coisas connosco, na nossa vida diária: na família, no trabalho, nos nossos ambientes quotidianos. É ali, mais do que nos grandes acontecimentos da história, que apraz à graça de Deus agir. Mas, pergunto-me, acreditamos nisto? Ou pensamos que a santidade é uma utopia, algo para os especialistas, uma ilusão piedosa, incompatível com a vida comum?

Peçamos a Nossa Senhora uma graça: que nos liberte da ideia enganadora de que o Evangelho é uma coisa e a vida é outra; que acenda em nós o entusiasmo para o ideal de santidade, que não é uma questão de santos nem de santinhos, mas de viver cada dia o que nos acontece, humildes e jubilosos, como Nossa Senhora, livres de nós mesmos, com os olhos voltados para Deus e para o próximo que encontrarmos. Por favor, não desanimemos: o Senhor deu a todos nós um bom pano para tecer a santidade na nossa vida quotidiana! E quando somos assaltados pela dúvida de não sermos bem-sucedidos, ou pela tristeza de sermos inadequados, deixemo-nos fitar pelos “olhos misericordiosos” de Nossa Senhora, pois ninguém que tenha pedido a sua ajuda jamais foi abandonado!

No final da prece mariana o Pontífice recordou a recente viagem a Chipre e à Grécia, e falou do encerramento do Ano dedicado a São José e do Jubileu lauretano, e por fim saudou os presentes.

Caros irmãos e irmãs!

Há dois dias regressei da viagem a Chipre e à Grécia. Dou graças ao Senhor por esta peregrinação; agradeço a todos vós a oração que me acompanhou, e às populações daqueles dois amados países, com as suas autoridades civis e religiosas, o afeto e a gentileza com que me acolheram. A todos repito: obrigado!

Chipre é uma pérola no Mediterrâneo, uma pérola de rara beleza que, no entanto, tem impressa a ferida do arame farpado, a dor de um muro que a divide. Em Chipre senti-me em família; encontrei irmãos e irmãs em todos. Conservo no coração cada encontro, especialmente a Missa no estádio de Nicósia. Fiquei emocionado com o meu querido Irmão ortodoxo Chrysostomos, quando me falou da Igreja Mãe: como cristãos seguimos caminhos diferentes, mas somos filhos da Igreja de Jesus, que é Mãe e nos acompanha, nos protege, nos faz ir em frente, todos irmãos. Os meus votos para Chipre é que seja sempre um laboratório de fraternidade, onde o encontro prevaleça sobre o desencontro, onde se acolhe o irmão, sobretudo quando é pobre, descartado, emigrado. Repito que, diante da história, perante os rostos daqueles que emigram, não podemos permanecer em silêncio, não podemos olhar para o outro lado.

Em Chipre, como em Lesbos, pude ver este sofrimento nos olhos: por favor, olhemos nos olhos as pessoas descartadas que encontramos, deixemo-nos provocar pelos rostos das crianças, filhos de migrantes desesperados. Deixemos que o sofrimento deles escave dentro de nós para reagirmos à nossa indiferença; olhemos para os seus rostos, para despertarmos do sono do hábito!

Penso também com gratidão na Grécia. Também lá recebi um acolhimento fraterno. Em Atenas senti-me imerso na grandeza da história, na memória da Europa: humanismo, democracia, sabedoria, fé. Também ali vivi a mística do conjunto: no encontro com os meus irmãos Bispos e com a comunidade católica, na Missa festiva celebrada no dia do Senhor, e depois com os jovens que vieram de tantos lugares, alguns de muito longe, para viver e partilhar a alegria do Evangelho. E mais uma vez experimentei o dom de abraçar o querido arcebispo ortodoxo Ieronymos: primeiro acolheu-me em sua casa e no dia seguinte veio visitar-me. Conservo no coração esta fraternidade. Confio à Santa Mãe de Deus as numerosas sementes de encontro e de esperança que o Senhor lançou nesta peregrinação. Peço-vos que continueis a rezar para que germinem na paciência e floresçam na confiança.

Hoje conclui-se o Ano dedicado a São José, Padroeiro da Igreja Universal. E depois de amanhã, 10 de dezembro, será encerrado o Jubileu de Loreto. Que a graça destes eventos continue a agir na nossa vida e na vida das nossas comunidades. Que a Virgem Maria e São José nos guiem no caminho da santidade!

E saúdo todos vós, romanos e peregrinos! Votos especiais para a Ação Católica Italiana: que seja um ginásio de sinodalidade nas dioceses e paróquias. Saúdo as crianças do Coro “Milleunavoce”, os fiéis de Saragoça e os jovens de Valdemoro, diocese de Getafe, Espanha — os espanhóis fazem-se ouvir, muito bem! Como também a delegação do Município de Rocca di Papa, com a tocha que acenderá a Estrela de Natal na Fortaleza da pequena cidade. Saúdo o grupo de mexicanos do Estado de Puebla.

E desejo boa festa a todos vós, especialmente a vós, jovens da Imaculada, é a vossa festa! Por favor não vos esqueçais de rezar por mim, como eu faço por vós. Bom almoço e até à vista!