Ao capítulo geral da Ordem franciscana secular

Com caridade criativa entre as novas formas de pobreza

 Com caridade criativa entre  as novas formas de pobreza  POR-047
23 novembro 2021

O convite a exercer a caridade «com a criatividade exigida pelas novas formas de pobreza» foi dirigido pelo Papa Francisco aos participantes no capítulo geral da Ordem franciscana secular, recebidos em audiência na manhã de 15 de novembro, na sala Clementina.

Estimados irmãos e irmãs
da Ordem Franciscana Secular
bom dia!

Saúdo-vos com as palavras que São Francisco dirigia a quantos encontrava ao longo do caminho: “O Senhor vos conceda a paz!”. É-me grato dar-vos as boas-vindas por ocasião do vosso Capítulo Geral. Neste contexto, gostaria de recordar alguns elementos próprios da vossa vocação e missão.

A vossa vocação nasce da chamada universal à santidade. O Catecismo da Igreja Católica recorda-nos que «os leigos participam do sacerdócio de Cristo: cada vez mais unidos a Ele, desenvolvem a graça do Batismo e da Confirmação em todas as dimensões da vida pessoal, familiar, social e eclesial, e assim realizam a vocação à santidade dirigida a todos os batizados» (n. 941).

Esta santidade, à qual sois chamados como Franciscanos seculares, como vos pedem as Constituições gerais e a Regra aprovada por São Paulo vi , requer a conversão do coração, atraído, conquistado e transformado por Aquele que é o único Santo, que é «o bem, todo o bem, o sumo bem» (São Francisco, Louvores a Deus Altíssimo). É isto que faz de vós verdadeiros “penitentes”. Na sua Carta a todos os fiéis, São Francisco apresenta o gesto de “fazer penitência” como caminho de conversão, caminho de vida cristã, compromisso para cumprir a vontade e as obras do Pai celeste. Depois, no Testamento, descreve o próprio processo de conversão com estas palavras, que bem conheceis: «O Senhor concedeu-me, a mim, frei Francisco, começar a fazer penitência deste modo: quando eu vivia no pecado, parecia-me demasiado amargo ver os leprosos; e foi o próprio Senhor que me conduziu entre eles e mostrei-lhes misericórdia. E quando me afastei deles, aquilo que me parecia amargo transformou-se em doçura de mente e de corpo. E depois permaneci um pouco e deixei o mundo» (1-3).

O processo de conversão é assim: Deus toma a iniciativa: “O Senhor concedeu-me começar a fazer penitência”. Deus orienta o penitente para lugares onde nunca teria desejado ir: “Deus conduziu-me entre eles, os leprosos”. O penitente responde, aceitando colocar-se ao serviço dos outros e usando misericórdia para com eles. E o resultado é a felicidade: “O que me parecia amargo transformou-se em doçura de mente e de corpo”. É este o caminho de conversão de Francisco.

Caros irmãos e irmãs, é isto que vos exorto a realizar na vossa vida e na vossa missão. E, por favor, não confundamos “fazer penitência” com “obras de penitência”. Estas — jejum, esmola e mortificação — são consequências da decisão de abrir o coração a Deus. Abrir o coração a Deus! Abrir o coração a Cristo, vivendo no meio de pessoas comuns, segundo o estilo de São Francisco. Assim como Francisco foi “espelho de Cristo”, que também vós possais tornar-vos “espelhos de Cristo”.

Sois homens e mulheres comprometidos a viver no mundo, de acordo com o carisma franciscano. Um carisma que consiste essencialmente em observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. A vocação do Franciscano secular é viver o Evangelho no mundo, segundo o estilo do Pobrezinho, sine glossa; assumir o Evangelho como “forma e regra” de vida. Exorto-vos a abraçar o Evangelho como se abraçásseis Jesus. Que o Evangelho, isto é o próprio Jesus, plasme a vossa vida. Assim, assumireis a pobreza, a menoridade e a simplicidade como vossos sinais distintivos perante todos.

Com esta vossa identidade franciscana e secular, fazeis parte da Igreja em saída. O vosso lugar preferido é estar no meio do povo, e ali, como leigos — celibatários ou casados — sacerdotes e bispos, cada qual segundo a própria vocação específica, dar testemunho de Jesus mediante uma vida simples, sem pretensões, sempre felizes de seguir Cristo pobre e crucificado, como fizeram São Francisco e muitos homens e mulheres da vossa Ordem. Encorajo também vós a ir às periferias, às periferias existenciais de hoje, e ali fazer ressoar a palavra do Evangelho. Não vos esqueçais dos pobres, que são a carne de Cristo: a eles sois chamados a anunciar a Boa Nova (cf. Lc 4, 18) como fez, entre outros, Santa Isabel da Hungria, vossa Padroeira. E assim como no passado as “fraternidades de penitentes” se distinguiam fundando hospitais, dispensários, refeitórios para os pobres e outras obras de caridade social concreta, também hoje o Espírito vos envia a exercer a mesma caridade com a criatividade exigida pelas novas formas de pobreza.

Que a vossa secularidade seja repleta de proximidade, compaixão e ternura. E que possais ser homens e mulheres de esperança, comprometidos em vivê-la e também em “organizá-la”, traduzindo-a nas situações concretas de cada dia, nos relacionamentos humanos, no compromisso social e político, alimentando a esperança no amanhã, aliviando a dor de hoje.

E tudo isto, prezados irmãos e irmãs, sois chamados a vivê-lo em fraternidade, sentindo-vos parte da grande família franciscana. Neste sentido, recordo-vos o desejo de Francisco, de que toda a família se mantenha unida, certamente no respeito pela diversidade e autonomia dos vários componentes e também de cada membro. Mas sempre numa recíproca comunhão vital, para sonhar juntos com um mundo em que todos sejam e se sintam irmãos, e trabalhando em conjunto para o construir (cf. Enc. Fratelli tutti, 8): homens e mulheres que lutam pela justiça e trabalham por uma ecologia integral, colaborando em projetos missionários e tornando-vos pacificadores e testemunhas das bem-aventuranças.

Assim começamos com o caminho da conversão, e depois todas estas propostas de fecundidade, que vêm do coração unido ao Senhor e amante da pobreza. São Francisco e todos os Santos e Santas da família franciscana vos acompanhem no vosso caminho. O Senhor vos abençoe e Nossa Senhora, “Virgem que se fez Igreja”, vos ampare! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!