Mensagem aos hindus na festa de Deepavali

Juntos para levar a luz da vida em tempos de desespero

09 novembro 2021

«Cristãos e hindus: levemos juntos a luz à vida das pessoas em tempos de desespero», é o tema da mensagem enviada a 29 de outubro, pelo pontifício Conselho para o diálogo inter-religioso para a festa de Deepavali ( “fila de candeeiros de óleo”) que, simbolicamente baseada numa mitologia antiga, representa a vitória da verdade sobre a mentira, da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte, do bem sobre o mal. Neste ano de 2021, a festa será celebrada por muitos hindus a 4 de novembro, mas na realidade dura três dias, marcando o início de um novo ano, reconciliação familiar, especialmente entre irmãos e irmãs, e a adoração a Deus. A seguir, o texto assinado pelo cardeal presidente Miguel Ángel Ayuso Guixot e pelo secretário monsenhor Indunil Janakaratne Kodithuwakku Kankanamalage.

Caros amigos hindus!

O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso apresenta-vos as suas mais calorosas saudações por ocasião de Deepavali, que este ano se celebra a 4 de novembro. Que esta festa, embora no meio da ansiedade e incerteza da pandemia, com as crises planetárias que são sua consequência, traga alívio às vossas vidas, lares e comunidades com a esperança de um futuro melhor!

Além das cicatrizes, ainda frescas na nossa mente, causadas pela primeira e segunda vaga da pandemia, que arrancou a vida e a vitalidade das pessoas, em todos nós, de uma forma ou de outra a vários níveis, existe um sentimento de resignação, desespero e impotência perante a devastação no mundo causada por diversos fatores, que vão desde o terrorismo à degradação ecológica. A consequência não é apenas que as pessoas estão assustadas, mas também que o mal-estar e o desespero aumentam. É neste contexto que — dando continuidade à nossa querida tradição — queremos partilhar convosco algumas reflexões sobre como nós cristãos e hindus podemos levar uma luz de esperança à vida das pessoas em tempos tão difíceis.

Se no meio das nuvens escuras da atual pandemia, que causou incalculáveis sofrimentos e traumas às pessoas, houve sinais luminosos de solidariedade e fraternidade, temos a oportunidade de mostrar que podemos estar “juntos” para superar todas as crises com determinação e amor, até as aparentemente insolúveis. A força da solidariedade demonstrada para aliviar o sofrimento e ajudar os necessitados, ainda mais com caráter e responsabilidade inter-religiosos, manifesta a luz da esperança e frisa a resposta que os membros de todas as tradições religiosas são convidados a oferecer em tempos de desespero e escuridão. Levar luz à vida das pessoas juntamente com a solidariedade inter-religiosa também confirma a utilidade e o grande recurso que as tradições religiosas representam para a sociedade.

Uma crescente consciência da necessidade de estar com os outros e de recíproca pertença no atual período de pandemia exige que procuremos cada vez mais formas de levar a luz da esperança onde existe discórdia e divisão, destruição e devastação, privação e desumanização. Só crescendo na consciência mútua de que somos todos parte uns dos outros, que somos irmãos e irmãs uns dos outros (cf. Papa Francisco, Encíclica Fratelli tutti. Sobre a fraternidade e amizade social, 3 de outubro de 2020) e de que partilhamos uma responsabilidade mútua uns pelos outros e juntos pelo planeta, nossa “casa comum”, podemos procurar libertar-nos de todo o tipo de desespero. Mais ainda, através da interdependência e da ação solidária com os outros, sairemos melhor de qualquer crise. Até problemas globais urgentes que ameaçam perturbar a harmonia entre a natureza e as pessoas e a coexistência harmoniosa dos povos, como as mudanças climáticas, o fundamentalismo religioso, o terrorismo, o hipernacionalismo e a xenofobia podem ser eficazmente resolvidos, pois são problemas que dizem respeito a todos nós.

Em tempos de crise, dado que as tradições religiosas — depositárias de séculos de sabedoria — têm o poder de elevar os nossos espíritos abalados, têm também a capacidade de ajudar indivíduos e comunidades a orientar a bússola da própria vida na esperança, olhando para além do seu desespero atual. Sobretudo, instruem e convidam os seus membros a oferecer ajuda, por todos os meios ao seu alcance, àqueles que são vítimas do desespero, levando-lhes esperança.

Por conseguinte, é tarefa dos líderes religiosos e das comunidades cultivar o espírito de fraternidade entre os seus seguidores para os ajudar a caminhar e cooperar com pessoas de outras tradições religiosas, especialmente em tempos de crise e calamidades de todo o tipo. Segundo o Papa Francisco, a fraternidade é «o verdadeiro remédio para a pandemia e os inúmeros males que nos atingiram» (Discurso aos membros do Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, 8 de fevereiro de 2021). Ser responsáveis de maneira inter-religiosa uns pelos outros é um meio seguro de fortalecer a solidariedade e a fraternidade entre nós e de levar alívio aos aflitos e esperança a quantos sofrem.

Como crentes enraizados nas nossas respetivas tradições religiosas e pessoas que partilham uma visão de responsabilidade comum para com a humanidade, especialmente os que sofrem, nós cristãos e hindus, individualmente e em conjunto, e unindo-nos a pessoas de outras tradições religiosas e de boa vontade, devemos esforçar-nos por alcançar quantos estão desesperados, para levar luz à sua vida!

Desejamos a todos vós um feliz Deepavali!