Apelo do Pontífice durante a missa no Cemitério militar francês de Roma no dia de finados

Detenham-se os fabricantes de armas

 Detenham-se os fabricantes de armas  POR-044
03 novembro 2021

«“Tu que estás a caminho, detém o passo e pensa nos teus passos, no último passo”. As guerras matam, não resolvem nada. Paremos e percorramos o caminho da paz»: eis as palavras que o Papa Francisco escreveu com o seu próprio punho no livro dos visitantes do Cemitério militar francês, no bairro romano de Monte Mário, onde foi na manhã de terça-feira, 2 de novembro, dia dedicado à comemoração de todos os defuntos. Ao longo do percurso, o Pontífice parou para saudar um grupo de pessoas diante do Instituto internacional de Teologia pastoral da saúde “Camillianum”, instituição da Ordem dos ministros dos enfermos — “Camilianos”. Sucessivamente, no cemitério, Francisco presidiu à santa missa. Antes da celebração, o Pontífice colocou rosas brancas nalguns túmulos, recolhendo-se em oração diante de uma sepultura, onde foi enterrada uma pessoa da qual não se conhece o nome. Em seguida, antes de chegar ao altar para a celebração eucarística, saudou um grupo de crianças acompanhadas das respetivas famílias. Publicamos a seguir a homilia que o Santo Padre improvisou.

Vem-me à mente uma inscrição, à porta de um pequeno cemitério no norte: «Tu que passas, pensa nos teus passos, e dos teus passos, pensa no último passo».

Tu que passas. A vida é um caminho, todos nós estamos a caminho. Todos nós, se quisermos fazer algo na vida, estamos a caminho. Não se trata de um passeio, nem sequer de um labirinto, não, é caminho. No caminho, passamos diante de numerosos acontecimentos históricos, perante muitas situações difíceis. E também diante de cemitérios. O conselho deste cemitério é: «Tu que passas, detém o passo e pensa nos teus passos, no último passo». Todos teremos um último passo. Alguém pode dizer-me: «Padre, não sejas tão lutuoso, não sejas trágico». Mas é a verdade. O importante é que aquele último passo nos encontre a caminho, não andar por aí a passear; no caminho da vida, não num labirinto sem fim. Estar a caminho para que o último passo nos encontre a caminho. Este é o primeiro pensamento que gostaria de dizer e que me brota do coração.

O segundo pensamento são os túmulos. Estas pessoas — pessoas boas — morreram na guerra, morreram porque foram chamadas a defender a pátria, a defender valores, a defender ideais e, muitas outras vezes, a defender situações políticas tristes e lamentáveis. E são as vítimas, as vítimas da guerra, a qual devora os filhos da pátria. E penso em Anzio, em Redipuglia; penso em Piave, em 1914 — muitos ficaram lá — penso no litoral da Normandia: quarenta mil, durante aquele desembarque! Mas não importa, morreram...

Parei diante de uma sepultura, ali: “Inconnu. Mort pour la France. 1944”. Nem sequer o nome. No coração de Deus está o nome de todos nós, mas esta é a tragédia da guerra. Estou certo de que todos aqueles que se foram de boa vontade, chamados pela pátria para a defender, estão com o Senhor. Mas será que nós, que estamos a caminho, lutamos o suficiente para que não haja guerras? Para que as economias dos países não sejam fortificadas pela indústria do armamento? Hoje o sermão deveria servir para fitar as sepulturas: “Morto pela França”; algumas têm o nome, outras não. Mas estas sepulturas são uma mensagem de paz: “Parai, irmãos e irmãs, parai! Parai, fabricantes de armas, parai!”.

Deixo-vos estes dois pensamentos. “Tu que passas, pensa, dos teus passos, no último passo”: que seja em paz, em paz de coração, tudo em paz. O segundo pensamento: estas sepulturas que falam, gritam, gritam por si mesmas, gritam: “Paz!”.

Que o Senhor nos ajude a semear e conservar estes dois pensamentos no nosso coração!