A Cop26 ouça o clamor da Terra e dos pobres

 A Cop26 ouça o clamor  da Terra e dos pobres  POR-044
03 novembro 2021

«O clamor da Terra e o clamor dos pobres sejam ouvidos» pela conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (Cop26), a fim de que «possa dar respostas eficazes que ofereçam esperança concreta às gerações futuras». Eis os votos do Papa Francisco no final do Angelus de domingo, 31 de outubro, dia em que foi inaugurado o encontro de Glasgow. Antes da recitação da prece mariana, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, com os fiéis presentes na praça de São Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho dominical, meditando sobre o trecho de Marcos 12, 28.

Prezados irmãos e irmãs
bom dia!

Na liturgia de hoje, o Evangelho fala de um escriba que se aproxima de Jesus e lhe pergunta: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» (Mc 12, 28). Jesus responde citando a Escritura e afirma que o primeiro mandamento é amar a Deus; deste, depois, por consequência natural, deriva o segundo: amar o próximo como a si mesmo (cf. vv. 29-31). Ao ouvir esta resposta, o escriba não só a reconhece como certa, mas ao fazê-lo, ao reconhecê-la como certa, repete quase as mesmas palavras ditas por Jesus: «Mestre, disseste bem e segundo a verdade, que amá-lo com todo o coração, com toda a compreensão e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios» (vv. 32-33).

Podemos perguntar-nos: por que, ao dar o seu consentimento, o escriba sente a necessidade de repetir as mesmas palavras de Jesus? Esta repetição parece ainda mais surpreendente, se pensarmos que se trata do Evangelho de Marcos, que tem um estilo muito conciso. Então, que sentido tem esta repetição? Esta repetição é um ensinamento para todos nós que ouvimos. Pois a Palavra do Senhor não pode ser recebida como qualquer outra notícia de atualidade. A Palavra do Senhor deve ser repetida, assimilada, preservada. A tradição monástica, dos monges, usa um termo audaz, mas muito concreto. Diz: a Palavra de Deus deve ser “ruminada”. “Ruminar” a Palavra de Deus. Podemos dizer que é tão nutritiva que deve chegar a todos os âmbitos da vida: abranger, como diz Jesus hoje, todo o coração, toda a alma, toda a mente, toda a força (cf. v. 30). A Palavra de Deus deve ressoar, ecoar, reverberar dentro de nós. Quando há este eco interior que se repete, significa que o Senhor habita o coração. E diz-nos, como àquele bom escriba do Evangelho: «Não estás longe do Reino de Deus» (v. 34).

Amados irmãos e irmãs, o Senhor não procura comentadores habilidosos das Escrituras, mas corações dóceis que, aceitando a sua Palavra, se deixam mudar interiormente. Por isso é tão importante familiarizar com o Evangelho, tê-lo sempre à mão — até um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa — para o ler e reler, para nos apaixonarmos por ele. Quando o fazemos, Jesus, Palavra do Pai, entra no nosso coração, torna-se próximo de nós e n’Ele damos fruto. Tomemos o Evangelho de hoje como exemplo: não basta lê-lo e compreender que devemos amar Deus e o próximo. É necessário que este mandamento, que é o “grande mandamento”, ressoe dentro de nós, seja assimilado, se torne a voz da nossa consciência. Então não permanece letra morta, na gaveta do coração, pois o Espírito Santo faz germinar em nós a semente dessa Palavra. E a Palavra de Deus age, está sempre em movimento, está viva e é eficaz (cf. Hb 4, 12). Assim, cada um de nós pode tornar-se uma “tradução” viva, diferente e original. Não uma repetição, mas uma “tradução” viva, diferente e original, da única Palavra de amor que Deus nos dá. Vemos isto na vida dos santos, por exemplo: nenhum é igual a outro, são todos diferentes, mas todos com a mesma Palavra de Deus.

Hoje, então, sigamos o exemplo deste escriba. Repitamos as palavras de Jesus, façamo-las ressoar em nós: “Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças, e ao próximo como a mim mesmo”. E perguntemo-nos: será que este mandamento guia realmente a minha vida? Reflete-se este mandamento no meu dia a dia? Esta noite far-nos-á bem, antes de irmos dormir, examinar a nossa consciência sobre esta Palavra, para ver se hoje amamos o Senhor e se praticamos um pouco de bem àqueles que encontramos. Que cada encontro seja para dar um pouco de bem, um pouco de amor, que provém desta Palavra. Que a Virgem Maria, em quem a Palavra de Deus se fez carne, nos ensine a acolher no coração as palavras vivas do Evangelho.

No final do Angelus, o Papa recordou as inundações que atingiram o Vietname e a Sicília, assim como o drama que continua a viver a população do Haiti; em seguida, mencionou a beatificação ocorrida em Tortosa, de quatro mártires da guerra civil espanhola e, lançando um apelo urgente à Cop26 de Glasgow, convidou os fiéis a visitar a exposição “Laudato si'”, de um jovem fotógrafo do Bangladesh, organizada na praça de São Pedro. Concluindo, saudou os vários grupos presentes.

Estimados irmãos e irmãs!

Em várias partes do Vietname, as prolongadas chuvas fortes das últimas semanas provocaram vastas inundações, com milhares de pessoas evacuadas. As minhas orações e pensamentos vão para as muitas famílias que sofrem, juntamente com o meu encorajamento a quantos, autoridades do país e Igreja local, estão a trabalhar para fazer face à emergência. E também estou próximo das populações da Sicília atingidas pelo mau tempo.

Penso também no povo do Haiti, que vive em condições extremas de vida. Peço aos líderes das nações que apoiem este país, e não o deixem sozinho. E vós, quando voltardes para casa, procurai notícias sobre o Haiti, e rezai, rezai muito. Vi no programa “À Sua Imagem”, o testemunho daquele missionário camiliano no Haiti, Padre Massimo Miraglio, as coisas que ele nos disse... quanto sofrimento, quanta dor há nesta terra, e quanto abandono. Não os abandonemos!

Ontem em Tortosa, Espanha, foram beatificados Francesco Sojo López, Millán Garde Serrano, Manuel Galcerá Videllet e Aquilino Pastor Cambero, presbíteros da Fraternidade dos Sacerdotes Operários Diocesanos do Coração de Jesus, todos mortos em ódio à fé. Pastores zelosos e generosos, permaneceram fiéis ao seu ministério mesmo correndo risco de vida durante a perseguição religiosa da década de 1930. Que o seu testemunho seja um modelo especialmente para os sacerdotes. Aplaudamos estes novos beatos!

Hoje em Glasgow, Escócia, tem início a Cimeira das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, Cop26. Rezemos para que o grito da Terra e o grito dos pobres seja ouvido; para que este encontro proporcione respostas eficazes que ofereçam esperança concreta às gerações futuras. Neste contexto, é inaugurada hoje na praça de São Pedro a exposição fotográfica “Laudato si’”, de um jovem fotógrafo do Bangladesh. Ide vê-la!

Saúdo todos vós, fiéis de Roma e peregrinos de vários países, especialmente os que vieram da Costa Rica. Saúdo os grupos de Reggio Emilia e Cosenza; os jovens da Profissão de Fé de Bareggio, Canegrate e San Giorgio su Legnano; assim como a Associação Serra Internacional Itália, a quem agradeço o empenho a favor das vocações sacerdotais, e os jovens da Imaculada.

Desejo bom domingo a todos vós. E por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!