Nunca mais lágrimas de dor e de morte em Myanmar

 Nunca mais lágrimas de dor  e de morte em Myanmar  POR-040
05 outubro 2021

Para a «querida terra de Myanmar» o Papa Francisco invocou mais uma vez «o dom da paz». Fê-lo no final do Angelus de domingo 3 de outubro, na praça de São Pedro, expressando a esperança de que «as mãos daqueles que lá vivem já não tenham que enxugar lágrimas de dor e morte, mas sejam capazes de se unir para superar dificuldades e trabalhar juntos pela construção da paz». Precedentemente, comentando o trecho do Evangelho da liturgia dominical (Mc 10, 2-16), o Pontífice recordou que Deus está «nos pequeninos, nos necessitados», em particular nos «doentes, humilhados, prisioneiros, imigrantes, encarcerados».

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

No Evangelho da Liturgia de hoje, vemos uma reação bastante insólita de Jesus: indigna-se. E o mais surpreendente é que a sua indignação não é causada pelos fariseus que o põem à prova com perguntas sobre a liceidade do divórcio, mas pelos seus discípulos que, para o protegerem da multidão, repreendem algumas crianças que são levadas a Jesus. Por outras palavras, o Senhor não se indigna com quantos discutem com Ele, mas com aqueles que, a fim de o aliviar do cansaço, afastam as crianças. Porquê? É uma boa pergunta: por que faz isto o Senhor?

Recordemos — era o Evangelho de há dois domingos — que Jesus, ao fazer o gesto de abraçar uma criança, identificou-se com os pequeninos: ensinou que são precisamente os pequeninos, ou seja, aqueles que dependem dos outros, que estão em necessidade e não podem retribuir, que devem ser servidos em primeiro lugar (cf. Mc 9, 35-37). Quem procura Deus, encontra-o neles, nos pequeninos, nos necessitados: necessitados não só de bens, mas de cuidados e conforto, como os doentes, os humilhados, os prisioneiros, os imigrantes e os encarcerados. Ele está ali: nos mais pequeninos. Eis porque Jesus se indigna: cada afronta feita a um pequenino, a um pobre, a uma criança, a um indefeso, é feita a Ele.

Hoje o Senhor retoma este ensinamento e completa-o. De facto, acrescenta: «Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criancinha, não entrará nele» (Mc 10, 15). Eis a novidade: o discípulo deve não só servir os mais pequeninos, mas também reconhecer-se como pequeno. E cada um de nós, reconhecemo-nos a nós mesmos pequenos perante Deus? Pensemos nisto, ajudar-nos-á. Reconhecermo-nos pequenos, necessitados de salvação, é indispensável para acolher o Senhor. É o primeiro passo para nos abrirmos a Ele. No entanto, esquecemo-nos frequentemente disto. Na prosperidade, no bem-estar, temos a ilusão de sermos autossuficientes, de bastarmos a nós próprios, de não precisarmos de Deus. Irmãos e irmãs, isto é um engano, pois cada um de nós é um ser necessitado, um pequenino. Devemos procurar a nossa própria pequenez e reconhecê-la. E nisto encontraremos Jesus.

Na vida, reconhecer-se pequeno é um ponto de partida para se tornar grande. Se pensarmos nisto, crescemos não tanto com base nos sucessos e nas coisas que temos, mas sobretudo nos momentos de luta e fragilidade. Na necessidade, amadurecemos; abrimos o coração a Deus, aos outros, ao sentido da vida. Abrimos os olhos aos outros. Abrimos os olhos, quando somos pequenos, para o verdadeiro sentido da vida. Quando nos sentimos pequenos face a um problema, pequenos diante de uma cruz, de uma doença, quando sentimos fadiga e solidão, não desanimemos. A máscara da superficialidade está a cair e a nossa fragilidade radical está a reemergir: é a nossa base comum, o nosso tesouro, porque com Deus as fragilidades não são obstáculos, mas oportunidades. Uma boa oração seria esta: “Senhor, olha para as minhas fragilidades...” e enumerá-las perante Ele. Esta é uma boa atitude diante de Deus.

Na verdade, é precisamente na fragilidade que descobrimos quanto Deus se preocupa connosco. O Evangelho de hoje diz que Jesus é muito terno com os pequeninos: «Depois, tomou-as nos braços, abençoou-as, impondo-lhes as mãos» (v. 16). As contrariedades, as situações que revelam a nossa fragilidade são ocasiões privilegiadas para experimentar o seu amor. Sabem bem isto quantos rezam com perseverança: em momentos de escuridão ou solidão, a ternura de Deus para connosco torna-se — por assim dizer — ainda mais presente. Quando somos pequeninos, sentimos ainda mais a ternura de Deus. Esta ternura dá-nos paz, esta ternura faz-nos crescer, porque Deus se aproxima de nós à sua maneira, que é proximidade, compaixão e ternura. E quando nos sentimos sem importância, isto é, pequenos, por qualquer razão, o Senhor aproxima-se, sentimo-lo mais próximo. Ele dá-nos paz, faz-nos crescer. Na oração, o Senhor abraça-nos, como um pai com o seu filho. Assim, tornamo-nos grandes: não na ilusória pretensão da nossa autossuficiência — isto não faz grande ninguém — mas na força de recolocar toda a esperança no Pai. Precisamente como fazem os pequeninos, eles fazem assim.

Peçamos hoje à Virgem Maria uma grande graça, a da pequenez: sermos crianças que confiam no Pai, certos de que Ele não deixa de cuidar de nós.

No final da oração mariana, depois de recordar o grave episódio de violência ocorrido nos últimos dias numa prisão no Equador, o Papa lançou um apelo a favor da paz em Myanmar, em seguida recordou às duas beatificações no domingo em Catanzaro e os fiéis reunidos no santuário de Nossa Senhora do Rosário em Pompeia para a recitação da súplica à Virgem. Depois, ao saudar os grupos de fiéis presentes, referiu-se ao Dia da remoção das barreiras arquitetónicas, que foi celebrado na Itália, frisando que «todos podem dar uma mão para uma sociedade onde ninguém se sinta excluído»

Amados irmãos e irmãs!

Entristeceu-me muito o que aconteceu nos últimos dias na prisão de Guayaquil, Equador. Um terrível surto de violência entre reclusos pertencentes a bandos rivais deixou mais de uma centena de mortos e muitos feridos. Rezo por eles e pelas suas famílias. Deus nos ajude a curar as chagas do crime que escraviza os mais pobres. E ajude quantos trabalham todos os dias a fim de tornar a prisão mais humana.

Desejo mais uma vez implorar de Deus o dom da paz para a amada terra de Myanmar: para que as mãos daqueles que lá vivem já não tenham que enxugar lágrimas de dor e morte, mas sejam capazes de se unir para superar dificuldades e trabalhar juntos pela construção da paz.

Hoje, em Catanzaro, são beatificadas Maria Antonia Samà e Gaetana Tolomeo, duas mulheres forçadas à imobilidade física por toda a sua existência. Sustentadas pela graça divina, abraçaram a cruz da sua enfermidade, transformando a sua dor em louvor ao Senhor. O seu leito tornou-se um ponto de referência espiritual e um lugar de oração e de crescimento cristão para muitas pessoas que ali encontraram conforto e esperança. Um aplauso às novas Beatas!

Neste primeiro domingo de outubro, o pensamento dirige-se aos fiéis reunidos no Santuário de Pompeia para a recitação da Súplica à Virgem Maria. Neste mês, renovemos juntos o nosso compromisso de rezar o Santo Rosário.

Dirijo a minha saudação a vós, caros romanos e peregrinos! Em particular, os fiéis de Wépion, diocese de Namur, Bélgica; os jovens de Uzzano, na diocese de Pescia; e os jovens com deficiências que vieram de Modena, acompanhados pelas Pequenas Irmãs de Jesus Operário e por voluntários. A este respeito, hoje em Itália é o Dia da remoção das barreiras arquitetónicas: cada um pode dar uma mão para uma sociedade onde ninguém se sinta excluído. Obrigado pelo vosso trabalho.

Desejo a todos bom domingo. Também aos jovens da Imaculada! E por favor não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!