Aos bispos amigos do movimento dos Focolares

O sonho da fraternidade a audácia da unidade

 O sonho da fraternidade a audácia da unidade  POR-040
05 outubro 2021

O «sonho da fraternidade» e a «audácia da unidade»: foi este o duplo horizonte indicado por Francisco a um grupo de 181 prelados de 70 Igrejas cristãs que participaram no congresso dos bispos amigos do movimento dos Focolares, centrado no seguinte tema: «Dare to be one (Ousar ser um). O dom da unidade num mundo dividido». O Pontífice recebeu-os na manhã de 25 de setembro, na sala dos Papas, no final dos dois dias de trabalhos. Eis o texto do discurso do Papa, seguido em streaming também pelos outros participantes no encontro.

Prezados irmãos e irmãs!

Saúdo todos vós com afeto e agradeço-vos por terdes desejado este encontro, embora a maior parte de vós participe à distância. Mas estamos próximos, aliás, unidos no único Corpo e no único Espírito!

Saúdo o Cardeal Francis Xavier Kovithavanij, que não pôde vir devido à doença: oremos por uma rápida recuperação! E agradeço aos Bispos que apresentaram a experiência destes vossos encontros, iniciados há quarenta anos. Um caminho de amizade que tem uma raiz forte, uma raiz sólida. E gostaria de refletir sobre isto convosco.

A Obra de Maria, ou Movimento dos Focolares, sempre cultivou, através do carisma recebido da fundadora Chiara Lubich, o sentido e o serviço da unidade: unidade na Igreja, unidade entre todos os crentes, unidade no mundo inteiro, “em círculos concêntricos”. Isto faz-nos pensar na definição que o Concílio Vaticano ii deu da Igreja: «O sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Const. Lumen gentium, 1). No meio das dilacerações e destruições da guerra, o Espírito lançou no jovem coração de Chiara uma semente de fraternidade, uma semente de comunhão. Uma semente que daquele grupo de amigas, em Trento, se desenvolveu e cresceu, atraindo homens e mulheres de todas as línguas e nações com a força do amor de Deus, que cria unidade sem anular as diversidades, aliás, valorizando-as e harmonizando-as. Vem-me ao pensamento o que Basílio [de Cesareia] diz sobre o Espírito: «Ipse unitas est, ipse est harmonia».

É evidente o “parentesco” — por assim dizer — que há entre este carisma e o ministério dos bispos. Nós, bispos, estamos ao serviço do povo de Deus, a fim de que se edifique na unidade da fé, da esperança e da caridade. No coração do bispo, o Espírito Santo imprime a vontade do Senhor Jesus: que todos os cristãos sejam um só, para louvor e glória do Deus Trino, e para que o mundo creia em Jesus Cristo (cf. Jo 17, 21). Papa e bispos, estamos ao serviço não de uma unidade externa, de uma “uniformidade”, não, mas do mistério de comunhão que é a Igreja em Cristo e no Espírito Santo, a Igreja como Corpo vivo, como povo a caminho na história e, ao mesmo tempo, além da história. Povo enviado ao mundo para dar testemunho de Cristo, a fim de que Ele, Lumen gentium, Luz dos povos, possa atrair todos a si, com a força mansa e misericordiosa do seu Mistério pascal.

Caros irmãos e irmãs, podemos dizer que este é o “sonho” de Deus. É seu desígnio reconciliar e harmonizar tudo e todos em Cristo (cf. Ef 1, 10; Cl 1, 20). Este é também o “sonho” da fraternidade, ao qual dediquei a Encíclica Fratelli tutti. Perante as “sombras de um mundo fechado”, onde tantos sonhos de unidade “se fragmentam”, onde falta “um projeto para todos” e a globalização navega “sem uma rota comum”, onde o flagelo da pandemia corre o risco de exacerbar as desigualdades, o Espírito chama-nos a “ter a audácia — a parrésia — de ser um só”, como diz o título do vosso encontro. Ousar a unidade! Partindo da consciência de que a unidade é dom — é a outra parte do título.

A coragem da unidade é-nos testemunhada sobretudo pelos santos: há alguns dias celebramos São Cornélio, Papa, e São Cipriano, bispo. Precisamente a este último devemos a maravilhosa definição da Igreja como «povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (De Orat. Dom. 23: pl 4, 553). Mas pensemos também em tantas testemunhas dos nossos tempos, pastores e leigos, que tiveram “a audácia da unidade”, pagando pessoalmente um preço às vezes muito elevado. Pois a unidade que Jesus Cristo nos deu e continua a dar não é unanimidade, não é o acordo custe o que custar. Obedece a um critério fundamental, que é o respeito pela pessoa, o respeito pelo rosto do outro, especialmente do pobre, do pequenino, do excluído.

Estimados irmãos e irmãs, agradeço-vos mais uma vez este encontro. Acima de tudo, agradeço-vos o compromisso com que percorreis este caminho de amizade — por favor: sempre aberto, nunca exclusivo — para crescer no serviço à comunhão. Continuai a sorrir, isto faz parte do vosso carisma. Rezo por vós e pelas vossas comunidades. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos ampare! E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.

Que o Pai, o Filho e o Espírito Santo abençoem todos nós. Amém!