«Todos aqueles que trabalham pela reconciliação na Península coreana continuem, com renovado compromisso, a ser bons artífices da paz»: são estes os votos do Papa Francisco — «encorajando todos a um diálogo respeitoso e construtivo para um futuro cada vez mais luminoso» — numa mensagem enviada à comunidade coreana de Roma que, na tarde de 21 de agosto, se reuniu na basílica de São Pedro para celebrar o bicentenário do nascimento do primeiro sacerdote católico daquele país asiático: Santo André Kim Taegon, que padeceu o martírio em 1846 e foi canonizado por João Paulo ii em 1984, em Seul.
O rito em língua coreana, concelebrado no altar da Cátedra por cerca de trinta presbíteros, na presença de aproximadamente setenta religiosas e leigos, foi presidido pelo arcebispo Lazarus You Heung-sik, nomeado prefeito da Congregação para o clero pelo Papa Francisco a 11 de junho passado.
Dirigindo-se aos «fiéis da amada Coreia do Sul», o Pontífice recorda o santo sacerdote como «uma exemplar testemunha de fé heroica e um incansável apóstolo da evangelização em tempos difíceis, marcados por perseguições e sofrimentos para o povo» coreano. André Kim Taegon, continua a mensagem, «com os seus Companheiros, demonstrou com esperança jubilosa que o bem prevalece sempre, porque o amor de Deus triunfa sobre o ódio». Além disso, observa Francisco, atualizando a sua reflexão, «até hoje, diante de tantas manifestações do mal que deturpam a bonita face do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é necessário voltar a descobrir a importância da missão de cada batizado, que em toda a parte é chamado a ser agente de paz e de esperança, disposto, como o Bom Samaritano, a inclinar-se sobre as feridas de quantos aspiram ao amor, à ajuda, ou simplesmente a um olhar fraternal». A este propósito, o Papa aproveita a «ocasião para agradecer de coração a toda a comunidade eclesial coreana a grande generosidade em apoiar a campanha de vacinação anticovid-19 a favor dos países mais pobres. «A vossa sensibilidade e atenção aos membros mais fracos do Corpo de Cristo, realça Francisco, encoraja a colocar-se ao serviço do próximo e, ao mesmo tempo, representa um vigoroso convite a um maior compromisso na causa dos últimos».
Por fim, os votos de reconciliação para a Nação coreana: «Como eu disse na encíclica Fratelli tutti», conclui, citando o n. 232, «nunca está terminada a construção da paz social num país, mas é uma tarefa que não dá tréguas e exige o compromisso de todos».
Também na homilia, o arcebispo prefeito se referiu à pandemia e à encíclica de Bergoglio. O prelado coreano explicou que a «fraternidade evangélica é remédio para curar um mundo doente de indiferença e para superar a crise causada pela pandemia. Mas é também remédio diante da dor do panorama mundial: do terrível tremor de terra no Haiti, à dolorosa situação no Afeganistão, até em Myanmar».
Comentando as leituras propostas pela liturgia (Ez 34, 11-26; Jo 10, 11-16), o celebrante reconstruiu a vicissitude biográfica de Santo André Kim, em cuja «família nasceram também dois santos, dois beatos e seis mártires, ao longo de quatro gerações»; uma «família particularmente abençoada pelo Senhor — observou — e muito rara até na história da Igreja universal».
Ele, acrescentou o arcebispo, «através da sua breve vida terrena de apenas 25 anos e 26 dias, indicou o caminho que os homens são chamados a percorrer; com efeito, não obstante o ambiente social, em que predominava o sistema hierárquico de castas do confucionismo, o nosso santo sacerdote foi um homem cuja vida refletia plenamente a própria fé».