Juan Antonio Guerrero Alves, prefeito da Secretaria para a economia, explicou o balanço da Santa Sé

O ano de 2020 foi difícil mas correu melhor que o previsto

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03 agosto 2021

Um ano difícil que obrigou os Dicastérios do Vaticano a reduzir as despesas. A fim de apoiar as suas atividades ao serviço da missão do Papa, usou-se menos o fundo do Óbolo de São Pedro do que no passado, e foi dada maior ajuda às Igrejas dos países mais atingidos pela pandemia. Foi o que emergiu do balanço consolidado da Santa Sé que o jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves, prefeito da Secretaria para a economia (Spe), apresentou numa entrevista concedida a Andrea Tornielli, diretor editorial do Dicastério para a comunicação.

Para 2020, marcado pela Covid-19, o religioso evidenciou que o resultado foi até «levemente mais positivo do que o melhor dos cenários supostos» após o surto da pandemia. «A boa notícia — disse — é que, graças aos esforços feitos, os resultados estão muito próximos dos de um ano normal». De facto, explicou, «o défice normal foi inferior em 14,4 milhões de euros em relação a 2019: 64,8 milhões de euros em 2020, contra os 79,2 milhões de euros» no ano anterior.

No entanto, observou, «o retorno dos investimentos financeiros foi inferior de 51,8 milhões de euros e o resultado extraordinário foi também inferior de 17,8 milhões de euros». Isto significa que «o défice do ano passado foi de 11,1 milhões de euros e o deste ano de 66,3 milhões de euros». Mas aqui estamos apenas a falar do balanço da Santa Sé. Há também o do Governatorato, do Ior e de muitas outras entidades, «incluindo hospitais, fundações, o Fundo de Pensões do Vaticano, o Fundo de Saúde, etc., cujas obrigações e riscos dizem respeito à Santa Sé... Se juntássemos todas as entidades — afirmou — o quadro seria um pouco pior», dado que «as entidades da Santa Sé não têm fins lucrativos» e «muitas tendem a ser deficitárias porque prestam serviços que não são totalmente financiados».

Questionado sobre os aspetos positivos encontrados, Guerrero elogiou os Dicastérios que «agiram responsavelmente», reduzindo as despesas. Com efeito, embora tenham «aparentemente diminuído pouco» — de 318 milhões para 314,7 milhões, ou seja, apenas 3,3 milhões — na realidade «se eliminarmos os encargos financeiros, que este ano foram muito elevados devido à alteração das taxas de câmbio», eles diminuíram «de quase 26 milhões de euros». E teriam sido ainda menores se não tivessem havido 6,7 milhões em despesas extraordinárias ligadas à Covid, mais 3,5 milhões incluídos nas despesas ordinárias». Por esta razão, o prefeito da Spe considera «um bonito gesto o facto de alguns Dicastérios ligados às Igrejas que mais necessitam de ajuda, além de reduzirem as suas despesas, terem aumentado as suas contribuições para estas Igrejas para as necessidades causadas» pela pandemia, «por vezes diminuindo o seu património como no caso do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral».

Em seguida, falando sobre o reduzido recurso ao Óbolo de São Pedro, o jesuíta explicou que, embora tenham sido recolhidos 44 milhões de euros, foram doados 50 milhões para a missão do Santo Padre em 2020, além de 12 milhões de desembolsos diretos para projetos específicos em vários países. Assim, o Óbolo «gastou 18 milhões de euros a mais do que recolheu, recorrendo o seu património anterior». Deve também considerar-se que «as receitas totais diminuíram de 58,5 milhões de euros» (principalmente devido à diminuição de visitantes e como resultado da situação económica geral), enquanto os donativos, tanto aqueles com finalidade específica como os provenientes de dioceses de todo o mundo, permaneceram praticamente inalterados, passando de 55,8 milhões em 2019 para 56,2 milhões em 2020.

A este respeito, o prefeito considera que «a pandemia ajudou os Dicastérios a perceber as suas fraquezas, a identificar áreas de melhoria e a tomar medidas positivas no caminho da reforma». Guerrero admitiu: «Vimos a debilidade dos processos decisórios», mas, acrescentou, «isto fez com que os organismos responsáveis pelos assuntos económicos trabalhassem em conjunto de forma mais coordenada», também em vista de um «serviço informático para centralizar os dados», em fase de realização. Evidentemente, continuou, «é verdade que os projetos com um objetivo específico financiados por vários doadores (33 milhões de euros) e a contribuição das dioceses para a Santa Sé (23 milhões de euros), são muito semelhantes a 2019. Mas também se deve dizer que a coleta do Óbolo, que até agora não foi incluída no balanço da Santa Sé, diminuiu de 23% entre 2015 e 2019 e, no primeiro ano de Covid, em 2020, de 18%. Em 2019, foram recolhidos 53,86 milhões e em 2020, 44». Contudo, disse, «espero que os passos que estão a ser dados na direção certa para uma melhor gestão, um controlo mais eficaz e uma maior transparência ajudem a restabelecer a credibilidade».

A entrevista também incluiu considerações sobre os acontecimentos judiciais ligados ao negócio imobiliário de Londres. «Este processo — disse Guerrero — fala-nos de um passado, um passado recente, mas de um passado. Pode haver sempre erros, mas hoje não vejo como os acontecimentos do passado se possam repetir... O facto de este processo estar a decorrer significa que alguns controlos internos funcionaram: as acusações vieram do interior do Vaticano. Desde há alguns anos, as medidas tomadas caminham na direção certa. A Aif, agora Asif, teve início já com Bento xvi; e o Papa Francisco deu-lhe continuidade... O recente motu proprio sobre questões económicas tornou a economia do Vaticano mais transparente» e «a Moneyval reconheceu os progressos realizados».

Neste sentido, o dado mais evidente no balanço foi a diminuição dos custos. «Em comparação com 2019, reduzimos todos os capítulos de despesas em diferentes graus. Reduzimos viagens e eventos, 6,2 milhões de euros, menos 75% do que no ano anterior. Outro item indevidamente chamado “comercial” foi reduzido de 4,9 milhões de euros. Muitas obras de manutenção foram adiadas, resultando numa redução de despesas de 4,6 milhões de euros. As nunciaturas também apertaram o cinto e reduziram as suas despesas de 4 milhões de euros, tal como os serviços de consultoria, que foram reduzidos de 1,6 milhões de euros, menos 19% do que no ano anterior. O único capítulo que não diminuiu foram os impostos, pagos praticamente da mesma forma que no ano passado: 18,8 milhões de euros. Além disso, acrescentou, «todos nós que prestamos serviço na Santa Sé e nas instituições afins fomos chamados a fazer sacrifícios, a reduzir ou não aumentar os salários... A fim de garantir a sustentabilidade económica, mantendo a decisão legítima do Papa de não despedir, e de gerar maior motivação entre o pessoal, seria útil fazer um plano com uma visão a longo prazo e ter uma política laboral com programas de desenvolvimento profissional e de formação», são os seus desejos.

Por fim, à pergunta se a mudança estabelecida pelo Pontífice que levou a gestão dos fundos da Secretaria de Estado para a Administração do património da Sé Apostólica (Apsa) foi concluída, a resposta foi clara: «Absolutamente sim». Os fundos são geridos pela Apsa e já fazem parte do balanço ordinário da Santa Sé. A venda do edifício de Londres está a ser preparada, está em curso uma ação legal contra aqueles que consideramos terem prejudicado os interesses da Santa Sé. Continuamos um processo que foi iniciado na Secretaria de Estado antes dos fundos serem transferidos para a gestão da Apsa. No próximo ano, todos estes fundos estarão no balanço e prestaremos contas das receitas e despesas do Óbolo. Estamos conscientes de que a rapidez com que uma lei é feita, a velocidade com que é implementada e a velocidade com que os costumes e as culturas mudam são muito diferentes. Às vezes é preciso inteligência, outras vezes é necessária vontade e outras é preciso paciência», concluiu Guerrero.