A Apsa publica pela primeira vez o balanço

Desafios em tempos de pandemia

27 julho 2021

Em 2020, as entradas foram inferiores a 51 milhões. Os investimentos financeiros foram de 1.778 milhões. A contribuição para as necessidades da Cúria romana foi reduzida de 41 para 20 milhões: um resultado positivo, considerando as graves consequências da pandemia. Pela primeira vez desde a sua criação em 1967, a Apsa publica o seu balanço. O documento refere-se ao ano de 2020 e a decisão de o publicar, explica o presidente, D. Nunzio Galantino, decorre da “esperança” de aumentar a confiança na ação da Igreja, bem como do desejo de transformar o dicastério criado por Paulo VI de «estrutura que oferece principalmente serviços on demand» para «realidade proativa» no modo de administrar o património que lhe foi confiado.

Esta não é a primeira vez que a Apsa elabora o próprio balanço e o apresenta aos órgãos de supervisão para aprovação: «Já aconteceu no passado», explicou D. Galantino numa entrevista concedida aos meios de comunicação do Vaticano. No entanto, é a primeira vez que é publicado: «É certamente um passo em frente em termos de transparência».

Deve-se recordar que para a Apsa, com um motu proprio datado de 28 de dezembro de 2020, o Papa Francisco transferiu fundos e imóveis da Secretaria de Estado. O chefe do departamento salienta que este processo não é apenas «uma transferência de material e competências», mas «uma nova cultura, não apenas administrativa, que nos deve pertencer gradualmente».

O relatório ilustra em pormenor como a Apsa trabalhou durante os meses marcados pela emergência sanitária. Também fornece informações úteis para refutar falsas narrativas sobre a dimensão e o valor na utilização dos bens da Santa Sé. Explica, por exemplo que, graças ao aluguer de propriedades de prestígio em Paris e Londres, foi possível conceder gratuitamente à Esmolaria apostólica um edifício histórico como o Palazzo Migliori, que hospeda os desabrigados acolhidos por Santo Egídio.

O documento também menciona a compra de uma propriedade perto do Arco do Triunfo em Paris: o vendedor, graças à mediação da sociedade do Vaticano Sopridex, destinou parte do lucro para a construção de uma igreja num bairro pobre parisiense. «O imóvel foi comprado a 22 de dezembro de 2017 para aumentar os rendimentos da Santa Sé e simultaneamente fornecer recursos para investir na construção de uma igreja numa banlieue e na formação dos jovens», explica D. Galantino. Preço do imóvel: 13,47 milhões de euros, com um rendimento bruto no valor de 2,87%.

O documento também esclarece os três âmbitos nos quais a Apsa opera. O primeiro é o imobiliário, com a gestão de 4.051 unidades em Itália (92% em Roma e província). Depois há a atividade de títulos: investimentos em títulos internacionais, consultoria, soluções financeiras, acesso ao mercado de capitais para a Cúria e outros organismos do Vaticano. O terceira âmito é identificada como «Outras atividades», os serviços — na sua maioria gratuitos — prestados pelos escritórios de compras, contabilidade, cobrança e pagamento e pela Peregrinatio ad Petri Sedem, que se ocupa da emissão de bilhetes e da organização logística das viagens para a Santa Sé.

O relatório foca amplamente as consequências socioeconómicas da pandemia que causaram «repercussões negativas» nos resultados da gestão. «As atividades que todos na Apsa estamos a pôr em prática vão além das graves consequências da crise pandémica», explica D. Galantino. «As nossas energias são orientadas para uma administração credível e fiável, bem como eficaz e eficiente, fazendo-nos guiar por processos de racionalização, transparência e profissionalismo também solicitados pelo Papa Francisco».

Nesta perspetiva, em março de 2020, no meio de uma emergência, o Dicastério decidiu ajudar as necessidades das atividades comerciais cancelando parte das rendas, entre 30% e 50% de acordo com a atividade. «Se falamos em termos técnicos e em termos de resultados, o que fizemos não nos coloca em território positivo», salienta o presidente, «mas para nós continua a ser um resultado positivo. No sentido em que fez surgir a vontade de ser e de nos comportar “como Igreja” até num momento de crise grave para todos».

No balanço também se apresenta o projeto «Sfitti a rendere», que prevê ações concretas para reduzir gradualmente o número de imóveis não alugados, através da restruturação de cem apartamentos, em vários lotes, e através do envolvimento de agências imobiliárias. Está previsto que as obras comecem em janeiro de 2022.

Sobre a questão dos impostos, a Apsa explica que para o ano fiscal de 2020 pagou 5,95 milhões de Imu e 2,88 milhões de Ires. Reitera o compromisso de investir em iniciativas relacionadas com o «impacto social» e informa que os investimentos geridos pelo ddicastério até 31 de dezembro de 2020 ascendem a 1.778 milhões com um rendimento de gestão de 1,53%. Isto confirma uma gestão prudente, até num contexto difícil.

Por fim, a Apsa está a proceder à elaboração de um plano trienal que lhe permitirá atingir objetivos de eficiência e eficácia, graças também ao empenho de cada empregado (atualmente 102), «num clima de transparência e colaboração». Tudo, afirma D. Galantino, na consciência de que «é dever da Apsa conservar, melhorar e fazer frutificar os bens que lhe são confiados».

Salvatore Cernuzio