Um duplo apelo em prol da paz e da concórdia na África do Sul e em Cuba, ambos abalados por violentos manifestações populares, foi lançado pelo Papa no final do Angelus de 18 de julho, recitado de novo — depois do intervalo da semana passada, da policlínica «Gemelli», a seguir a uma operação no cólon — da janela do seu gabinete particular no Palácio apostólico do Vaticano. Antes da oração mariana do meio-dia, o Pontífice tinha comentado o Evangelho dominical para os fiéis presentes na praça de São Pedro e para aqueles que o acompanhavam através dos meios de comunicação social.
Estimados irmãos e irmãs
bom dia!
A atitude de Jesus, que observamos no Evangelho da Liturgia de hoje (Mc 6, 30-34), ajuda-nos a compreender dois aspetos importantes da vida. O primeiro é o descanso. Aos Apóstolos, que regressam cansados da missão e narram com entusiasmo tudo o que fizeram, Jesus dirige com ternura um convite: «Vinde à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco» (v. 31). Convida ao descanso.
Agindo assim, Jesus oferece-nos um ensinamento precioso. Embora se regozije ao ver os seus discípulos felizes por causa dos prodígios da pregação, não se detém em elogios e perguntas, mas preocupa-se com o seu cansaço físico e interior. E por que faz isto? Porque quer alertá-los para um perigo, que está sempre à espreita também para nós: o perigo de nos deixarmos enredar pelo frenesi do fazer, de cairmos na armadilha do ativismo, onde o mais importante são os resultados que alcançamos, e de nos sentirmos protagonistas absolutos. Quantas vezes acontece até na Igreja: estamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e no centro voltamos a pôr-nos sempre nós. É por isso que convida os seus discípulos a descansar um pouco à parte, com Ele. Não se trata apenas de descanso físico, mas é também repouso do coração. Dado que não é suficiente “desligar a tomada”, é preciso descansar verdadeiramente. E como se faz isto? Para o fazer, é necessário voltar à essência das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho à correria das férias. Jesus não evitava as necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de mais nada, retirava-se em oração, em silêncio, na intimidade com o Pai. O seu terno convite — descansai um pouco — deveria acompanhar-nos: irmãos e irmãs, tenhamos cuidado com o eficientismo, acabemos com a corrida frenética que dita as nossas agendas. Aprendamos a parar, a desligar o telemóvel, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus.
No entanto, o Evangelho narra que Jesus e os discípulos não conseguem descansar como gostariam. As pessoas encontram-nos e afluem de todas as partes. Nessa altura, o Senhor compadece-se. Eis o segundo aspeto: a compaixão, que é o estilo de Deus. O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Quantas vezes no Evangelho, na Bíblia, encontramos esta frase: “Teve compaixão”. Comovido, Jesus dedica-se às pessoas e recomeça a ensinar (cf. vv. 33-34). Parece uma contradição, mas na realidade não é. Na verdade, só o coração que não se deixa levar pela pressa é capaz de se comover, ou seja, de não se deixar arrebatar por si mesmo e pelas coisas a fazer, e de se dar conta dos outros, das suas feridas, das suas necessidades. A compaixão nasce da contemplação. Se aprendermos a descansar verdadeiramente, seremos capazes de autêntica compaixão; se cultivarmos um olhar contemplativo, levaremos a cabo as nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; se permanecermos em contacto com o Senhor e não anestesiarmos a parte mais profunda de nós mesmos, as coisas a fazer não terão o poder de nos tirar o fôlego nem de nos devorar. Necessitamos — prestai atenção a isto — necessitamos de uma “ecologia do coração”, que se compõe de descanso, contemplação e compaixão. Aproveitemos a temporada de verão para isto!
E agora, rezemos a Nossa Senhora, que cultivou o silêncio, a oração e a contemplação, e que se compadece sempre ternamente de nós, seus filhos.
Depois da prece mariana do Angelus, o Papa manifestou a sua proximidade às populações alemã, belga e holandesa, atingidas por fortes inundações, e em seguida lançou um duplo apelo a favor das populações da África do Sul e de Cuba.
Caros irmãos e irmãs!
Exprimo a minha proximidade às populações da Alemanha, da Bélgica e dos Países Baixos que foram atingidas por inundações catastróficas. Que o Senhor acolha os defuntos e conforte os familiares. Que sustente os esforços de todos para socorrer quantos sofreram danos graves.
Nesta última semana, infelizmente, recebemos notícias de episódios de violência que agravaram a situação de muitos dos nossos irmãos da África do Sul, já atingidos por dificuldades económicas e de saúde, devido à pandemia. Com os Bispos do país, dirijo um apelo sincero a todos os responsáveis envolvidos, para que trabalhem em prol da paz e colaborem com as Autoridades para oferecer assistência aos necessitados. Que não seja esquecido o desejo que guiou o povo da África do Sul, de renascer na concórdia entre todos os seus filhos!
Estou próximo também do querido povo cubano nestes momentos difíceis, especialmente das famílias que mais sofrem. Rezo ao Senhor para que o ajude a construir em paz, diálogo e solidariedade uma sociedade cada vez mais justa e fraterna. Exorto todos os cubanos a confiar na materna proteção da Virgem Maria da Caridade do Cobre. Ela acompanhá-los-á neste caminho.
Saúdo os numerosos jovens presentes, especialmente os grupos do Oratório de Santo António de Nova Siri, da paróquia de Maria Rainha de todos os Santos em Parma, da paróquia do Sagrado Coração em Brescia e do Oratório Dom Bosco em San Severo. Caros jovens, bom caminho na senda do Evangelho! Saúdo as noviças das Filhas de Maria Auxiliadora, os fiéis da Unidade pastoral de Camisano e Campodoro na Diocese de Vicenza. Desejo saudar de coração os jovens CVS da Puglia, que nos acompanham pela televisão.
E desejo bom domingo a todos. Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!