De Moçambique, nação dilacerada pela guerra, o testemunho da missionária salesiana irmã Maria Luisa Spitti

Permanecer por eles

 Permanecer por eles  POR-026
30 junho 2021

«Com grande dor, a terrível guerra não poupa as crianças. Ouvem-se histórias angustiantes e indescritíveis do que sofrem nas regiões de guerra». Eis o que nos diz a irmã Maria Luisa Spitti, de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique, que conseguimos contactar através da web, apesar de algumas breves interrupções. «Também aqui, não sabemos como conseguirão sobreviver. Na Cáritas paroquial temos o banco de leite para os mais pequeninos. Mas sabemos que não podemos alcançar todos. São tantos e continuam a chegar; a Unicef insere estas famílias em grandes acampamentos; dizem que são noventa, e em cada acampamento há milhares! Já acompanhamos um deles, que se encontra na cidade com a distribuição de alimentos e medicamentos. Todos os dias chegam outros e alguns partem, em média quinhentas pessoas».

Eis, em síntese extrema, a dramática imagem de um Moçambique oprimido pela guerra, descrita pela missionária salesiana italiana, de origem piemontesa. «A guerra já dura há quatro anos, é cada vez mais dolorosa, difícil até de compreender, caótica, violenta. Não se sabe de onde atacam. E não é claro quem são. Chamam-lhes os “insurgentes” (aqueles que chegam, assustam e violentam)». A missionária salesiana é um rio de realismo cru, mas também de esperança: «Por enquanto, a nossa casa não está no centro das várias violências que tiveram lugar nestes quatro anos, mas é possível que isto aconteça. Assim dizem as pessoas que aqui chegam como primeira fronteira de salvação, tendo fugido das áreas atacadas. Na verdade, querem ir mais longe, dizem que até aqui não se sentem seguras. «Sentimo-nos seguras — afirma a irmã Maria Luisa — «não sei bem porquê, mas é assim». Na casa temos um pequeno grupo de jovens que estudam, e já decidimos com as famílias que elas irão para outras casas mais seguras. Mas nós, religiosas da comunidade, permaneceremos. A atividade de acompanhamento não é certamente grande, mas sabemos que os pobres, as pessoas que precisam de algo podem vir até nós, ser acolhidas, ouvidas e ajudadas na medida do possível».

Maria Luisa Spitti nasceu em 1948, está em Moçambique desde outubro de 1990 — atualmente com outras quatro religiosas, Candida, Albertina, Bendita e Nilza — trabalhando, de acordo com o carisma do fundador São João Bosco, na educação. «Na comunidade temos cerca de mil alunos distribuídos entre a escola média e secundária, de ciências e de letras. Isto permite-nos acolher sobretudo os alunos mais pobres», e depois «há a atividade paroquial com a animação de grupos de crianças, adolescentes, jovens e também adultos para a catequese, comprometidos na formação e atividades sociais como a Cáritas para o acompanhamento dos pobres e dos chamados deslocados (pessoas que fugiram da guerra)». Um contexto africano, o da população moçambicana, que pede a ajuda da comunidade internacional. A religiosa continua: «Neste momento tudo é necessário, mas dado que a situação é perigosa, não permite a entrada fácil de pessoas nem de coisas. Assim, a solução permanece apenas a de receber dinheiro e comprar o que é necessário no local. E deste modo podemos oferecer o pequeno-almoço, o almoço e o jantar a cerca de quinhentas pessoas. A nota positiva — acrescenta — é que as pessoas locais oferecem a própria disponibilidade para ajudar e servir. Muitas famílias põem as suas casas à disposição de outras famílias».

Ao extermínio de vidas humanas causado pela guerra acrescenta-se a morte causada pela fome: «Sim, é assim, apesar da ajuda. Um sacerdote que vai continuamente aos grandes acampamentos disse que alguém certamente morrerá de fome, mas fazemos de maneira que não sejam as crianças». A irmã Maria Luisa Spitti aproveitou a oportunidade para lançar uma mensagem e uma reflexão ao Ocidente: «Poderá o mundo de hoje compreender as atrocidades que a posse provoca? Esta guerra horrível, como muitas outras, é provocada para obter a posse das “riquezas” que foram descobertas (metais raros para as tecnologias). Outra palavra é ajudemos, sejamos corajosos, são nossos irmãos, ajudemo-los; todos juntos podemos fazer um grande bem a quantos sofrem inocentemente».

Roberto Cutaia