Na devoção popular

Amigo e intercessor
em tempos difíceis

Fuga para o Egito (Renato Guttuso, Sagrado Monte de Varese)
11 maio 2021

São José é considerado por muitos um fiel amigo e um intercessor. Igrejas, escolas, congregações religiosas, hospícios e hospitais têm o seu nome, testemunhando assim o seu vínculo especial com os fiéis.

Na devoção popular, o Santo ocupou sempre um lugar de destaque, como demonstram as «Ladainhas em honra de São José», aprovadas pela Santa Sé em 1909.

No dia 1 de maio de 2021 foram acrescentadas sete novas invocações ao corpus de 1909, realçando o papel de cuidado e de amparo que José sempre desempenhou. Com efeito ele, que cuidou e protegeu com amor a Virgem Maria e o Menino Jesus, continua a cuidar e a proteger amorosamente os mais vulneráveis no nosso mundo. É isto que as novas invocações evocam.

A primeira invocação, «Custos Redemptoris», tirada da Exortação Apostólica Redemptoris custos, recorda-nos que São José foi chamado por Deus a exercer «cuidado amoroso» por Maria e pelo Menino Jesus, e a ser «o primeiro guardião do mistério divino». E, se como «Guardião do Redentor» se dedicou à educação de Jesus Cristo, desde aquela época até hoje e sempre «conserva e protege o Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja» (Redemptoris custos, 1).

A segunda invocação, «Serve Christi», está intimamente ligada a isto. José «foi chamado por Deus para servir diretamente a pessoa e a missão de Jesus mediante o exercício da sua paternidade» (Redemptoris custos, 8). No discurso de 19 de março de 1966, São Paulo vi observa que a paternidade de José se manifestou concretamente «ao ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, no mistério da Encarnação e na missão redentora a ela vinculada; ao ter usado a autoridade legal que lhe cabia sobre a Sagrada Família, para lhe fazer total dom de si, da sua vida e do seu trabalho; ao ter dedicado a sua vocação humana ao amor doméstico, na oblação sobre-humana de si, do seu coração e de todas as capacidades, no amor posto ao serviço do Messias que germinou na sua casa» (Insegnamenti di Paolo vi, iv [1966] 110). E referem-se a este título tanto São João Paulo ii, na Redemptoris custos, como o Santo Padre Francisco na Patris corde.

A terceira invocação, «Minister salutis», concentra-se na sua vocação «de servir a pessoa e a missão de Jesus mediante o exercício da sua paternidade: precisamente deste modo ele coopera na plenitude dos tempos, no grande mistério da Redenção, e é verdadeiramente “ministro da salvação” (cf. São João Crisóstomo)», como se relata na Redemptoris custos, 8. Neste sentido, ele pode ser considerado um “servo da salvação”: «A grandeza de São José — explica o Santo Padre — consiste em ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, “colocou-se ao serviço de todo o desígnio de salvação”, como afirma ainda São João Crisóstomo» (Patris corde, 1).

As sucessivas quatro invocações, tiradas da Carta Apostólica Patris corde, do Santo Padre Francisco, lembram-nos que São José é o «Fulcimen in difficultatibus», um apoio nas dificuldades, bem como «Patrone exsulum, afflictorium, pauperum» (Patris corde, 5), o protetor dos exilados, dos aflitos e dos pobres. Durante a fuga para o Egito, recorda o Papa Francisco, «a Sagrada Família teve que enfrentar problemas concretos, como todas as outras famílias, como muitos dos nossos irmãos migrantes que ainda hoje arriscam a vida, forçados pelas desventuras e pela fome». Precisamente por esta razão, o Pontífice considera «que São José é realmente um padroeiro especial para todos aqueles que devem abandonar a própria terra por causa das guerras, do ódio, da perseguição e da miséria» (Patris corde, 5).

Neste tempo de pandemia durante o qual, entre os mais vulneráveis estão os exilados, os aflitos e os pobres, a intercessão de São José é uma autêntica fonte de consolação para quantos são atingidos pela perda de entes queridos, pelas dificuldades económicas, pela intensa solidão e isolamento, por inúmeras dificuldades. Sentimos a necessidade e devemos estar próximos de São José, que nos ensina dois passos fundamentais e vitais: ter um ouvido atento à Palavra de Deus, capaz de nos alcançar ou de vir até nós de modos surpreendentes; agir com coragem, seguindo a Palavra, mesmo ignorando — parcialmente — para onde nos conduz e a que preço.

Quando o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica Patris corde, o seu objetivo não era simplesmente “aumentar o amor” por São José, mas também dirigir o olhar para ele, a fim de «implorar a sua intercessão e imitar as suas virtudes e o seu dinamismo».

Hoje, com estas sete novas invocações acrescentadas às «Ladainhas em honra de São José», é-nos recordado mais uma vez que devemos recorrer a ele, nosso companheiro fiel em tempos difíceis, e implorar a sua intercessão pelos necessitados, especialmente pelos mais vulneráveis.

Mas não é suficiente rezar: somos também convidados a imitá-lo mediante uma vida de serviço e de solidariedade.

Enquanto “vamos a José” (Ite ad Ioseph), tendo nos lábios e no coração estas invocações acrescentadas, que o recordam como Guardião do Redentor, Servo de Cristo, Servo da salvação, Amparo nas dificuldades, Protetor dos exilados, Protetor dos aflitos e Protetor dos pobres, peçamos também a graça, como São José, de prestar atenção amorosa ao nosso Redentor e Senhor, e de servir generosamente os outros, especialmente os mais frágeis.

É disto que o mundo precisa, agora como nunca.

Donna Lynn Orsuto
Docente, Instituto de Espiritualidade, Pontifícia Universidade Gregoriana Director The Lay Centre at Foyer Unitas