Oração pelas vítimas da guerra

Não é lícito odiar e
matar em nome de Deus

 Não é lícito odiar e matar em nome de Deus  POR-010
09 março 2021

Publicamos a seguir as palavras introdutórias e o texto da prece que o Santo Padre pronunciou durante o encontro que teve lugar na manhã de 7 de março, em Mossul, na praça das quatro igrejas destruídas pelos ataques terroristas.

Antes de rezar por todas as vítimas da guerra nesta cidade de Mossul, no Iraque e em todo o Médio Oriente, gostaria de partilhar convosco estes pensamentos:

Se Deus é o Deus da vida — e é-o — a nós não é lícito matar os irmãos no seu nome.

Se Deus é o Deus da paz — e é-o — a nós não é lícito fazer a guerra em seu nome.

Se Deus é o Deus do amor — e é-o — a nós não é lícito odiar os irmãos.

Agora rezemos juntos por todas as vítimas da guerra, para que Deus Omnipotente lhes conceda vida eterna e paz sem fim, acolhendo-as no seu abraço amoroso. E rezemos também por todos nós para podermos, independentemente das respetivas filiações religiosas, viver em harmonia e paz, conscientes de que, aos olhos de Deus, todos somos irmãos e irmãs.

Oração

Deus Altíssimo, Senhor do tempo e da história, por amor criastes o mundo e nunca cessais de derramar as vossas bênçãos sobre as vossas criaturas. Com terno amor de Pai, acompanhais os vossos filhos e filhas, para além do oceano do sofrimento e da morte, para além das tentações da violência, da injustiça e do lucro iníquo.

Mas nós homens, ingratos pelos vossos dons e distraídos pelas nossas preocupações e ambições demasiado terrenas, muitas vezes esquecemos os vossos desígnios de paz e harmonia. Fechamos-nos em nós mesmos e nos nossos próprios interesses e, indiferentes a Vós e aos outros, fechamos as portas à paz. Assim se repetiu aquilo que o profeta Jonas ouviu dizer de Nínive: a maldade dos homens subiu até à presença de Deus (cf. Jn 1, 2). Não levantamos para o Céu mãos puras (cf. 1 Tm 2, 8), mas da terra subiu mais uma vez o grito do sangue inocente (cf. Gn 4, 10). Os habitantes de Nínive, na narração de Jonas, ouviram a voz do vosso profeta e encontraram salvação na conversão. Também nós, Senhor, ao mesmo tempo que vos confiamos as inúmeras vítimas do ódio do homem contra o homem, invocamos o vosso perdão e suplicamos a graça da conversão:

Kyrie eleison! Kyrie eleison! Kyrie eleison!

[Senhor, tende piedade de nós! Senhor, tende piedade…]

Um momento de silêncio

Senhor nosso Deus, nesta cidade, dois símbolos testemunham o perene desejo da humanidade se aproximar de Vós: a mesquita Al-Nouri com o seu minarete Al Hadba e a igreja de Nossa Senhora do Relógio. É um relógio que, há mais de cem anos, lembra aos transeuntes que a vida é breve, e o tempo precioso. Ensinai-nos a compreender que Vós nos confiastes o vosso desígnio de amor, paz e reconciliação, para o realizarmos no tempo, no breve arco da nossa vida terrena. Fazei-nos compreender que, só colocando-o em prática sem demora, será possível reconstruir esta cidade e este país e curar os corações dilacerados pela dor. Ajudai-nos a não gastar o tempo ao serviço dos nossos interesses egoístas, pessoais ou coletivos, mas ao serviço do vosso desígnio de amor. E quando nos transviarmos, concedei que possamos dar ouvidos à voz dos verdadeiros homens de Deus e arrepender-nos a tempo, para não nos arruinarmos ainda mais com destruição e morte.

Confiamos-vos as pessoas, cuja vida terrena foi abreviada pela mão violenta dos seus irmãos, e imploramos-vos também, para quantos fizeram mal aos seus irmãos e irmãs, que se arrependam, tocados pelo poder da vossa misericórdia:

Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.

Requiescant in pace. Amen!

[Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua.

Descansem em paz. Amém!]