Mensagem do arcebispo primaz de Braga para a Quaresma

Caridade em ação

Ferdinand Hodler, «O bom samaritano» (1875)
16 fevereiro 2021

Caridade funcional, que se concretize não só em obras de misericórdia mas também no cuidado, na atenção e na escuta do próximo; ainda mais, uma “cultura do cuidado”, a reconhecer como prioridade, a promover especialmente «neste mundo de fragmentação e indiferença». Na sua mensagem para a Quaresma, o arcebispo primaz de Braga, Jorge Ferreira da Costa Ortiga, pede que se ponha em prática a exortação de Jesus, contida na parábola do Bom Samaritano: «Vai e também tu faz o mesmo» (Lc 10, 37). O tempo da Quaresma deveria ser vivido para ver o que acarreta este “fazer o mesmo”: «Cada um deve questionar-se, as comunidades devem discernir sinodalmente o verdadeiro conteúdo desta parábola, os movimentos devem sentir a necessidade de uma nova vitalidade criativa. Cuidemos do próximo. E não limitemos este compromisso ao tempo da Quaresma. Páscoa significa dar testemunho de Cristo vivo, visível no amor com que cuidamos dos outros. Não desperdicemos esta oportunidade», ressalta o prelado.

Na mensagem — intitulada Cuidar do próximo — recorda-se que “caminhar juntos” (interpretação de uma Igreja sinodal, proposta pelo programa pastoral da arquidiocese de Braga) «não é uma simples atitude de alegre camaradagem» mas «tem pressupostos e resultados bem definidos». E a Quaresma insere-se no centro da conversão pastoral que age na vida das pessoas e das comunidades. É «um momento favorável»: assim, «consciente de que ninguém se salva sozinho», D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga sugere que cuidemos dos outros, «humanizando os cuidados que temos, ou deveríamos ter, uns pelos outros». Viver intensamente a caridade, voltando a descobrir Deus como amor, «dará à Igreja um rosto sinodal, na consciência de que somos um único corpo». A paternidade de Deus «leva-nos a trabalhar pela fraternidade universal», mas isto «requer que a solidariedade seja eficaz, imitando Cristo, o Bom Samaritano».

O arcebispo primaz cita o Papa Francisco que, na sua última mensagem para o Dia mundial da paz, fala precisamente de uma «cultura do cuidado como percurso de paz». A pandemia, observa o arcebispo de Braga, «não permite programas elaborados. Responsabilidades e incertezas parecem inibir-nos, reduzindo ao mínimo a vida comunitária. O Santo Padre afirma que, neste mar agitado, precisamos de uma bússola, constituída pela “gramática” do cuidado. Não podemos perder o norte e acreditamos que, no meio de todas as contingências, é possível dar serenidade e demonstrar que não podemos adiar a construção de um mundo mais humano».

A fim de que esta aventura quaresmal seja viável e eficaz, explica o prelado, «como condição prévia, devemos cuidar de nós próprios, deixando-nos guiar e modelar pela Palavra de Deus, meditando-a. Precisamos de uma visão positiva de quem somos e do que a vida nos reserva. É tempo de superar tantas queixas que não levam a nada. Apreciemos quem somos e trabalhemos para ser melhores». Mas a viagem interior deve conduzir ao mundo exterior, aos outros, à natureza: «O grande problema da sociedade moderna reside no paradigma de convivência social que adotamos». E convida a termos consciência das numerosas vulnerabilidades, fraquezas e pobrezas que nos rodeiam, para «cuidar dos doentes, dos idosos, dos desabrigados, das vítimas da solidão e do isolamento, das situações de violência doméstica, dos migrantes, dos desempregados». São suficientes «pequenas coisas», com grande humildade, «maravilhosos sinais de presença». (giovanni zavatta)